A Guiné Equatorial: “Suíça de África” que espera por mais portugueses

Porto de Malabo, Guiné Equatorial.
 Porto de Malabo, Guiné Equatorial.

Da Redação
Com Lusa

Os empresários portugueses presentes na Guiné Equatorial pedem mais apoios de Portugal e apontam as áreas da saúde, agricultura e gestão de equipamentos como as grandes oportunidades do país.

“Isto é a Suíça de África”, diz o empresário de Braga Manuel Moreira, com vários projetos na Guiné Equatorial, um país que acaba de aderir à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

É um país que “tem petróleo e gás natural, mas não produz nada” e “tem condições de comprar no exterior” devido às receitas petrolíferas, acrescenta Manuel Azevedo, cônsul honorário de Portugal em Malabo, capital insular de um país que tem um território continental 13 vezes maior do que a ilha.

O gigantesco pacote de obras públicas lançado em 2007 no âmbito do plano ‘Horizonte 2020’ visa a transformação das infraestruturas do país. Foram construídos milhares de quilómetros de estradas, milhares de prédios, centenas de palácios e edifícios públicos vários, num esforço financeiro que surpreende qualquer pessoa que visite o país.

“Há sedes do mesmo ministério em três cidades”, diz com orgulho António, jornalista do jornal El Lector e funcionário do Ministério da Informação, Imprensa e Rádio do país.

A febre da construção atraiu multinacionais brasileiras, francesas, espanholas e marroquinas ao país, criando, do nada, autoestradas, portos, prédios e edifícios vários.

Nos últimos anos, grande parte dos projetos de maior fôlego têm sido assumidos por consócios chineses e sul-coreanos, ao abrigo dos acordos nacionais de petróleo por obras. O Governo da Guiné Equatorial fornece petróleo e os países assumem os custos das empresas e dos projetos de maior dimensão.

Estes acordos permitem autonomia em relação às variáveis do preço do petróleo e agradam às duas partes. Por isso, e porque grande parte das maiores obras já estão feitas, o futuro é fornecer bens e serviços ou assegurar a diversidade da produção nacional, considera o cônsul honorário de Portugal.

“As nossas empresas são as que constroem melhor”, mas “já não há muito mais estradas ou prédios grandes por fazer”, diz Manuel Azevedo, que apela à vinda de uma nova geração de empresários portugueses para setores como a agricultura ou as pescas, onde existe “um potencial enorme”.

O cônsul indica ainda a saúde como um setor em que a Guiné Equatorial pode ser “um país interessante”, bem como as áreas de “fiscalização e manutenção de equipamentos, estradas ou edifícios”.

“Na construção, este é um mercado maduro, mas há outras áreas por explorar”, diz António Belo, da construtora Armando Cunha, que também gere a empresa local de capitais mistos ACSA, responsável pela construção de um hotel e de vários postos de combustíveis.

Em Mongomo, terra natal do Presidente Obiang, a Armando Cunha está a construir uma escola, orçada em 108 milhões de euros. “É um instituto politécnico para o estudo de hidrocarbonetos, uma escola de elite a nível universitário para formar técnicos especializados, numa concessão em conjunto com as petrolíferas que cá trabalham”, explica António Belo.

Além da saúde, pescas e agricultura, o empresário indica a banca como uma “área com níveis muito baixos de qualidade” e em que o investimento português pode fazer a diferença.

No entanto, “entrar num país não é fácil”, avisa António Belo. “Não é fácil aqui, mas também não é em Espanha ou no Brasil” e é “preciso muito trabalho” e “apoio político, que é coisa que não existe”, acrescenta.

Os portugueses no país rondam o meio milhar, um número que depende muito da rotação de quadros e de expatriados. Todos se conhecem e todos se apoiam, até porque concorrem com outros investimentos de maior dimensão.

“Aqui tem de haver entreajuda”, mesmo entre empresas que seriam “concorrentes em Portugal”. Na Guiné Equatorial, explica António Belo, “há muitas falhas, o país está a começar a ter infraestruturas e se não existirem entreajudas torna-se muito mais difícil”. Quando chegou, em 2008, o “país era um autêntico estaleiro e agora já começa a estar em funcionamento”, recordou.

Para trabalhar na Guiné Equatorial é necessário criar uma empresa local com um sócio nacional. Só assim é possível concorrer a concursos ou a obras diretas do Governo.

Mas grande parte dos empresários portugueses trabalham em subempreitadas, como é o caso da empresa de Setúbal Entremar, responsável pela construção dos portos da Guiné Equatorial. A obra foi adjudicada à marroquina Somagec, que subcontratou os trabalhos.

“Viemos há sete anos, em 2007. Fomos convidados pela Somagec para fazermos as obras do porto de Malabo e, a partir daí, as oportunidades têm surgido e temos concretizados os projetos da melhor maneira”, diz Pedro Vidal, um dos responsáveis no país da Entremar.

Os construtores portugueses acabam por ajudar a economia nacional porque é “necessário importar tudo” e os negócios são feitos preferencialmente com os fornecedores da sede. “Compramos muita coisa em Portugal”, diz António Belo.

Mas o grande negócio de venda de materiais de construção é de uma empresa que não tem representação formal no país: a cimenteira Secil. São visíveis sacos de cimento português um pouco por todo o país, num acordo de venda que se repete nas grandes obras.

Em 2013, a empresa faturou 11,5 bilhões de euros em vendas de cimento para a Guiné Equatorial. O país é o sexto maior mercado no exterior da empresa, imediatamente atrás do Brasil.

A área de formação profissional, com uma escola em Mongomo, a construção de hotéis e vários outros equipamentos ou a modernização bancária completam os grandes trabalhos feitos pelos portugueses no país.

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