Mundo Lusíada
Com agencias
Para o futuro secretário-geral das Nações Unidas, uma das melhores formas de compreender o mundo atual é através da aceitação da diversidade.
A declaração foi dada por António Guterres numa entrevista à Rádio ONU logo após a sua eleição, por aclamação, na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Ele disse que se orgulha de ter aprendido isso em sua própria cultura.
O ex-primeiro-ministro de Portugal e ex-alto comissário da ONU para refugiados assumirá o cargo em 1º de janeiro de 2017 substituindo o atual líder da organização, Ban Ki-moon.
Guterres será também o primeiro secretário-geral de língua portuguesa em mais de 70 anos das Nações Unidas. Ao ser perguntado pela Rádio ONU como o fato de falar português poderia ajudar no seu próximo posto, António Guterres falou sobre o pluralismo português.
“Eu não tenho dúvidas nenhumas que se alguma coisa é verdadeira na história de Portugal, e há com certeza no passado colonialista português muitas questões negativas que têm que também ser assumidas. Mas se alguma coisa é verdadeira na história de Portugal é esta lógica de ser uma permanente encruzilhada de civilizações. É a miscigenação permanente em todas as partes do mundo e no próprio país”.
Segundo ele, essa miscigenação é vista no mundo atual. “Isso ajuda muito a compreender o mundo que é hoje em toda parte multicultural, multiétnico e multireligioso. E a compreender que as diferenças são enriquecedoras e a compreender que todos têm alguma coisa importante a dizer e que todos têm que ser ouvidos para que o mundo possa progredir de uma forma positiva”.
Guterres disse que, dessa forma, tem orgulho das raízes portuguesas. “Neste sentido, confesso que gosto muito de ser português. Tenho um grande orgulho nisso. E o mundo de língua portuguesa é um mundo de uma variedade extraordinária em todos os continentes e que tem dado contributos muito importantes à civilização universal.”
Questionado sobre vários conflitos na África, na Síria, no Iêmen, impasse no Conselho de Segurança em alguns temas, número recorde de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, o português respondeu que sua primeira medida como novo líder da ONU seria a estratégia.
“Esta estratégia passa por um impulso muito forte à diplomacia para a paz. Nós assistimos hoje, como disse, a uma multiplicação terrível de conflitos. Os velhos conflitos não terminam. E os conflitos estão ligados não só entre si como ao terrorismo internacional. E por isso é preciso… E o secretário-geral não pode resolver este problema sozinho. Não tem instrumentos de poder para o fazer. Mas é preciso pôr toda a sua capacidade de persuasão como um catalisador, como um construtor de pontes no sentido de levar a que aqueles Estados, que têm influência sobre a situação de conflitos que existem, compreendam que hoje as divisões que possam ter entre si signficam muito pouco face à unidade de interesses que tenham para restabelecer uma segurança coletiva da humanidade. E que esta unidade de interesse os deve levar a colaborar ativamente para pôr fim aos conflitos trágicos a que estamos a assistir”.
Equipe
O eleito secretário-geral da Organização das Nações Unidas já formou uma equipe de transição com cinco pessoas, entre elas o diplomata português João Madureira, que integra a missão permanente de Portugal na ONU.
Além disso, o grupo será liderado por uma mulher, pela sul-coreana Kyung-wha Kang. Vice de Guterres no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Kyung-wha Kang é atualmente vice-coordenadora para a ajuda de emergência e assistente do atual secretário-geral, Ban Ki-moon, para assuntos humanitários.
A equipe, que vai ajudar Guterres a se preparar para assumir a função em 1º de janeiro de 2017, inclui mais quatro pessoas, uma porta-voz e três conselheiros (dois homens e uma mulher).
A porta-voz de Guterres, pelo menos até o fim do ano, será Melissa Fleming, dos Estados Unidos, que também vem do Acnur, onde era chefe do Departamento de Comunicação e porta-voz.
Os demais conselheiros são Michelle Gyles-McDonnough (Jamaica), advogada e vice-diretora para a região Ásia-Pacífico, e Radhouane Nouicer (Tunísia), com extensa experiência como diretor do Acnur para a região do Oriente Médio e Norte da África e atualmente conselheiro para a crise humanitária no Iêmen.
“A equipe de transição vai dialogar com representantes da ONU, dos Estados-membros e da sociedade civil para garantir uma suave transição”, afirma o grupo no comunicado.