Por Ígor Lopes
A poesia é um dos pilares do mundo literário em Portugal. Conta com uma importância profunda e duradoura ao refletir a identidade e os valores culturais do país. Viva em vários momentos, expressa sentimentos coletivos, como o amor, a saudade e a luta pela liberdade. Autores como Camões, Pessoa e Sophia de Mello Breyner contribuíram para elevar a poesia portuguesa, tornando-a essencial para a literatura lusófona e uma ponte entre gerações. Especialistas consideram a poesia, em Portugal, um meio de introspeção e resistência cultural.
Um dos nomes que tem defendido a manutenção e o futuro deste género literário é Ivo Álvares Furtado, médico de formação, que ocupa hoje o cargo de presidente da Associação Portuguesa de Poetas (APP), entidade que conta, atualmente, com 568 associados amantes não só da poesia, mas exímios defensores da língua portuguesa.
Para perceber os caminhos da poesia em Portugal, o papel da língua portuguesa no mundo da literatura mundial e o trabalho realizado pela APP, conversamos com Ivo Furtado, que explicou os próximos projetos em desenvolvimento, incluindo um novo livro.
Como avalia hoje em dia a literatura lusófona?
A Literatura Lusófona está em crescendo e afirma-se cada vez mais a nível mundial, através da realidade da emergência de novos escritores, após a descolonização dos atuais países que se expressam na Língua Oficial Portuguesa. Os autores brasileiros, pelo seu número e qualidade, têm dado um grande contributo para a afirmação da Língua Portuguesa no mundo. A Língua Portuguesa sai enriquecida com os contributos dados pelo léxico e os linguajares (sotaques), próprios de cada região. É importante que os autores estejam conscientes deste enorme património cultural que têm entre mãos, para que se juntem na ação concertada de afirmação mundial.
Quais os objetivos da Associação Portuguesa de Poetas?
A Associação Portuguesa de Poetas (APP) tem por objeto estatutário a criação e difusão de poesia e obra literária em língua portuguesa.
Que ações desenvolvem?
Mantemos uma Tertúlia mensal na Sede da APP em Lisboa, que no atual formato tem uma primeira parte temática ou de homenagem a um poeta de Língua Portuguesa, para o que convidamos um preletor, especialista na área, seguida de declamação de poemas do poeta homenageado; a segunda parte é dedicada à declamação de poemas dos Associados. Temos publicações regulares: “A Nossa Antologia”, que tem em edição neste momento o seu XXVIII número; Um Boletim Informativo e Cultural que publicou no terceiro trimestre de 2024 o seu 99º número, sendo acompanhado de um Suplemento de Poemas dos Associados; Criámos na presente direção uma Revista Literária de Poesia, “Poesis” verba volant scripta manent, com periodicidade trimestral, pensando nos Associados que residam fora de Lisboa e que não tenham tanto acesso à participação presencial às tertúlias mensais na sede da APP; criámos também os “Cadernos de Poesia”, com periodicidade bimensal, de modo a dar visibilidade às valorosas obras dos Associados da APP, designadamente os mais antigos e que com a sua colaboração têm ajudado a construir o nosso projeto em prol da poesia, e de convidados de reconhecido mérito. Publicação pelo Coordenador Editorial, Dr. Rogélio Mena Gomes, da recolha de duas representações teatrais que se faziam no Dia dos Reis na aldeia de Carviçais, Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes, designadas por “Reis Falados” e “Pastorada”, este segundo auto em risco de se perder da memória das gentes por não se encontrar, até então, publicado. Além disso, promovemos os “JOGOS FLORAIS da APP” e, neste ano, decidimos atribuir o (PRÉMIO SANTOS ZOIO), como homenagem a um dos presidentes que foi um grande dinamizador das atividades da APP; Por ocasião do aniversário da APP, efetuamos uma cerimónia de homenagem distintiva de sócios com 15 e 25 anos de inscrição; a APP participa