Dilma Rousseff confirmou o primeiro turno e venceu também a fase final: tornou-se a primeira mulher a ser reeleita Presidente da República no Brasil. Um fato muito importante porque esta nação vai, assim, fortalecendo os ideais democráticos. Em 2010, já se completavam 25 anos do final do regime militar, que propiciou a eleição indireta de Tancredo e José Sarney. Somente em 1990 voltamos a dar posse a um presidente eleito, Fernando Collor de Mello. Por isso, nunca é demais lembrar, vivemos uma condição rara em um país que, mesmo sendo independente há 192 anos e tendo sua República proclamada há 124, jamais conseguiu manter um período semelhante, com participação relevante do povo nas decisões políticas e com liberdades significativas por mais de duas décadas. Nosso normal era a predominância de golpes e de ditaduras, em parcerias civis e militares, um currículo nada invejável.
Segundo o TSE – Tribunal Superior Eleitoral, Dilma neste 26 de outubro de 2014 faturou o jogo obtendo 51,64% dos votos válidos contra 48,36% do adversário sendo, em números absolutos, 54,5 milhões contra 51 milhões de votos, portanto, diferença de 3,5 milhões de eleitores.
Foram registrados também 1,9 milhões de votos brancos e 5,2 milhões de nulos, ou seja, 6% de pessoas. Uma redução em relação ao primeiro turno, quando foram atingidos 10% do eleitorado. Aqui temos uma tendência que se mantém quando existe o 2º turno desde 1989, queda dos brancos e nulos. Mas, as abstenções apresentam outra configuração. Vejamos isso, conforme o TSE.
Desde o reinício das eleições livres, o número de pessoas que não vai votar costuma aumentar do primeiro para o segundo turno. São as ausências ou abstenções. Neste ano, o número de eleitores faltosos passou de 19% para 21% entre a primeira e a decisiva votação. No segundo turno das três últimas eleições, o nível de abstenção ficou em torno de 20%, sendo que em 2010 houve um número recorde de não comparecimento: 22%. Portanto, o número ficou praticamente estável, quando comparado com as eleições passadas.
Desde a definição de quem seriam os concorrentes ao segundo turno, já se sabia que o resultado seria apertado para qualquer um dos lados. Mas, pautada por uma forte militância do PT e de sua coligação, especialmente numa luta travada nas redes sociais, a candidata que ficou em desvantagem durante alguns dias, conseguiu recuperar o fôlego e ultrapassar o tucano Aécio Neves, Senador por Minas Gerais. Destaque para a maciça votação obtida no Nordeste, onde ela venceu em todos os Estados, além de Minas e Rio de Janeiro. Tanto no Estado quanto na capital paulista Dilma obteve 36% dos votos válidos. Sua diferença à frente cabe mais ou menos em uma Armênia ou Albânia de votantes a favor da sua reeleição.
Ao que tudo indica, tendo em vista a nova formação do Congresso Nacional, ela não terá vida fácil. Seu primeiro mandato apresentava um legislativo mais favorável. Na prática, suas alianças não foram tão seguras e produtivas, revelando certa tensão. Desta feita, o cenário já de início não é tranqüilo. A presença de várias pequenas legendas e a suprapartidária ‘bancada conservadora’, cujos adeptos falam em ‘endireitar o Brasil’, cresceu no Congresso nacional, o que aponta obviamente que será difícil o avanço de ‘pautas progressistas’. Dilma precisará ampliar seu diálogo, flexibilizar e fazer muitas negociações, se desejar de fato atingir a maior parte das metas propostas na campanha, corrigindo este cenário de instabilidade. De todo modo, as grandes democracias no mundo mostram que assim é a vida: às vezes as urnas dão resultados folgados, outras ocasiões, nem tanto. Contudo, dialogar é básico para se construir a viabilidade da realização dos projetos.
Apesar de termos saído do ‘Mapa da Fome’ da FAO/ONU, sem dúvida uma grande vitória – entre 2001 e 2012 o Brasil conseguiu reduzir a pobreza extrema, aqueles que vivem com menos de US$ 1 ao dia, em 75% enquanto a pobreza foi reduzida em 65%–, ainda temos mais de 16 milhões de pessoas vivendo na pobreza, representando 8,4% da população com menos de US$ 2 por dia. É um exemplo destacado, entre outros desafios vários existentes, que não podem mais ser postergados se desejamos o desenvolvimento nacional, indo além de um crescimento de PIB, uma vez que há décadas pontuamos nas flutuações entre as 10 maiores economias planetárias, entretanto com um IDH muito aquém: 79º lugar (2014).
Assim, a presidenta Dilma e todos os eleitos têm muito trabalho pela frente, independente do partido, independente das coligações, afinal, indistintamente, pensar no bem comum e na justiça social é o objetivo central dos representantes do povo. E os eleitores que permaneçam muito atentos para suas atuações. São Paulo, 31 de outubro de 2014.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo