Itamaraty garante empenho na investigação do assalto ao Consulado de Portugal no Rio

Mundo Lusíada com Lusa

Na madrugada de sábado, dia 30, assaltantes armados invadiram a residência oficial do cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro, sede do consulado, e fizeram o diplomata e os seus familiares reféns.

No assalto “não houve nem exercício de violência, nem feridos, mas foram furtados vários bens pessoais do nosso cônsul-geral no Rio de Janeiro”, detalhou à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

Fontes oficiais revelaram ainda que Luis Gaspar da Silva e a sua família “estão bem” fisicamente, mas abalados pelo ocorrido. A Polícia Civil do Rio investiga o caso, que foi registrado no 10. DP em Botafogo.

Na manhã deste domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal confirmou contato do governo brasileiro sobre as conduções de investigação do caso.

“O Ministro Augusto Santos Silva recebeu telefonema do seu homólogo, Chanceler Carlos França, que lhe garantiu o máximo empenhamento das autoridades brasileiras na investigação do assalto à residência do Cônsul português no Rio de Janeiro” declarou a pasta pelas redes sociais.

“As relações luso-brasileiras são fortes e baseiam-se na profunda ligação entre os povos e na boa colaboração entre os governos” divulgou o MNE português.

“Naturalmente, agradeci este gesto que muito me sensibiliza e manifestei da minha parte, também, toda a certeza em que a segurança devida das missões diplomáticas, nos termos das Convenções Internacionais, é garantida”, afirmou o ministro português à Lusa, notando que o assalto foi “um incidente muito grave, mas um incidente isolado”.

“Ficamos de trabalhar em conjunto, as autoridades portuguesas e as autoridades brasileiras competentes, para proceder a uma avaliação de segurança e tomar as medidas que essa avaliação determinar”, avançou sublinhando que ficou muito sensibilizado com o gesto do ministro Carlos França. “Foi um gesto muito importante e pudemos acertar que faremos em conjunto uma avaliação para retirar as necessárias lições” do que se passou, sustentou o MNE.

O ministro já falou também com o cônsul no Rio. “Eu falei com o senhor cônsul-geral há coisa de meia hora e, portanto, posso confirmar que ele está bem e que houve infelizmente esse assalto e que o assalto foi à mão armada, por um grupo de homens, e o resultado disso há a lamentar o roubo de vários bens”, declarou ainda à Lusa o ministro Santos Silva.

Também o Presidente de Portugal falou no sábado à noite com o cônsul-geral português, segundo uma nota divulgada pela Presidência da República. “O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa inteirou-se da situação ocorrida com o cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro, Luís Gaspar da Silva, com quem falou ontem [sábado] à noite”, lê-se no comunicado.

Segundo testemunhas, os bandidos teriam invadido a casa ao lado do Consulado, e depois entrado no local pela mata, e teriam levado computadores, joias e outros bens.

Sem surpresa

A comunidade portuguesa no Rio de Janeiro está solidária com o cônsul, Luis Gaspar da Silva, e familiares, mas não ficou surpreendida com o assalto, disse à Lusa o conselheiro Flávio Martins.

“A comunidade portuguesa, pelo menos os que falaram comigo, está com o nosso cônsul-geral e com a sua família, mas não nos surpreende. Porque isso já é um pouco daquilo a que as pessoas estão sujeitas, infelizmente, no Brasil e, particularmente, no Rio de Janeiro. Claro que assusta e preocupa a qualquer um, mas não nos surpreende, porque sabemos que a maior parte da comunidade já deve ter passado por uma experiência idêntica, em casa, na rua ou no seu carro”, disse.

Flávio Martins, presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) e residente no Rio de Janeiro, lamentou o crime ocorrido no bairro de Botafogo.

“Todos estamos solidários e esperamos que isso não lhes cause um dano muito grande, no sentido psicológico, e que saibam que o Rio de Janeiro é uma cidade boa e acolhedora, apesar de ter todas essas questões que talvez existam em todas as grandes cidades, mas que no Rio de Janeiro acabam por acontecer mais vezes”, afirmou.

“Eu imagino, por exemplo, o choque que tudo isto pode ter sido para a nossa consulesa, que está há bem menos tempo aqui no Rio de Janeiro, e até para o próprio cônsul, apesar de já estar no Brasil há mais de meio ano. É um péssimo cartão de visita que se dá a essas pessoas. Contudo, é bem mais comum do que o que se possa imaginar”, revelou.

Apesar de não ter muitos detalhes do que aconteceu durante o assalto, Flávio Martins sabe que os assaltantes imobilizaram os seguranças e, consequentemente, conseguiram entrar na residência “e ficaram ali horas, à procura de objetos valiosos que pudessem levar”, “prenderam o cônsul e a família num quarto durante algum tempo, havendo, portanto, uma situação de tortura psicológica”, que “poderia ter terminado até pior”.

Mesmo reconhecendo várias qualidades à ‘cidade maravilhosa’, o conselheiro admite que o Rio de Janeiro padece de problemas estruturais, que se refletem no aumento do crime e da violência.

“O Rio de Janeiro é uma cidade imensa, com muitos problemas sociais, muitas assimetrias. (…) porque tem uma característica em que não há bairros com determinadas classes sociais, há uma mistura muito grande e ali a região de Botafogo, onde se encontra o Palácio de São Clemente [Consulado de Portugal], é exemplo disso. Ali há moradias de classe média alta e há também, nas encostas, inclusive nas traseiras do consulado, uma comunidade muito carente, que é a favela do Morro de Santa Marta”, detalhou.

Tendo isso em conta, o presidente do CCP não acredita na versão de que os assaltantes não saberiam que estavam a assaltar o consulado, conforme relataram testemunhas.

“Eu acho que eles sabiam muito bem onde estavam a entrar e, por saberem, talvez quisessem euros ou alguma coisa assim, até porque o câmbio está hoje muito favorável ao euro (um real brasileiro equivale a 6,51 euros) e, provavelmente tivesse sido um chamariz para os assaltantes”, indicou.

A situação causa alguma perplexidade, segundo Flávio Martins, até porque “a cerca de 100 metros” está uma das sedes da prefeitura do Rio de Janeiro, que é o Palácio de São Joaquim: “Se entraram no Consulado, poderiam ter entrado, inclusive, num dos Palácios da prefeitura, onde o prefeito atende”.

“É uma cidade com muita insegurança social ainda e, talvez, agravada por toda esta situação [pandemia de covid-19], porque a economia no Brasil também não anda boa e uma coisa pode repercutir na outra, o que não justifica [o crime], mas talvez nos faça entender um pouco disso tudo”, advogou Flávio Martins.

Entre os próximos 1 e 2 de novembro, o Consulado Geral de Portugal no Rio se encontra encerrado, em razão dos feriados no Brasil de Dia de Todos os Santos e Dia de Finados.

Arquivo: O cônsul Luis Gaspar, nas dependências do Consulado no Rio.

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