em datas de celebração dos poetas e da poesia, como sejam, no dia 21 de março o “Dia Mundial da Poesia”, que neste ano foi celebrado em Campo Maior (Alentejo), a convite da Câmara Municipal, com a participação da Coordenadora da In-Finita, Adriana Mayrinck, numa tarde evocativa do 50º aniversário do “25 de Abril em Portugal, que abriu as portas para a Democracia e para a Liberdade. Outra data marcante em que a APP participa anualmente, é a celebração do dia 10 de junho e a evocação de Camões, com a deposição de uma coroa de flores junto à estátua do poeta e a leitura dos seus poemas. Temos também os Jograis da APP, que com as suas atuações levam bem longe o nome da nossa Instituição e a chama da Poesia em Língua Portuguesa, constituindo um ex-libris e motivo de orgulho da nossa Associação; Abrimos as portas da APP para a apresentação de livros dos seus Associados e para o acolhimento de Sessões Culturais de Poesia em Língua Portuguesa; Estabelecemos contactos com Entidades Oficiais, nomeadamente a Divisão Municipal da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, que apoia as nossas ações culturais; e a Junta de Freguesia dos Olivais, onde se localiza a sede da APP que é propriedade da Gebalis, com quem mantemos atividade colaborativa, que temos o ensejo de manter e desenvolver; Desenvolvemos contactos, que consideramos essenciais, de parceria com a Rede Sem Fronteiras, que através do dinamismo da sua presidente, Drª Dyandreia Valverde Portugal, tem dado preciosa colaboração na divulgação da Poesia dos Associados da APP no âmbito dos Países Lusófonos, numa perspetiva de que “Juntos somos mais Fortes”; Foi assim que participámos por cedência graciosa do espaço alocado às suas atividades, na 93ª e 94ª Feira Internacional de Lisboa e bem assim a participação com um debate no Congresso Internacional de Culturas Lusófonas, que teve lugar no Parque dos Poetas, em Oeiras; Estabelecemos outras colaborações e parcerias, de que destacamos o trabalho de levar a poesia até às prisões, como foi o caso da deslocação ao Estabelecimento Prisional das Caldas da Rainha, que levou à publicação de poesia feita pelos reclusos; a profícua parceria com a Sociedade Filarmónica União Capricho Olivalense (SFUCO), uma Entidade Cultural do nosso Bairro. Receção nas instalações da APP, de ilustres visitantes, nomeadamente da Academia Internacional de Literatura Brasileira, na pessoa de Linda Lemos, da Academia de Letras dos Municípios Cearenses, na pessoa de Bernivaldo Carneiro, da Academia Camocinense de Ciências, Artes e Letras, na pessoa de Manoel Osdemi, do Instituto Olhar a Língua Portuguesa no Mundo, na pessoa de Nilzangela Souza, da Associação Brasileira de Escritores – ABRESC, na pessoa de João Paulo Vani, da Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares – AMCLAM, na pessoa de Carlos Alberto da Silva Santos Braga, e da interação com visitantes de outras proveniências, nomeadamente, do Cabo Verde, de Angola, e de associados, entre outros, residentes na Suíça, Reino Unido, e Canadá. E tem sido assim, que “levando connosco a poesia, vamos percorrendo o nosso caminho, rasgando horizontes, trabalhando afincadamente: e…, num curto espaço de tempo,
CAMINHANDO JUNTOS
Quando juntos caminhávamos,
levando connosco a Poesia;
subitamente reparávamos,
que o impossível,…, acontecia!”
Quais os projetos atuais e futuros?
A APP, para este mandato, pretende consolidar o trabalho desenvolvido pela atual direção e delinear o futuro, que passa pela motivação e integração de elementos mais jovens, o que tem sido difícil pelas exigências profissionais na fase ativa, colocadas aos mesmos. Desejamos também incentivar os associados a intervir mais ativamente nas atividades da sua Associação, para que seja possível ampliar o campo de ação, nomeadamente levando a poesia às escolas, entre outras ações.
Como surgiu esta entidade? Quem a integra?
