Instituto respondeu a primeiro-ministro sobre condições do tempo em Pedrógão Grande

Da Redação
Com Lusa

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) considera que a “dinâmica” gerada pela conjugação entre incêndio e instabilidade climatérica, no sábado, em Pedrógão Grande, gerou no terreno condições excepcionais para a propagação das chamas.

Na carta dirigida ao primeiro-ministro, António Costa, ao qual a agência Lusa teve acesso, o IPMA sustenta também que as suas previsões para a tarde de sábado, na região de Pedrógão Grande, estiveram dentro da margem de erro. Por outro lado, que os seus avisos feitos às populações seguiram as regras fixadas na relação com os serviços de proteção civil.

Estas posições estão assinadas pelo presidente do IPMA, Jorge Miguel Miranda, e surgem na sequência de um pedido de esclarecimento urgente do primeiro-ministro, feito na terça-feira, às previsões e às condições meteorológicas verificadas no sábado à tarde na zona de pinhal do distrito de Leiria, em particular no concelho de Pedrógão Grande.

Esta carta do presidente do IPMA foi já publicada no portal do Governo na Internet, tendo sido também enviada aos diferentes grupos parlamentares.

No que diz respeito às condições que determinaram situações no terreno de excepcional gravidade, o IPMA advoga que “foram o resultado da conjugação da dinâmica do próprio incêndio e dos efeitos da instabilidade atmosférica, gerando downburst, ou seja, vento de grande intensidade que se move verticalmente em direção ao solo, que após atingir o solo sopra de forma radial em todas as direções”.

“Este fenômeno é por vezes confundido com um tornado, e tem um grande impacto em caso de incêndio florestal por espalhar fragmentos em direções muito diversas”, salienta o presidente do IPMA na resposta a António Costa.

De acordo com as informações já recolhidas pelo IPMA, “o desencadeamento e/ou a propagação do incêndio poderá ter sido amplificado pela conjugação dos fatores descritos, e a importância excecionalmente elevada de efeitos locais relacionados com fenômenos de convecção atmosférica associados à umidade muito reduzida, e a dinâmica induzida pelo próprio incêndio”.

“Esta situação tão complexa e excecional está a ser objeto de um estudo aprofundado”, é referido na missiva de Jorge Miguel Miranda, numa alusão a uma comissão entretanto nomeada para apurar em profundidade o que se passou na região de Pedrógão Grande na tarde de sábado.

Em relação às previsões feitas pelo IPMA para a região de Pedrógão Grande para a tarde sábado, na carta dirigida a António Costa sustenta-se que “os valores previstos com quatro dias de antecedência se vieram a confirmar pelos valores medidos, com desvios reduzidos em termos de temperaturas máxima e mínima, umidade relativa e velocidade média do vento”.

Segundo os dados do IPMA, no caso da umidade relativa “existe uma variação um pouco mais significativa, se bem que os valores previstos no dia anterior, correspondendo à informação mais relevante, foram ligeiramente inferiores ao observado (14% em vez de 17%). Estas diferenças têm pouco significado físico”.

“No que diz respeito à velocidade do vento, existe uma variação mais significativa ao longo dos quatro dias anteriores, mas a previsão realizada com 24 horas de antecedência reproduz bem as observações (21 km/h em vez de 18 km/h). Neste sentido, o sistema de previsão meteorológico para as condições de superfície, funcionou de forma correta, dentro de margens de erro expectáveis, definindo o quadro sinóptico de tempo muito quente, com temperaturas máximas muito elevadas, próximas de 40ºC, temperaturas mínimas igualmente elevadas, umidade relativa muito baixa, vento fraco ou moderado nos locais elevados, e condições de instabilidade, com possibilidade de ocorrência de aguaceiros de trovoadas durante a tarde”.

Na carta de resposta enviada a António Costa, este instituto adianta, igualmente, que do mesmo modo se “confirma que os níveis de avisos emitidos estavam de acordo com as regras fixadas entre o IPMA e a ANPC (Autoridade Nacional de Proteção Civil)”.

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