Consta que o termo ‘globalização’ foi utilizado pela primeira vez pelo editor da Harvard Business Review, Theodore Levitt, em 1983. Surgia, assim, no círculo das escolas estadunidenses de administração de empresas. E ganhou força ao longo da década, através dos consultores de marketing e estratégias de mercado, em seus discursos e textos, absorvidos pelas empresas transnacionais espalhadas pelos quatro cantos do planeta. Mas, o impulso decisivo deu-se a partir de 1989, com a queda do Muro de Berlim, simbolizando o final da ‘Guerra Fria’, conflito que dividia as nações em dois blocos básicos, capitalistas x socialistas, desde o final da II Guerra Mundial. Daí adiante, o conceito de globalização foi especialmente difundido. O capitalismo poderia então avançar sem maiores opositores, enfraquecidos que ficaram após a falência do ‘socialismo real’ soviético e de seus aliados. Desta forma, o raiar dos anos 1990 surgiam com a promessa de um ‘mundo democrático’, com possibilidades de todos aproveitarem dos sensacionais avanços tecnológicos, das novidades sempre presentes e da liberdade de escolha. Alguns intelectuais mais eufóricos chegaram a escrever sobre ‘o fim da História’, crentes que estavam no estabelecimento definitivo de um modo de vida da humanidade baseado no livre mercado e na democracia liberal a partir de então. E as nações menos privilegiadas poderiam, de quebra, ser beneficiadas com transferências de recursos vários, propiciados pela integração do comércio e dos serviços sem restrições.
Passados quase 25 anos da vitória do sistema capitalista temos, cruamente falando, um cenário bem menos festivo que o alardeado originalmente. Apenas para exemplificar, o Escritório de Estatísticas Europeu, Eurostat, apontou que o desemprego da Eurozona continua firme. Em abril alcançou o recorde histórico de 12,2%, isto é, 19 milhões de pessoas no desvio. 23,5% dos jovens estavam sem emprego. Em um ano, a taxa subiu em 1,644 milhão de pessoas na Eurozona e em 1,673 milhão na União Européia, conforme o Eurostat. Destacando Portugal, a taxa de desemprego luso alcançou um novo máximo, de 17,8%, em abril, com o desemprego jovem indo para um nível recorde de 42,5%. Do outro lado do Atlântico, os EUA não ultrapassam desempenho fraco há tempos. A economia não decola, apesar dos esforços do seu governo. E mais: além das permanentes e incorrigíveis crises cíclicas do sistema, mais intensas e gerais por conta, exatamente da rede global existente, dados da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, revelam que 870 milhões de pessoas passam fome, sendo que 60% de suas vítimas são mulheres.
Para coroar este raciocínio, a OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico acaba de relatar que a desigualdade existente entre ricos e pobres em meio aos povos que compõem a entidade elevou-se ao seu máximo nível em 30 anos, onde os rendimentos médios dos 10% mais ricos da população são nove vezes maiores do que os 10% mais pobres. Este sistema é mesmo uma mansidão para poucos. Onde está a mídia para esparramar estes dados à toda gente? E no Brasil, país que tem programas sociais muito recriminados por vários de seus cidadãos, enfurecidos com a doação pública de ‘dinheiro para pobres (compreenda-se na crítica como sendo vagabundos)’, segundo a OCDE, chega a 50 por 1 a diferença! Em síntese: razões para indignações não faltam. Sem falar nos aspectos culturais, caso do mundo islâmico, que não parece até aqui disposto a absorver plenamente a visão ocidental dos CEOs corporativos.
A História permanece viva e aberta às transformações. A globalização capitalista não cumpriu suas promessas até aqui frente a ausência de dignidade para milhões de seres humanos. Uma outra economia, mais fraterna, mais equilibrada e, portanto, justa, ainda está para acontecer.
São Paulo, 15 de Junho de 2013
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.
1 comentário em “A Globalização e suas promessas não cumpridas”
Gostaria de saber se a informação “Consta que o termo ‘globalização’ foi utilizado pela primeira vez pelo editor da Harvard Business Review, Theodore Levitt, em 1983.” possuí alguma bibliografia pois quero citar em minha dissertação.