Especial Copa: O português que hospeda a Seleção em Campinas

Criador de um império, Armindo Dias é dono do The Royal Palm, escolhido para ser a casa da Seleção de Portugal, em Campinas.

 

Área comum da piscina pode receber a visita dos jogadores portugueses. Foto: Mundo Lusíada
Área comum da piscina pode receber a visita dos jogadores portugueses. Fotos: Mundo Lusíada. CONFIRA GALERIA>>

Por Vanessa Sene
Mundo Lusíada

Armindo Dias saiu de Portugal em 1956, rumo ao Brasil. Seu pai queria que ele fosse para lavoura, mas ele queria ser “um vencedor na vida”. Hoje, é o dono de diversas empresas, entre elas, um luxuoso hotel em Campinas que hospeda a seleção de Portugal durante a Copa de 2014.
Comanda o Grupo Arcel, com faturamento em torno de R$ 800 milhões/ano. No planejamento do grupo, está a construção de um novo hotel 5 estrelas, mais um 4 estrelas e um hotel 3 estrelas. Além da criação de um Centro de Convenções para 10 mil pessoas, uma estrutura que ainda não existe no Brasil, garante.
Armindo Dias já não trabalha em tempo integral no Royal Palm Plaza, mas passa por lá no final do dia. Recebeu o Mundo Lusíada para uma conversa com muitas histórias e muitos planos para o futuro.

O chef da seleção portuguesa Hélio Loureiro, encontra o português Armindo Dias, no Royal Palm. Foto: Mundo Lusíada
O chef da seleção portuguesa Hélio Loureiro, encontra o português Armindo Dias, no Royal Palm. Foto: Mundo Lusíada

Origem
Natural de Ansião, esse português decidiu deixar a terra-natal em busca de crescimento. “Meus pais tinham um pouco de propriedades. Meu pai queria que eu fosse para lavoura. E eu disse que não tinha vocação, eu seria um homem fracassado se eu fosse para lavoura. Falei ‘eu quero ser vencedor, e para ser vencedor eu tenho que sair dessa terra’. Onde eu nasci era muito pequeno, eu tinha que sair para algum lugar. E optei pelo Brasil, já tínhamos a vantagem de não aprender outra língua. É um país fantástico, muito grande, e uma vantagem para nós que não nascemos aqui é que é um país que acata qualquer um, não importa de onde, ele recebe bem todas as pessoas”.

Brasil e Campinas
Morador no país há 58 anos e naturalizado brasileiro, Armindo Dias afirma que também contribuiu de alguma forma para o país crescer. “Agradeço muito ao Brasil. Felizmente nunca tive problema de ordem alguma, qualquer parte sempre fui bem recebido. Agora tem uma coisa, sou uma pessoa que trabalho. Eu comecei a trabalhar com 12 anos”.
Morava em São Paulo quando decidiu se mudar para Campinas, na época em que adquiriu a então Biscoitos Campineira, que Armindo Dias mudou para Biscoitos Triunfo. “Hoje não é mais nossa, mas na época era uma fábrica pequena quando comprei, fazia 10 mil quilos de biscoitos por dia, e nós elevamos para 300 mil quilos por dia. Em 1992 fomos líderes de mercado a nível nacional”.
Depois uma parte foi vendida para a francesa Danone, uma parceria de cinco anos que deu certo, mas com os planos de expansão decidiu vender sua parte. “Cheguei numa altura em que queria ficar sozinho de novo com a família” afirma.
O negócio hoteleiro veio a seguir. Quando a família adquiriu o hotel, um antigo Holiday Inn, não chegava a 9 mil metros de área construída, e a estrutura atual é de 60 mil metros de área construída de um resorte cinco estrelas.
Segundo ele, a seleção de Portugal escolheu Campinas pela sua privilegiada localização. “Campinas é muito bem localizada. É difícil encontrar uma cidade tão bem servida de estradas, e também é bem servida na parte de aviação”.
Armindo afirma que Viracopos está em franca expansão e vai se tornar em pouco tempo o maior aeroporto da América do Sul. “Hoje em Viracopos tem diariamente a trabalhar na ordem de 8 mil funcionários. É a razão pela qual vamos fazer mais dois hotéis, além de um Centro de Convenções para 10 mil pessoas, com 38 mil metros, no Brasil hoje ainda não tem um como estamos fazendo”.
Armindo defende sua atual cidade, sempre de clima ameno. “Tive o privilégio de conhecer esta cidade onde moro, e acho que não poderia ter escolhido um lugar tão bom quanto este”.

