Mundo Lusíada
Com Lusa
A Academia das Ciências de Lisboa (ACL) vai apresentar ainda este ano um estudo para aperfeiçoar do Acordo Ortográfico de 1990 AO90, sugerindo nomeadamente o regresso à utilização de algumas consoantes mudas.
A responsável do Grupo em Acção Contra o Acordo Ortográfico (GACAO), que reúne 75.000 membros, diz que a posição defendida pelo presidente da ACL “é política, e a política é a arte do possível”. “Rever é talvez um primeiro passo para acabar com o disparate total”, disse Madalena Homem Cardoso, referindo-se ao AO1990.
O presidente da ACL, Artur Anselmo, salientou à Lusa que a instituição não tem qualquer tendência política e que o AO90 é “um problema científico e não político”, que deveria de ser resolvido definitivamente, e que é utópico impor uma grafia igual em todos os países que falam português.
Ana Salgado, coordenadora do novo dicionário da Academia (que deve estar pronto em 2018), disse também que o acordo não estabelece uma ortografia única e inequívoca, o que permite várias interpretações e, por isso, causa instabilidade. O estudo da Academia pretende acabar com essa instabilidade.
Também em declarações à Lusa, a responsável frisou que a ACL não defende a revogação do AO90, mas sim o seu aperfeiçoamento, sendo que o que propõe são ajustes, como de resto a Academia brasileira já fez também.
A Academia vai, por exemplo, recomendar o emprego do hífen em algumas palavras (fará uma listagem), revelou Ana Salgado, ressalvando que o não emprego do hífen “não quer dizer que seja um erro”.
Quanto às consoantes que não se pronunciam a ACL vai defender que elas só caiam nos casos em que há uma grafia única em Portugal e no Brasil (como na palavra ‘ação’). No entanto, em casos como a palavra ‘recepção’ “a nossa leitura” (da ACL) é que a escrita com o ‘p’ é “legítima no espaço lusófono”. Na palavra ‘optica’, a ACL defende também o uso do ‘p’.
Ana Salgado lembrou que o AO90 está a ser aplicado no ensino desde 2011 e que muitas crianças poderiam não entender a reposição de consoantes, pelo que o trabalho da Academia é abrir essa possibilidade, uma “via para uniformizar”, e deixar que depois a língua evolua.
A ACL, adianta, não quer impor nada, mas defende a reposição do acento na forma verbal “para” (“pára”) e em todas as propostas vai justificar cientificamente as opções.
“Estou preparada para as críticas ao novo estudo”, disse a responsável.
Artur Anselmo também admite todas as críticas e diz que não faz sentido “abrasileirar” a ortografia do português, como não faz sentido moldá-lo à ortografia de qualquer outro país lusófono.