Governo diz que não há número limite de refugiados para Portugal acolher

Unicef/Viktor Moskaliuk Em 27 de fevereiro de 2022, enquanto as operações militares continuam, pessoas que fogem da Ucrânia caminham ao longo de veículos que fazem fila para cruzar a fronteira para a Polônia

Da Redação com Lusa

A secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira, disse nesta terça-feira em Leiria que não há limite para receber migrantes e que Portugal tem todas as capacidades para dar resposta aos refugiados da Ucrânia.

“A pandemia mostrou que todos nos adaptamos. Portanto, estou muito confiante que também nos iremos adaptar [migração]. Basta ver que em pouco mais de uma semana chegaram mais de três mil pessoas ucranianas ao país de forma integrada. É muito significativo. A larga maioria está em casa de amigos e familiares. Estou confiante que vai decorrer da melhor forma e harmonia”, disse Cláudia Pereira durante uma visita ao Estádio Municipal de Leiria, onde foi criado um Centro de Acolhimento Temporário.

A governante sublinhou que “não há quotas” e que “todos são bem-vindos”. “Na verdade, temos imensas necessidades de mão de obra e os ucranianos têm contribuído imenso para a riqueza econômica, mas também cultural e social do país”, disse.

Segundo números avançados à Lusa pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Portugal concedeu até este dia 08 de março 3.179 pedidos de proteção temporária a pessoas vindas da Ucrânia em consequência da situação de guerra.

Durante a visita ao Centro de Acolhimento Temporário, Cláudia Pereira teve oportunidade de falar com os dois primeiros refugiados que ali chegaram, na segunda-feira e deu-lhes as boas-vindas a Portugal. “Queremos que sejam muito felizes e que se sintam bem aqui”, disse a secretária de Estado a Hanna e Vyacheslav, mãe e filho.

Um dia depois de falarem com a Lusa, estes refugiados já sabem dizer: “obrigado” e “bom dia” e a gratidão “imensa” mantém-se a mesma. “Dormi finalmente, depois de várias noites sem dormir. Estar num estádio é simbólico, é como estar a fazer uma grande corrida para chegar à meta”, afirmou Hanna à secretária de Estado, pela tradução de Natalia, mulher de origem russa a viver em Leiria, que tem estado envolvida na ajuda aos ucranianos e que serve de intérprete.

Cláudia Pereira disse depois aos jornalistas que “é muito importante toda a generosidade e solidariedade que tem sido demonstrada, aqui na Câmara de Leiria em conjunto com as associações da região”, elogiando os quartos improvisados, num total de 54 camas.

“É um espaço muito acolhedor, com muita dignidade para os primeiros dias. Depois as pessoas vão para outras respostas, encontrando emprego e tornando-se autônomas. É muito interessante a tradutora ser russa e estar com pessoas ucranianas. A guerra que se está a passar não traduz, muitas vezes, os laços que existem entre ucranianos e russos. É sempre bom ver este exemplo de pacificidade e de paz”, frisou.

Cláudia Pereira referiu ainda que existe uma bolsa de alojamento do Alto Comissariado para as Migrações, com mais de 1.800 disponibilidades, e deixou o endereço de ‘e-mail’ [email protected] “para quem tiver alojamento e o queira disponibilizar”.

O presidente do Município de Leiria, Gonçalo Lopes (PS), apontou o Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa como uma “infraestrutura desportiva, com capacidade e polivalência”.

“Já foi durante dois anos o quartel-general de Leiria no combate à pandemia, foi-o na realização de testes e na vacinação”, disse Gonçalo Lopes, adiantando que “o município não hesitou em oferecer o seu melhor equipamento para transformá-lo num centro de alojamento temporário”.

Para tal, o autarca reconheceu o contributo de empresas, e comunidade local, que ofereceram mobiliário, peças de roupa e produtos de higiene.

Segundo Gonçalo Lopes, o centro acolhe, neste momento, “cinco pessoas e um cão”. “E temos a chegar amanhã mais 21 pessoas. Algumas irão para casas de familiares e outras 13 virão para aqui, com mais um cão e mais um gato”, disse.

O presidente da Câmara acrescentou que é possível adaptar mais camarotes, se houver necessidade, e existe ainda uma “rede de oferta de quartos, quer de instituições quer de empresas quer de particulares, que ainda não foi acionada”.

“Temos uma grande comunidade de ucranianos no concelho de Leiria: são 1.000 registados em 2020, e na região de Leiria perto de 3.000. Nos últimos 20 anos deram um contributo muito importante para o desenvolvimento econômico da região e, por isso, queremos retribuir aquilo que foi a capacidade de trabalho e a maneira como se integraram”, afirmou ainda.

Ajuda no transporte

Ainda, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) vai ajudar a facilitar o transporte de refugiados ucranianos, assegurou a embaixadora da Ucrânia em Portugal, que elogiou o sistema de apoio, apesar de admitir a existência de problemas.

“Estamos a tentar ver todas as questões com os órgãos do governo português. Os diplomatas das embaixadas portuguesas na Eslováquia, na Polônia e na Hungria vão verificar os documentos das pessoas e depois o MNE vai enviar o transporte para estes cidadãos poderem chegar a Portugal. Na nossa opinião, existe um sistema bastante viável, mas é claro que surgem alguns problemas”, disse Inna Ohnivets em entrevista à Lusa.

Salientando que a embaixada continua “disposta a resolver” com as associações ucranianas e o governo português as dificuldades registradas no transporte e na viagem destes refugiados, a embaixadora ucraniana admitiu uma “crise migratória” nas fronteiras do seu país, devido à “agressão russa desencadeada por Vladimir Putin”, e que Portugal é um país “maravilhoso” para receber os seus compatriotas.

“Em Portugal está criado um sistema bem desenvolvido para acolher os ucranianos. Eles podem ser muito bem integrados na sociedade portuguesa, porque podem procurar trabalho em Portugal e as crianças podem também ir às escolas para continuar a estudar. Aqui funcionam também as escolas ucranianas ao domingo, por isso, podem continuar a estudar a sua língua materna”, explicou.

Questionada sobre as situações de racismo que se verificaram nas fronteiras, com dois cidadãos portugueses de origem africana que ficaram dias à espera enquanto só passavam pessoas brancas da Ucrânia para a Polônia, Inna Ohnivets assumiu que tiveram de “esperar muito tempo”, mas que a embaixada e as autoridades portuguesas agiram para resolver o problema detectado na última semana.

“O governo ucraniano fez tudo o que é possível para acelerar este processo e para que, por exemplo, os estudantes possam passar a fronteira e ir para o país de origem. A nossa embaixada ajudou com a situação que surgiu com os dois estudantes cidadãos portugueses e, em cooperação com o MNE de Portugal e o apoio do nosso embaixador na Polônia, conseguimos resolver esta questão”, concluiu.

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