Da Redação
Com Lusa
Os economistas consideram que o abrandamento da economia portuguesa no terceiro trimestre, na comparação com os três meses anteriores, com o PIB a crescer metade, é um reflexo da desaceleração da economia europeia.
“O abrandamento da economia europeia parece estar a propagar-se a Portugal, após um primeiro semestre em que esse efeito não era ainda evidente”, indica o Católica Lisbon Forecasting Lab/NECEP na leitura rápida da primeira estimativa do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgada sobre a Contas Nacionais no terceiro trimestre.
Filipe Garcia, economista da IMF — Informação de Mercados Financeiros, disse à agência Lusa que “nota-se já o efeito de contágio de alguns países europeus, nomeadamente Espanha (de longe o nosso principal cliente), Alemanha e Reino Unido, com a incerteza relativamente ao ‘Brexit’ que também terá pesado nas exportações portuguesas”.
No mesmo sentido, Nuno Caetano, analista da Infinox, comentou à Lusa que a evolução do PIB no terceiro trimestre “deve-se bastante ao facto de o crescimento europeu estar em fase de abrandamento (apesar de a Alemanha ter surpreendido nos seus valores do Produto Interno Bruto), sendo que a maioria das exportações nacionais são para o velho continente”.
Nuno Caetano indicou ainda que os dados divulgados sobre o PIB “são consequência também do impacto da elevada incerteza das questões relacionadas com o comércio internacional”.
O INE revelou que o PIB cresceu 0,3% no terceiro trimestre, face aos três meses anteriores, metade da expansão de 0,6% registada quer no segundo quer no primeiro trimestre do ano.
A Católica indica tratar-se do “registro mais fraco desde o segundo trimestre de 2016”.
Já em termos homólogos, o PIB cresceu 1,9% no terceiro trimestre face ao mesmo período do ano passado, o mesmo ritmo de crescimento registado entre abril e junho.
O NECEP [Núcleo de Estudos de Conjuntura da Economia Portuguesa] indica também, na nota enviada à Lusa, que “a perda de dinamismo, quer das exportações, quer do investimento, a confirmar-se nos dados, seria preocupante e condicionaria as perspetivas de crescimento a médio prazo”.
“A recuperação da economia portuguesa iniciada em 2013 continua em curso, embora agora com sinais de abrandamento”, refere também o NECEP na sua análise, acrescentando que o seu cenário central, de previsão de um crescimento de 2,1% este ano, “tornou-se menos plausível, mantendo-se as perspetivas de crescimento em torno de 2%”.
Já Filipe Garcia antecipa um crescimento de “1,9%, 1,8% este ano” e, para 2020, não prevê “uma travagem a fundo”.
“Até diria que as nuvens mais negras têm-se dissipado nas últimas semanas. Os números da Alemanha não são assim tão maus, há perspetivas de algum acordo comercial entre Estados Unidos e China e o ‘hard Brexit’ provavelmente será evitado”, referiu o economista da IMF.
Nuno Caetano, da Infinox, considera “possível cumprir a meta de crescimento de 1,9% no conjunto do ano caso haja um crescimento de 0,1% no último trimestre do ano”.
O Governo prevê que a economia cresça 1,9% este ano, a mesma estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Conselho das Finanças Públicas.
Na semana passada, a Comissão Europeia melhorou em três décimas a previsão de crescimento econômico de Portugal para 2% este ano, uma décima acima do esperado pelo Governo (1,9%), alinhando com a estimativa do Banco de Portugal.
Acima da média
Neste dia 14, o presidente português defendeu que é bom que Portugal “consiga estar acima da média europeia”, com um crescimento de 1,9%, e considerou que o fato de a OCDE não questionar números nacionais é “uma razoável notícia”.
“Tudo o que depende de nós, que possamos fazer para o crescimento em competitividade e produtividade, devemos fazer, mas a OCDE não vem questionar os números deste ano e isso, no meio das notícias que não muito boas, já é uma razoável notícia”, disse Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.
“Eu continuo a considerar que é bom que Portugal consiga estar acima da média europeia e que, por outro lado, o abrandamento existente em Portugal seja menor comparativamente a outros países”, indicou o chefe de Estado português.