Acompanhei, com o mais lógico interesse, como teria de dar-se, a mais recente entrevista de António José Seguro, desta vez na SIC Notícias, no programa, Negócios da Semana, de José Gomes Ferreira. Uma entrevista para mim marcada pelo recente conflito de pontos de vista políticos entre a atual liderança do PS e os que, em vários aspetos, discordam da sua atuação.
A entrevista, como seria de esperar, pouco abordou este conflito natural e mais recente, antes se centrando ao redor da alternativa política do PS de Seguro em face da política atual, do Governo de Pedro Passos Coelho, e que conduziu Portugal e a esmagadora maioria dos portugueses ao atual estado de beco sem saída ou de penúria.
Simplesmente, esta entrevista ficou marcada por um modo pouco usual de operar uma situação do género, com constantes interrupções de José Gomes Ferreira, procurando exigir de António José Seguro uma resposta às duras realidades atuais dos portugueses, mas sempre à luz da quase-inamovibilidade deste Governo em face das dificuldades que encontrou e das muitas mais que criou.
Esta entrevista trouxe-me ao pensamento uma outra, também de José Gomes Ferreira e no mesmo programa, mas com Paulo Campos. Uma metodologia de entrevistar semelhante à usada por Vítor Gonçalves na RTP Informação: constantes interrupções, permanentemente cortando o desenvolvimento da explanação do entrevistado, mas, mau grado tudo, não conduzindo as entrevistas com o ar de desafio brincalhão que, volta que não volta, se pode ver em José Gomes Ferreira.
Ainda assim, há um dado que sobressaiu: o PS de Seguro dispõe de caminhos alternativos ao atual Governo de Pedro Passos Coelho, e cujos resultados, para Portugal e para os portugueses, enformam o desastre que pode hoje ver-se. De resto, raros duvidarão hoje sobre a enorme irreversibilidade do estado ora criado ao País e aos portugueses.
Dentro dos limites consentidos pelo errado modo de entrevistar, operado por José Gomes Ferreira, foi possível perceber esta realidade muito simples e de há muito evidente: os sacrifícios que vêm sendo exigidos aos portugueses, para lá de violarem tudo o que foi prometido na campanha eleitoral, estão muito para lá do que seria necessário para materializar o Memorando de Entendimento, e constituem uma ação política ideológica destinada a desmantelar o Estado Social e as grandes linhas que suportam a Constituição de 1976.
Quero acreditar que o PS de Seguro não acabe por embarcar na infeliz ideia do grupo destinado ao estudo da reforma do Estado. E a razão é simples: vem aí mais um corte de quatro mil milhões de euros, destinado a compor os efeitos dos erros anteriores do Governo, a que virão a somar-se os cortes resultantes da tal reestruturação do Estado. Será, inquestionavelmente, o regresso à cauda da Europa e a uma situação social próxima do início da década de sessenta do passado século. Iremos ter, indubitavelmente, o fim da do espírito da Revolução de 25 de Abril, mas mantendo sempre a nossa dita democracia, de molde a ir alimentando a necessidade psicológica de liberdade, embora o poder nada ligue às vozes que possam manifestar os seus pontos de vista por via da mesma.
Torna-se, pois, necessário que o PS, de Seguro, ou de um outro qualquer, mostre as grandes linhas do seu pensamento estratégico para o País, mas também que escolha com inteligência os seus candidatos mais aptos para levar de vencida as próximas eleições autárquicas e europeias. E, ainda, que comece a pensar, de parceria com o PCP e o Bloco de Esquerda, num candidato presidencial capaz de galvanizar os portugueses, restituindo-lhes a esperança de Abril e garantindo que a Constituição da República não virá a ser ultrapassada por situações de conveniência estratégica de grupos de interesses.
Por Hélio Bernardo Lopes
De Portugal