Incêndios de outubro em Portugal foram os maiores da Europa

Incêndio Florestal em Vieira de Leiria. Foto Helio Madeiras

Da Redação
Com Lusa

Os incêndios de outubro de 2017, que provocaram 48 mortos, de acordo com a comissão técnica independente, foram os primeiros com tamanha grandeza ocorridos no outono na Europa, segundo relatório entregue na Assembleia da República.

De acordo com o relatório de 276 páginas, as ignições do dia 15 de outubro produziram sete manchas ardidas na região Centro, excedendo 10 mil hectares cada, “incluindo o maior incêndio de que há memória, com início em Vilarinho, Lousã, e área de 45.505 hectares”.

“Além da extraordinária dimensão, os mega-incêndios de 15 de outubro individualizam-se à escala europeia por serem os primeiros desta ordem de grandeza a ocorrer no outono”, acrescenta.

O relatório, feito a pedido do Governo e que abrange oito distritos das regiões Centro e Norte, destaca ainda que os fogos foram intensificados pelo furacão Ophelia, pese embora a previsão para esses dias já apontasse para perigo meteorológico de incêndio, classificado como extremo, num contexto que incluía ainda a velocidade do vento e o momento de severidade da seca sazonal.

“Estes fogos incidiram principalmente em floresta (78% da superfície queimada), predominando em geral o pinheiro-bravo, sendo que 42% da área afetada nunca havia ardido (desde 1975) e o fogo é historicamente infrequente na maior parte da restante, o que indicia elevada continuidade e carga de combustível”, refere o documento.

É também esclarecido que predominou o “fogo de copas”, especialmente em pinhais densos e baixos. Foram atingidas velocidades de propagação superiores a 03 quilómetros/hora (Km/h) em todos os casos estudados, por vezes acima de 06 km/h, “correspondendo típica e respetivamente a intensidades de frente de chama de 30.000 – 45 000 kW/m [quilowatt/metro] e 50 000 – 90 000 kW/m, três a nove vezes mais do que capacidade de extinção”.

A comissão técnica independente esclarece ainda que esta sequência de factos (mistura de vários fatores meteorológicos) constitui “o maior fenômeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16:00 do dia 15 de outubro e as 05:00 do dia 16 de outubro para o conjunto dos cinco mega-incêndios estudados”.

“Este movimento errático e acelerado por momentos pulsantes coincide com a ocorrência de vítimas mortais nos incêndios”, descreve.

De acordo com o relatório, apesar de ser “difícil encontrar um padrão explicativo para todos os casos”, as mortes registadas nos incêndios de junho (com destaque para Pedrógão Grande, com 66 mortes) e nos de outubro ocorreram em ambas as situações no momento em que “há uma mudança da velocidade de propagação do incêndio”.

Ou seja, ocorreram quando o fogo deixou de se comportar “de forma convencional” e passou a ter “comportamentos erráticos relacionados com o ‘downdraft’ [correntes de ar] e fases expansivas em diferentes direções”.

Nos incêndios de outubro, e de acordo com o relatório, a concentração ocorreu em diferentes períodos, “a partir das 17:00 do dia 15 de outubro e durante as primeiras horas do dia 16, à medida que os diferentes incêndios iam gerando o ‘downdraft’ da sua coluna”.

Segundo o relatório, o índice de risco utilizado atualmente, o RCM, “é um híbrido que não satisfaz os requisitos de gestão de fogos rurais”, pelo que, seguindo as boas práticas adotadas internacionalmente, se recomenda que este seja “abandonado e passem ser utilizadas as classes de Índice de Risco de Incêndio (FWI) na escala espacial apropriada”.

“Os valores de FWI previstos para dia 15 de outubro eram também excecionalmente elevados e bastante acima de FWI=38 que define a classe Extremo. Desta forma, propomos a definição de uma classe adicional de perigo meteorológico, eventualmente designada por Catastrófico ou Desastroso”, referem os peritos.

O documento conclui que falhou a capacidade de “previsão e programação” para “minimizar a extensão” do fogo na região Centro (onde ocorreram as mortes), perante as previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento.

Segundo o relatório, a Autoridade Nacional de Proteção Civil pediu um reforço de meios para combater estes incêndios devido às condições meteorológicas, mas não obteve “plena autorização a nível superior”, e a atuação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi “limitada” por falhas na rede de comunicações.

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