Na primeira visita a Lisboa, Guterres fala sobre fragilidades para cumprir Agenda 2030

Da Redação
Com ONU News em Nova Iorque

Antonio Guterres. UN Photo/Mark Garten

O secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve em Lisboa, capital de Portugal, para sua primeira visita oficial ao país desde que assumiu o posto. Na sua primeira intervenção em português como chefe da ONU, durante a Conferência Tidewater sobre desenvolvimento, Guterres agradeceu aos organizadores pela oportunidade.

“Me é oferecida, pela primeira vez, em mais de seis meses a oportunidade de fazer uma intervenção na minha própria língua, o que naturalmente muito agradeço à organização. A Agenda 2030 está no centro das nossas preocupações. Eu gostaria menos de falar da Agenda 2030 e nos seus aspectos técnicos mas nas suas interligações com situação mundial no seu conjunto e em particular com as varias áreas da agenda das Nações Unidas seja na paz e segurança, no desenvolvimento inclusivo e sustentável e na ação humanitária seja na afirmação dos direitos humanos.”

O chefe das Nações Unidas falava na Conferência Tidewater, um evento promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico até terça-feira.

O representante chamou a atenção dos países para a relação da agenda com a paz, a segurança e o combate ao terrorismo e o impacto sobre o desenvolvimento. O discurso desatacou como as crises globais são afetadas pela vulnerabilidade.

“O desemprego é hoje não apenas uma tragédia em si mesma para os jovens, mas corresponde a uma das mais sérias ameaças a nossa segurança coletiva. Num estudo recente feito acerca dos combatentes estrangeiros que estão presentes em cenários como Iraque, como a Síria e outros países em crise verificou-se que o fator principal invocado pelos jovens nessas circunstâncias para se dedicarem a essas atividades era a falta de oportunidades no seu próprio país.”

Guterres destacou que combatentes vão de uma crise para a outra no pronunciamento onde citou as situações de Mali, da Nigéria, da Líbia, do Iraque do Afeganistão e Iémen”. Ele sublinhou que além do desemprego juvenil falta de uma “verdadeira oportunidade de gênero” dada pelos países.

Para Guterres, a fragilidade também aumenta com “mega tendências” como mudanças climáticas, urbanização acelerada, aumento da população, insegurança alimentar e outros que se “autoajudam e auto multiplicam” acentuando a vulnerabilidade.

“Não haverá Agenda 2030 com êxito se os Acordos de Paris não forem executados e se não forem executados de forma acrescida, em primeiro lugar e esse é um aspeto que me parece essencial. Em segundo lugar, não haverá êxito da Agenda 2030 se simultaneamente não conseguirmos ter uma discussão racional sobre movimentos de população, sobre mobilidade humana, sobre migrações e se não conseguirmos o debate sobre estas questões em termos decentes.”

O evento é um fórum para discussões estratégicas que envolve representantes de governos, bancos e agências bilaterais e multilaterais de auxílio.

À margem do evento Guterres se encontrou com o secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, e com o presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, Suma Chakrabarti, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, para abordar diversos temas mundiais como as situações políticas e humanitárias.

Refugiados

O secretário-geral das Nações Unidas afirmou que Portugal tem sido “um aliado permanente” na resposta à crise dos refugiados, apelando à comunidade internacional para “restabelecer a integridade do regime de proteção” aos que fogem de conflitos.

“Portugal tem sido um aliado permanente, defendendo, no quadro europeu, a plena assunção das responsabilidades da União Europeia e dos países europeus, tendo consciência que só num quadro de solidariedade europeia será possível dar uma adequada resposta a esta situação. Portugal tem sido impecável na expressão dessa solidariedade”, afirmou António Guterres.

O secretário-geral das Nações Unidas comentou que Portugal não é um dos países “na primeira linha em matéria de pressão”, mas “tem cumprido exemplarmente as suas funções e a legislação internacional de refugiados”. “Infelizmente, o mesmo não acontece em toda a parte, inclusivamente no quadro europeu”, referiu, no final de um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, no Palácio das Necessidades.

Guterres reiterou os seus apelos à comunidade internacional “para restabelecer a integridade do regime de proteção para os refugiados e para restabelecer as condições que permitam aos refugiados encontrar a proteção a que têm direito quando fogem de situações de conflito que são particularmente dramáticas, como as que infelizmente ocorrem neste momento no Médio Oriente e em vários pontos do continente africano”.

O líder das Nações Unidas alertou ainda que a resposta humanitária às situações de fome nas regiões do mundo mais atingidas tem sido insuficiente para “responder integralmente ao desafio”.

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