As três instituições brasileiras distinguidas em Portugal pelo combate à cegueira de milhões

Mundo Lusíada
Com agencias

O Serviço de Oftalmologia do Hospital de Clínicas da Unicamp, juntamente com o Instituto Altino Ventura, no Recife, e o Ipepo, sediado em São Paulo, recebeu o Prêmio Champalimaud de Visão, a maior premiação internacional de oftalmologia.

Essa foi a primeira vez que um país da América Latina foi contemplado e a premiação é de 1 milhão de euros divididos entre os três vencedores. A premiação foi entregue dia 04 em Lisboa, pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

O prêmio foi entregue ao chefe da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Carlos Arieta acompanhado das medicas oftalmologistas do HC Denise Fornazarri e Rosane Castro. O superintendente do HC Antonio Goncalves de Oliveira Filho acompanhou a cerimônia que aconteceu no Centro Champalimaud, em Lisboa. “Um momento histórico para o Hospital de Clínicas e para a medicina da Unicamp”, enfatizou Oliveira Filho.

“O Brasil ultrapassa a América Latina e, para nós portugueses, todos nós, tenhamos ou não um pouco da nossa alma familiar ligada ao Brasil, representa do melhor que no mundo projeta a língua portuguesa, o génio, o talento daquela realidade que nos une como plataforma a tantos continentes, a tantos oceanos, a tantas culturas, a tantas civilizações”, disse o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa em seu discurso.

O comitê da Fundação Champalimaud avaliou dezenas de projetos nos países da América Latina. O da Unicamp foi o Projeto zona livre de catarata, criado em 1986 e que viabilizou – no HC ou em ações em outras cidades da região – ao longo dos anos mais de 10 milhões de consultas e cerca de 2 milhões de cirurgias de catarata. “Esse reconhecimento estendemos a todos aqueles que já passaram pelo nosso serviço e foram fundamentais para combate à cegueira e outras doenças da visão, como o professor Newton Cara José”, destacou Arieta.

Arieta frizou em seu discurso a importância de um serviço público gratuito de qualidade como o que a Unicamp oferece à toda a população da região e até de outros estados. O serviço abrange de 90 cidades, englobando uma população de quase 5 milhões de pessoas.

“Eliminar as barreiras no acesso à saúde ocular, combatendo à cegueira e a outras doenças oftalmológicas é a nossa missão e replicamos isso por outras unidades hospitalares vinculadas à Unicamp”, comentou. Medicos residentes do HC que participam do Congresso Brasileiro de Ofltalmologia, no Rio de Janeiro, também comemoraram a conquista histórica.

IPEPO
Fundado em 1990, o IPEPO (Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia) atua na região de São Paulo e em áreas da Amazônia.

Foram dois milhões de consultas oftalmológicas e mais de 100 mil cirurgias oculares nos últimos cinco anos. “O trabalho da nossa instituição consiste em facilitar o acesso do atendimento oftalmológico na população combatendo a cegueira e usando tecnologia moderna, teleoftalmologia e recursos modernos para atuar em regiões mais remotas do Brasil” declara Rubens Belfort, presidente da IPEPO.

Há dez anos, o Instituto da Visão optou por dar ênfase à Amazônia em sua atuação, por meio da Oftalmologia Humanitária – projeto de parceria entre a Universidade Federal do Amazonas, o Ipepo, a Fundação Piedade Cohen e a Marinha do Brasil -, médicos voluntários devolvem a visão de moradores das comunidades ribeirinhas desprovidas do serviço público de tratamento oftalmológico. Com o apoio da Marinha, a equipe viaja pelo trajeto majoritariamente fluvial por meio do Soares de Meirelles, embarcação de quatro andares que abriga os voluntários e os equipamentos de última geração, doados por empresas.

Somente para essa região, o IPEPO fez mais de 50 expedições à Amazônia brasileira em que se realizaram entre 500 a 1000 cirurgias gratuitas. Além das cirurgias gratuitas que recuperam, em 30 minutos, a visão dos que há anos não enxergavam, são também doados cerca de 5.000 óculos de grau a cada expedição, graças à parceria do Instituto com a Lupas Leitor.

Agora, uma parte do Premio será usada no financiamento dos estudos da IPEPO e no tratamento às cataratas. Além de aumentar as áreas de impacto, os docentes querem também investir no combate a uma doença pouco valorizada e muito comum no interior amazônico, o pterígio – doença que ocorre quando o tecido da conjuntiva (que cobre a parte branca dos olhos) cresce e fica menos vascularizado do que a córnea (parte transparente do olho).

Altino Ventura
Já a Fundação Altino Ventura, com sede no Recife, foi representada por sua diretoria, os oftalmologistas Marcelo Ventura (presidente), Liana Ventura (vice-presidente) e Camila Ventura (coordenadora do Departamento de Investigação Científica).

“Esse é um momento de agradecimento a todas as equipes, voluntários e parceiros da Fundação, que são os nossos pilares. É com enorme alegria que recebemos esse prêmio. Gratidão, reconhecimento e agradecimento à Fundação Champalimaud, à Portugal e a todos que fizeram da nossa história uma história de muitas conquistas. Estamos muito felizes”, afirma o presidente da Fundação Altino Ventura, Marcelo Ventura.

Ao longo dos seus 33 anos, a FAV já transformou a vida milhões de pessoas por meio de projetos de prevenção à cegueira e reabilitação visual. A instituição também capacitou 572 oftalmologistas do Brasil, de diversos países da América Latina e África (Angola), com apoio do governo, parceiros locais e internacionais.

A instituição já está em nove estados, atende na sua emergência oftalmológica 15 mil doentes por mês (500 por dia) e trata de 190 mil doentes por ano. Já soma 14 milhões de procedimentos oftalmológicos ao longo dos anos.

A história da fundação começou com uma clínica criada por Altino Ventura, em 1953, as atividades foram crescendo até surgir a fundação, agora presidida pelo seu filho, numa família que conta com 29 oftalmologistas.

“Há algum tempo que temos trabalhado para fazer um projeto muito lindo de reabilitação visual, a hidroterapia, que dá acesso aos pacientes a tratamentos com água”, declarou Marcelo Ventura ao jornal Público, referindo que o prêmio impulsionará este projeto e permitirá a contratação de mais profissionais e a disponibilização de mais vagas para crianças.

O Brasil possui a 5ª maior população do mundo, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O País atingiu, em 2018, mais de 208 milhões de habitantes. Desse total, mais de 6 milhões apresentam algum tipo de deficiência visual.

O Prêmio Champalimaud de Visão foi lançado em 2006, em homenagem ao industrial português António Champalimaud (1918-2004), idealizador da Fundação Champalimaud e que ficou cego numa fase avançada da sua vida. Dividiram a premiação com o HC da Unicamp: O Instituto Altino Ventura, em Recife e o Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia (Ipepo/SPDM) da capital São Paulo.

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