Após agressão a criança nepalesa, policiamento nas escolas vai ser reforçado – Governo

Abertura das atividades letivas de 2020/2021, no exterior da Escola Básica Dr. Costa Matos, Vila Nova de Gaia, 14 de setembro de 2020. JOSÉ COELHO/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

 

Após a notícia, avançada pela Rádio Renascença, de que um menino nepalês de 9 anos que foi “vítima de linchamento” numa escola de Lisboa, a ministra portuguesa da Administração Interna anunciou o reforço do policiamento nas escolas portuguesas.

Margarida Blasco declarou que os “todos os crimes, e sobretudo os crimes de ódio, são de uma gravidade imensa”.

“Aquilo que eu posso adiantar é que, em conjunto com as autoridades policiais, vamos reforçar quer o policiamento junto das escolas, quer o policiamento de proximidade, no sentido de recolocar o dispositivo de forma a prevenir, que é uma primeira fase”, garantiu a governante.

A ministra considerou ainda que “todos os portugueses legitimam aquilo que se está a fazer”.

“Como Governo, e nós, no Ministério da Administração Interna em conjunto com o Ministério da Educação, com o Ministério da Saúde, estamos na intenção de fazer programas mais céleres, mais eficazes, para obviar estas situações”, adiantou Margarida Blasco.

Segundo a Renascença, um menino de 9 anos, de nacionalidade nepalesa, foi agredido com violência por outros colegas numa escola de Lisboa, no início deste ano.

A denúncia foi feita à rádio pela diretora executiva de uma instituição da Igreja, o Centro Padre Alves Correia, que considerou “as motivações dos outros menores foram xenófobas e racistas”.

Já na madrugada de dia 04 de maio vários imigrantes foram atacados em três locais distintos da cidade do Porto. Num dos casos, o ataque deu-se na casa de 10 imigrantes, na Rua do Bonfim, que foi invadida por um grupo de 10 homens.

Pelo menos dois dos agredidos receberam assistência no Hospital de São João. Seis homens foram identificados e um foi detido por posse de arma ilegal, tendo sido presente a tribunal e ficado em prisão preventiva.

Imigrantes

A maior associação de nepaleses em Portugal denunciou hoje o aumento do ‘bullying’ nas escolas contra os filhos de imigrantes, por parte de outras crianças, o que também reflete um aumento do sentimento anti-imigração.

“Sabemos de alguns casos, porque os nossos filhos têm problemas de integração”, principalmente os casos de imigrantes do sudeste asiático, afirmou Kamal Bhattarai, presidente da associação Niapal.

“Isto preocupa-nos” e “estamos a visitar escolas várias vezes, falamos com professores e pais e recebemos muitas informações preocupantes”, explicou o dirigente, em declarações à Lusa.

Segundo a Rádio Renascença, o menino de 9 anos que foi atacado por um grupo de colegas, com insultos xenófobos e anti-imigrantes, uma agressão que foi filmada e partilhada em grupos nas redes sociais dos alunos.

O violento ataque levou a família a requerer a transferência da criança do estabelecimento escolar.

Para Kamal Bhattarai, há vários problemas na integração dos filhos de imigrantes do sudeste asiático, em particular os nepaleses, que constituem já 50 mil em Portugal.

“Eles estão muito isolados, não falam português, muitos nem falam inglês”, explicou.

No seu entender, o aumento de incidentes mostra que o “discurso anti-imigração [em Portugal] está a fazer um caminho” e a conquistar apoio dentro da sociedade portuguesa.

A entrada dos imigrantes é “um dos grandes assuntos que preocupam” os portugueses, mas, para os nossos filhos, que vêm de “uma cultura e idioma muito diferentes é complicado entender” esse sentimento.

Apesar disso, Kamal Bhattarai admite que há muitos casos de boa integração e há cada vez mais convívio multicultural.

“Os números de imigrantes estão a crescer e há muitas famílias que chegam cá com filhos. Mas os nascidos cá já está a aumentar”, explicou o dirigente.

No entanto, nos últimos anos, “sente-se um clima que é menos favorável” a quem chega de países com culturas muito diferentes de Portugal.

Diretores

Já a Associação Portuguesa de Diretores de Agrupamento e Escolas Públicas (ANDAEP) rejeitou que estejam a generalizar-se os casos de agressão em contexto escolar a crianças imigrantes, mas defendeu que não se pode fingir que não acontece.

“Eu acho que na escola pública é um caso isolado, mas é um caso que nos preocupa. Há uma semana, aqui ao lado, no Porto, tivemos uma situação com adultos, muito idêntica a esta. Isto preocupa, é um alerta, temos de estar atentos”, afirmou o presidente da ANDAEP, Filinto Lima.

O presidente da ANDAEP, que disse desconhecer o caso em concreto, defendeu que a escola deve estar atenta e usar as ferramentas à sua disposição – psicólogos, assistentes sociais, mediadores de conflitos entre outros – para travar o possível crescimento de fenómenos de racismo e xenofobia.

“É isso que pedimos às escolas. Que continuem a fazer esse trabalho. Não podemos é generalizar o que se passou em Lisboa, e que hoje tivemos conhecimento, ao resto das escolas públicas portugueses que são mais de cinco mil”, reiterou.

Filinto Lima considerou que a existência de casos de racismo e xenofobia ainda não são uma realidade nas escolas portuguesas, sublinhando que são fatores como a segurança e qualidade da educação que elevam os imigrantes a escolher Portugal.

Lima considerou que a comunidade escolar no seu todo – setor público e particular – deve denunciar às autoridades competentes casos como o que hoje foi conhecido, reportando à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens ou, em situações de maior gravidade, ao Ministério Público.

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