Da Redação com Lusa
Neste dia 16, o primeiro-Ministro português defendeu, na Azinhaga, que a melhor maneira de assinalar o centenário do nascimento de José Saramago é “perpetuar a sua obra”, uma forma de “perpetuar as causas por que lutou e as gentes a quem resolveu dar voz”.
António Costa participou na cerimônia que assinalou a plantação da centésima oliveira numa rua da Azinhaga, aldeia natal do escritor, no concelho da Golegã (Santarém), iniciativa da junta de freguesia e da família de Saramago, iniciada em 2019, com o objetivo de celebrar a passagem do centenário do nascimento do Prêmio Nobel da Literatura.
“É muito importante nós não esquecermos Saramago, porque esquecermos Saramago é esquecermos todos aqueles que, tendo nascido em alguma Azinhaga, não chegaram ao prêmio Nobel, mas são aqueles que permitiram ao Saramago contar a história que fez dele o primeiro Prémio Nobel da literatura portuguesa”, afirmou.
A oliveira a que António Costa juntou hoje algumas pazadas de terra, a última a ser plantada, no início da Rua Victor Manuel da Guia, tem o nome da avó de Saramago, Josefa Caixinha, e fica em frente à que leva o nome do avô, Jerónimo Meirinho, no largo do “Lagarto Verde”, onde se encontra um painel com um excerto das “Pequenas Memórias”.
A ladear a rua, cada oliveira representa uma personagem das inúmeras obras de José Saramago.
Costa salientou que o escritor “quis contar a história das pessoas que não podiam contar a sua própria história e em cada um desses personagens, daqueles que existiram mesmo, como os seus avós, ou daqueles que ele ficcionou, todos aqueles que não podia nomear, a verdade é que ele quis contar” a história da Azinhaga e de “todas as Azinhagas em qualquer local do mundo”.
O presidente da Junta de Freguesia da Azinhaga, Victor Guia, que se tornou amigo de Saramago, explicou que a ideia das “100 oliveiras para Saramago” partiu do genro do escritor, Danilo Matos, como uma forma de “aquietar o desgosto” que expressou nas suas memórias pelo desaparecimento do olival da sua aldeia.
A neta de Saramago, Ana Matos, lembrou a importância da aldeia natal para a “formação espiritual” de um escritor nascido numa “família de camponeses sem terra” e que teve sempre presente “o compromisso político” na sua vida e na sua obra.
A cerimônia contou, ainda, com a leitura de um excerto do discurso pronunciado por José Saramago a 07 de dezembro de 1998 na Academia Sueca e a interpretação musical de um poema de José Saramago por Nuno Barroso.
Presidente – vida e obra de Saramago
Também o presidente Marcelo Rebelo de Sousa destacou hoje a “grande ligação” entre a vida e obra de José Saramago, nas comemorações do centenário do seu nascimento, na Escola Secundária José Saramago, em Mafra.
“Há uma grande ligação entre a vida e obra” do escritor, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, perante uma plateia de mais de uma centena de alunos, defendendo que José Saramago “foi militante das suas causas, da sua vida e da sua obra”.
Depois de ler dois excertos do romance “Memorial do Convento”, inspirado na construção do Palácio Nacional de Mafra, o chefe de Estado questionou os jovens sobre os motivos pelos quais o escritor deixou marca e a sua obra foi lida por tanta gente.
Marcelo Rebelo de Sousa, que contou ter sido convidado pelo escritor para o lançamento do seu livro “Ensaio sobre a Cegueira”, considerou que Saramago “quis escrever para ser entendido”, por isso “escreveu como se fala, numa linguagem coloquial”, sem pontos.
O Presidente da República sublinhou a “persistência”, “consistência” e “determinação do escritor e falou de como Saramago “se preparava para a escrita” das suas obras, efetuando um verdadeiro “trabalho oficinal”, para ser rigoroso em “contar a verdade” na sua história.
Incitando a ler os jovens da Escola Secundária José Saramago, em Mafra, no distrito de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa disse que “quanto mais lerem, maior é o conhecimento e a maneira de falar com os outros”.