Manifestações em Lisboa na sequência da morte de imigrante decorreram de forma pacífica – PSP

Mundo Lusíada com Lusa

 

As duas manifestações promovidas em Lisboa na sequência da morte de Odair Moniz, imigrante caboverdiano baleado pela PSP na segunda-feira, na Amadora, decorreram neste sábado de forma pacífica e com civismo, indicou a polícia.

Em comunicado, a PSP afirma que “garantiu a segurança às manifestações”, realçando que as iniciativas promovidas – uma pelo movimento Vida Justa e outra pelo Chega – “decorreram de forma pacífica, em serenidade e com civismo”.

“Importa, assim, agradecer a todos os cidadãos que integraram estas manifestações, pelo seu elevado comportamento cívico e respeitador das orientações dos polícias de serviço”, acrescenta.

O movimento Vida Justa convocou, na quinta-feira, uma manifestação para reclamar justiça pela morte de Odair Moniz, tendo o presidente do Chega, André Ventura, convocado depois um contraprotesto para a mesma hora “em defesa da polícia”.

A manifestação do Vida Justa teve início pela tarde no Marquês de Pombal, e terminou na Praça dos Restauradores. Inicialmente deveria acabar na Assembleia da República, mas o movimento alterou o percurso para não se encontrar com a contramanifestação do Chega, que teve início na Praça do Município e terminou no parlamento.

Organizada pelo movimento Vida Justa, a iniciativa conseguiu reunir pessoas de diferentes culturas e etnias, que desfilaram cerca de uma hora e meia entre o Marquês de Pombal e a Praça dos Restauradores, num percurso marcado por gritos de protesto, sendo a principal palavra de ordem “justiça para o Odair”.

Empunhando bandeiras vermelhas do Vida Justa, bem como de Cabo Verde (país de origem de Odair Moniz), os manifestantes também gritaram “Violência policial, violência cultural”, “os bairros unidos jamais serão vencidos” e, em crioulo cabo-verdiano, “Nu sta junta, Nu sta forti [Nós estamos juntos, nós estamos fortes]”.

Na Praça dos Restauradores, várias pessoas depositaram flores no monumento onde estava uma fotografia de Odair Moniz, além de vários participantes na manifestação terem discursado.

Entre os cartazes empunhados pelos manifestantes, pode ler-se “Que a voz da revolta seja a voz da justiça”, “Abaixo a repressão policial, morte ao fascismo”, “Sem justiça, não há paz” ou “Parem de nos matar”.

Também no Porto, cerca de duas centenas de pessoas solidárias com Odair Moniz, concentraram-se à frente do Comando Metropolitano do Porto da PSP, onde foi colocado um perímetro de segurança com grades.

Funeral

Neste domingo, centenas de pessoas despediram-se no cemitério da Amadora de Odair Moniz. As cerimônias fúnebres começaram pelas 14:00 na igreja da Buraca, com a Celebração da Palavra, tendo no final, a entrada do caixão no carro funerário, sido marcada por gritos de dor, percetíveis à distância pelos jornalistas, a quem membros da família de Odair Moniz pediram para se manterem afastados.

Foi também pedido aos jornalistas para não se posicionarem em linha reta com a Igreja, presumivelmente para que não fossem captadas imagens diretas das pessoas que prestaras as últimas homenagens ao Odair Moniz.

O cortejo fúnebre seguiu depois para o cemitério da Amadora, tendo passado defronte da esquadra da PSP de Alfragide e pelo bairro do Zambujal onde Odair Moniz residia.

À chegada ao cemitério, eram dezenas de pessoas que aguardavam à exterior e no interior pela chegada do féretro.

Quer na igreja da Buraca quer no cemitério não era visível a presença de agentes da PSP.

Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, foi baleado na madrugada de segunda-feira, no Bairro Cova da Moura, também na Amadora, no distrito de Lisboa.

Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar responsabilidades, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias. A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.

Esta semana registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.

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