Da Redação
Com Lusa
O Presidente do Brasil declarou, em Lisboa, que Mário Soares foi “uma figura exponencial, mais do que portuguesa, internacional”, que “intensificou as relações” entre os dois países. “A conjugação histórica entre Brasil e Portugal, que vem naturalmente de há muito tempo, foi reforçada no período que o antigo primeiro-ministro, Presidente e deputado intensificou enormemente as relações com o nosso país”, afirmou Michel Temer, no final de um encontro com o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, no palácio de Belém.
“A relação entre Brasil e Portugal foi enaltecida ao longo do tempo pela figura exponencial, mais do que portuguesa, internacional, do grande português Mário Soares”, sublinhou.
Michel Temer estava acompanhado pelo antigo Presidente brasileiro José Sarney. O chefe de Estado brasileiro destacou as amizades entre Soares e Sarney e o antigo Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Além de Michel Temer, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu em Belém o Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e o rei Felipe VI de Espanha, que se deslocaram a Lisboa para as cerimônias fúnebres do antigo chefe de Estado Mário Soares.
O Presidente português recordou Mário Soares como um “singular humanista e construtor de portugalidade” e considerou que, como “um homem que fez história”, merecia ser homenageado num lugar como o Mosteiro dos Jerónimos. “Inspirador lugar este em que nos encontramos, gentes de várias raízes e destinos, unidas pelo essencial: evocar e homenagear um homem que fez história, sabendo que a fazia, mesmo quando tantos de nós nos recusávamos a reconhecê-lo”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado referiu que “aqui se fizeram mais de quinhentos anos de história” e que “cada pedra” fala das aventuras portuguesas, provações, sonhos e guerras. Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “nestes Jerónimos se convocam a história que estudou, antes de a fazer, a cultura que criou com talento e com deleite, e o ecumenismo que foi o corolário inevitável da sua inteligência e da sua liberdade”, bem como “o humanismo e a portugalidade” de Mário Soares.
Trajeto
Mário Soares morreu no sábado, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa. O Governo português decretou três dias de luto nacional, até quarta-feira.
O corpo do antigo Presidente da República esteve em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos entre as 13:10 de segunda-feira e as 11:00 do dia 10, depois de ter sido saudado por milhares de pessoas à passagem do cortejo fúnebre pelas principais ruas da capital com escolta a cavalo da GNR.
Às 13:00, a sessão solene evocativa de homenagem nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos, contou com intervenções da família, do Presidente da República, do presidente da Assembleia da República e do primeiro-ministro, através de um vídeo gravado durante a visita de Estado de António Costa à Índia. Algumas centenas de pessoas assistiram, em silêncio, através de um ecrã gigante instalado no exterior do Mosteiro dos Jerónimo, a solenidade.
Também uma multidão concentrou-se no Largo do Rato, em frente à sede do Partido Socialista, para aplaudir com gritos “Soares é fixe” a passagem da urna do antigo Presidente. O Largo do Rato foi o ponto do cortejo onde mais pessoas se concentraram para o ‘último adeus’ a Mário Soares. À passagem na sede nacional do Partido Socialista, muitas pessoas atiraram rosas para cima da urna.
O funeral realizou-se pelas 15:30, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, após passagem do cortejo pelo Palácio de Belém, Assembleia da República, Fundação Mário Soares e sede do PS, no Largo do Rato. Nem os passos dos militares que transportaram a urna se ouviram no meio do silêncio na alameda de entrada do Cemitério dos Prazeres. O silêncio foi quase absoluto, não fossem os “flashes” dos fotógrafos. Ouviu-se a marcha fúnebre, tocada, à porta do cemitério, pela banda do Exército. Ouviu-se uma salva de tiros de espingarda – 60. No Tejo, a essa hora, a corveta “Jacinto Cândido” disparou uma salva de 21 tiros.
A urna ficou junto à capela, decorada com uma foto gigante de Mário Soares e uma faixa preta com a frase “Unir os portugueses, servir Portugal”. Milhares de pessoas concentraram-se junto ao cemitério num último adeus a Mário Soares, havendo quem pedisse que o ex-Presidente da República desse o nome à atual avenida da Liberdade.
Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS. Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Econômica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985. Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.