Futuro
O Royal Palm Plaza é hoje gerenciado pelo seu filho Antonio, quem “praticamente dorme aqui” diz o pai. “Estava agora numa reunião com construtora Odebrecht, uma das maiores do Brasil, já acertamos com eles, além desta outra área temos mais 55 mil metros e vamos começar a construir mais hotéis. Um hotel cinco estrelas, um quatro estrelas e três estrelas. Tem aqui muitos eventos, e isso traz sempre muita gente para montagem e etc. Vamos fazer hotel três estrelas para acomodá-los, além de atender outras pessoas”.
Um português de 82 anos que cuida da saúde e da sua alimentação tem planos para muitos anos à frente. “Eu já tenho 82 anos e tenho projetos para mais 25 ainda. Sou uma pessoa muito otimista por natureza. Se está ruim, levanta mais cedo e trabalha mais horas, e daí compensa as dificuldades com mais horas de trabalho. O negócio está ruim para quem não quer levantar cedo”.
Ele que tem um personal trainer, faz exercícios diariamente. “Se não nos movimentarmos começamos a travar. Tenho a mesma disposição como se eu tivesse 50 anos”.
Um escritor está fazendo um trabalho sobre a história da sua vida, algo que ele quer deixar para os netos. “Nós somos católicos praticantes, eu minha mulher, ela também é portuguesa, somos de ir à missa todo domingo, em qualquer parte que nos encontramos” disse Armindo contando de uma temporada em que assistiram uma missa em Atenas, mesmo não entendendo grego.
“Tenho quatro filhos, brasileiros e campineiros, a mais velha com 49 anos, só a Camila mora em São Paulo, o resto mora em Campinas. Eu preparei meus filhos para o trabalho, muita gente cria com um certo mimo, eu criei com muito carinho mas mimo não. Felizmente só me dão alegria”.

RoyalPalmCampinas2Seleção
“Para nós vai ser uma honra receber a Seleção portuguesa, alias é uma honra receber qualquer seleção, se tratando da seleção portuguesa é uma honra em duplicidade. E posso lhe garantir que eles vão ser bem recepcionados e não mediremos sacrifícios para que eles saiam daqui felizes e com a vitória” diz Armindo que deve participar da recepção aos jogadores na chegada ao hotel.
Ao todo o complexo tem 116 apartamentos, e a comitiva da seleção deve ocupar 70 quartos. Porém o restante não será comercializado, e essa parte do hotel fica reservada e inacessível aos demais hóspedes. Apenas as áreas comuns poderão receber as visitas dos jogadores, como a piscina, se assim eles desejarem.
“Qualquer seleção que venha para cá, nós agradecemos, agora se tratando da seleção portuguesa é uma satisfação dupla porque, embora eu seja naturalizado brasileiro por opção, mas o coração fica sempre lá. Nasci num lugar bem pequeno, mas sempre quando passo em Portugal não deixo de ir onde eu nasci, sempre vou à igreja que fui batizado, sempre vou visitar meus pais no cemitério, em um dia e meio não tem mais nada para fazer. Mas o lugar que nascemos sempre guardamos no coração”.
Numa entrevista bem humorada, o português Armindo Dias brincou com relação a sua torcida na Copa. “Entre Portugal e Brasil, o que jogar melhor eu torço, o que ganhar eu vou aplaudir”.

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