Em debate na Assembleia da República, o primeiro-ministro português disse que o país precisa menos de greves e mais de trabalho e de rigor.
Da Redação
Com agencias
Começou, nesta quinta-feira, a greve geral dos trabalhadores portugueses contra a política de austeridade econômica do governo. O balanço das centrais sindicais no começo da manhã é que a adesão dos trabalhadores, em especial do setor de transporte, nas principais cidades de Portugal é forte.
Conforme a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), de madrugada a adesão dos trabalhadores do metrô, dos trens e dos barcos em Lisboa chegou a 100%. Apenas no Porto, a Justiça determinou o funcionamento de serviços mínimos de transporte coletivo. Segundo a CGTP, os trabalhadores de outros serviços públicos, como limpeza urbana, portos, hospitais e bombeiros, também cruzaram os braços. A agência pública de notícias Lusa postou nota aos clientes informando que o serviço foi interrompido nesta manhã, às 8h45, “devido à greve geral”.
Os protestos que ocorrem no Brasil há cerca de duas semanas estimulam a mobilização de trabalhadores portugueses, segundo Armênio Carlos, secretário-geral da CGTP. A adesão foi mais forte entre funcionários das empresas estatais e dos serviços públicos do que entre os das empresas privadas. Os setores mais afetados foram transportes, saúde, finanças (atendimento ao contribuinte) e coleta de lixo.
Em entrevista à emissora pública Rádio e Televisão de Portugal (RTP), o dirigente da CGTP Libério Domingos disse que espera também forte adesão dos trabalhadores das empresas privadas. Segundo ele, a greve é contra o desemprego (taxa de 18%) que afeta toda a sociedade. “A greve é para defender o direito ao trabalho e o trabalho com direito”, acrescentou.
Em entrevista à Rádio Antena 1 (da RTP), o secretário-geral da central sindical União Geral dos Trabalhadores (UGT), Carlos Silva, explicou que a greve é contra o governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. “Esperamos que o governo, combatendo o autismo e uma certa inclinação para a surdez e a cegueira, possa ter condições de recuar e minorar o sofrimento que está a infligir ao povo, de uma forma que imaginávamos incalculável, 40 anos depois do 25 de abril”, disse, referindo-se à Revolução dos Cravos (1974).
No dia 26, em debate na Assembleia da República, o primeiro-ministro português disse que o país precisa menos de greves e mais de trabalho e de rigor”, mas reconheceu que o direito à greve é inalienável e quem adere não faz mais que exercer esse direito. “O governo nunca deixará de respeitar esse direito”.
Passos Coelho participou de reunião de líderes europeus para tratar do desemprego entre jovens no continente e do financiamento de pequenas e médias empresas. Durante o debate no Parlamento português, ele garantiu que “Portugal está mais próximo de fechar o plano de ajuda [externa] sem necessitar de um segundo resgate [empréstimo]”.
O programa de ajustamento financeiro exigido pelos credores do país (o Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, a chamada Troika) é apontado pelos trabalhadores portugueses como principal causa da austeridade. Em dois anos de mandato e de resgate externo, esta é a quarta greve geral que Pedro Passos Coelho enfrenta.
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