Portugal decreta três dias de luto nacional após o pior dia do ano em incêndios no país

Incêndio Florestal em Vieira de Leiria. Foto Helio Madeiras

Mundo Lusíada
Com agencias

O governo português decretou luto nacional entre terça-feira à quinta-feira como forma de pesar e solidariedade pelas vítimas dos incêndios. “O Conselho de Ministros aprovou [dia 16], por via eletrônica, o decreto que declara luto nacional nos dias 17,18 e 19 de outubro como forma de pesar e solidariedade com toda a população nacional na sequência dos fogos florestais que atingiram vários pontos do país, provocando perda irreparável de vidas humanas”, lê-se no diploma.

Desde o ano 2000 já morreram pelo menos 200 pessoas em incêndios florestais em Portugal.
De acordo com o relatório da comissão técnica que analisou os fogos de junho deste ano na região Centro, incluindo as 64 pessoas que morreram no incêndio de Pedrógão Grande, entre 2000 e 2017 “registrou-se a perda de 165 vidas humanas como um resultado direto de incêndios florestais, das quais 112 civis e 53 operacionais combatentes”.

Segundo a RTP, o novo balanço da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) confirma 37 vítimas mortais e pelo menos sete desaparecidos. Há pelo menos 63 feridos, dos quais 16 encontram-se em estado grave, em diversos incêndios ocorridos no norte e centro do país desde domingo, 15 de outubro. As mortes foram registradas nos distritos de Viseu, Coimbra, Guarda e Castelo Branco. Cerca de 5 mil bombeiros estiveram envolvidos no combate ao fogo. Centenas de casas, “muitas de primeira habitação”, foram destruídas pelos incêndios na Pampilhosa da Serra, disse o presidente da Câmara.

Dezenas de povoações tiveram que ser evacuadas, e diversas estradas e linhas de trem tiveram que ser cortadas devido ao alastramento dos focos de incêndio. De acordo com informações do site Infraestruturas de Portugal (IP), pelo menos 13 estradas das regiões norte e centro do país estavam fechadas esta manhã.

O fogo de Pedrógão Grande (distrito de Leiria), em 17 de junho, causou 64 mortos e mais de 200 feridos. Este incêndio só foi extinto uma semana depois. Já em 2016, grandes incêndios varreram a ilha da Madeira, sobretudo o Funchal, em agosto, causando a morte a três civis.

Segundo a adjunta de operações nacional da ANPC Patrícia Gaspar afirmou que o último dia 15 “foi o pior dia do ano em matéria de incêndios”, tendo sido ultrapassados os 300 fogos florestais. “Já ultrapassamos os 303 incêndios desde a meia-noite”, afirmou Patrícia Gaspar, no ‘briefing’ das 17:30 aos jornalistas, sublinhando que estavam àquela hora “todos os meios disponíveis empenhados no combate aos incêndios”.

A responsável da ANPC afirmou ainda que, às 17:30, existiam 13 incêndios de importância elevada, destacando como mais graves os de Monção, o de Seia, o de Vale de Cambra, Lousã, Sertã e Arganil.

Autoridades

António Costa, primeiro-ministro português, decretou estado de calamidade pública em todos os distritos ao Norte do Rio Tejo. Além disso, Portugal acionou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o protocolo com Marrocos, relativos à utilização de meios aéreos para colaborar com o combate aos incêndios.

O comissário europeu de Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, Christos Stylianides, afirmou dia 16 em seu Twitter que o mecanismo europeu está pronto para ajudar. Declarou ainda compaixão profunda e solidariedade a Portugal e Espanha pelos incêndios florestais. “O Centro de Coordenação de Resposta de Emergência da União Europeia está monitorando de perto e em contato constante”.

Logo na sequencia, Stylianides anunciou que estão a caminho de Portugal aeronaves de combate a incêndios disponibilizadas pela Itália, numa resposta ao pedido de ajuda das autoridades portuguesas.

Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, manifestou em nota solidariedade às populações, aos autarcas e aos bombeiros, no combate aos fogos, e exprimiu pesar aos parentes das vítimas. Rebelo de Sousa e António Costa cancelaram suas agendas de compromissos hoje para acompanhar os desdobramentos da situação no país.

A notícia está nos jornais de todo o mundo. Vários países prestam apoio aos portugueses, também “os Estados Unidos reafirmam o seu incondicional apoio a Portugal e aos portugueses numa altura tão difícil como esta”, referiu a embaixada norte-americana em Lisboa, num breve comunicado enviado às redações.

A Turismo do Centro manifestou hoje “o mais sentido pesar pelas vítimas dos inclementes fogos que destruíram vidas humanas e animais e bens materiais na região”, salientando que o país está de luto.

Investigação

A Comissão Técnica Independente nomeada para analisar os incêndios rurais de junho na região Centro, em particular o fogo que deflagrou em Pedrógão Grande, entregou na quinta-feira no parlamento o seu relatório final.

O documento, que analisa incêndios em 11 concelhos dos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco ocorridos entre 17 e 24 de junho, refere que, apesar de o fogo de Pedrógão ter tido origem em descargas elétricas na rede de distribuição, um alerta precoce poderia ter evitado a maioria das 64 mortes registadas.

Além disso, acrescenta, “não foram mobilizados totalmente os meios disponíveis” no combate inicial e houve falhas no comando dos bombeiros.

A GNR fica, por outro lado, ilibada de direcionar carros para a Estrada Nacional 236-1, onde ocorreram cerca de metade das mortes.

O documento aponta falta de conhecimento técnico no sistema de defesa florestal e falta de preparação dos atuais sistemas de combate às chamas para as alterações climáticas, confirmando, por outro lado, falhas de comunicação do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP).

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou, na sequência da divulgação do relatório, que o Governo assumirá todas as responsabilidades políticas, se for caso disso.

 

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