Em 3 de Abril de 1985,…, há 39 anos, na Sociedade Portuguesa de Geografia de Lisboa,…, dava-se início a uma linda história da Poesia Portuguesa: a Criação da Associação Portuguesa de Poetas. Os doze Poetas Fundadores: Luís Filipe Martins Soares, José Maria Bento de Sousa, Maria Amélia Bota Correia, Luís Filipe Barros Curado, Maria de Lurdes Pires de Carvalho, Jorge Manuel Cabrita Trigo, José Vitorino Neves Dias, Luís Rodrigues Pires, Maria Emília Pires Venda, José Augusto Azevedo, Paulo Alexandre Martinho Pereira Ribeiro, Palmira Morgado Valério da Silva, reuniram-se com o propósito de publicar poesia em Língua Portuguesa. Após um percurso itinerante, em Lisboa, em Benfica, e posteriormente com sede provisória na Casa das Beiras,…, estabelece a sede nos Olivais, na Rua Américo de Jesus Fernandes, 16-A, 1800-023. Lisboa. Portugal. Integram a Associação Portuguesa de Poetas, neste momento, 568 associados. Os atuais corpos sociais têm a seguinte composição:
ASSEMBLEIA GERAL
Presidente: ROGÉLIO MENA GOMES
Vice-Presidente: CARLOS CARDOSO LUÍS (em memória)
Secretária: MARIA CELESTE PEREIRA
DIRECÇÃO
Presidente: IVO ALVARES FURTADO
Vice-Presidente: MARIA AUGUSTAB TAVARES
1º Secretário: AMÁLIA FAUSTINO MENDES
2ª Secretária: CRISTINA MARIA MARCELINO CÂNDIDO BARROCA
Tesoureira: MARIA HELENA BARRADAS
CONSELHO FISCAL
Presidente: AUGUSTO TELHEIRO
1ª Secretária: MARIA DE JESUS NUNES
2ª Secretária: FELISMINA MEALHA
Numa tónica de “estado da arte”, como vê a vitalidade da poesia em Portugal? Consegue traçar um panorama?
Apesar das dificuldades na edição de poesia, que são por todos nós sentidas, não será por acaso que Portugal é conhecido por ser um país de poetas. Talvez por ser “um jardim à beira mar plantado”, propicia a criação e o deleite da poesia. O clima, a beleza natural e a natureza afável de um povo fraterno e acolhedor, são os ingredientes necessários ao desfrute da vida, que em si mesmo é poesia. Noutra vertente existe a relação com o fado, inscrito na matriz nacional, em que a poesia dá voz a esta canção tradicional portuguesa, que hoje é Património Mundial. Segundo a minha perspetiva, têm surgido pequenas editoras que têm procurado ocupar o espaço deixado livre pelo grande circuito editorial. Nestas circunstâncias, pese embora possa ser publicada muita poesia, a qualidade da mesma é, em minha opinião, questionável. Porém desta maneira, a seleção será feita “no terreno” e assim poderá emergir a poesia popular, que doutro modo poderia não ter acesso à edição.
Como explica a dinâmica dos escritores portugueses no mundo? Há espaço para novos destaques, tendo em vista as “políticas” editoriais atuais?
A Dinâmica dos escritores portugueses tem a meu ver que ajustar-se à do mundo global, em que o trabalho de conexão entre os autores deve ser feito em articulação simultânea e proximidade com as Editoras. Deste modo consegue-se chegar a um público mais amplo, começando pelo Espaço Lusófono. Esta foi uma das razões da minha aproximação da Editora In-Finita, cuja Coordenadora, Adriana Mayrinck, alia a simpatia ao profissionalismo, tendo uma visão futurista sobre a Edição Literária, que se ajusta aos objetivos comuns de fazer chegar a obra literária ao público-alvo, dando a conhecer ao mesmo, os seus autores. Quero realçar em particular a participação que tive no prefácio, a convite da Editora In-Finita, da Coletânea “Liberdade”, por constituir, em minha opinião, uma referência nas publicações recentes de poesia em Portugal, editada por ocasião das Comemorações do Cinquentenário da Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal. Um exemplo a ressaltar e enaltecer, de coragem, na visão de prestação de serviço à Comunidade, na Edição Literária. Parabéns, à Coordenadora Adriana Mayrinck e à magnífica Equipa Editorial!
Que trabalhos tem desempenhado como autor? Quais as obras mais recentes? E que novos projetos estão no horizonte?
Os livros que tenho publicado, inserem-se numa linha definida de publicações temáticas sobre assuntos candentes a cada momento, de que enquanto autor dou testemunho, e que pelo meu posicionamento e percurso social e académico, me trazem responsabilidade acrescida na transmissão de um legado, que possa constituir mais-valia, ao que possa ser publicado por outrem. Neste alinhamento, e através de um espírito de permanente observação crítica construtiva do meio envolvente, flui a minha poesia, na procura de conseguir contribuir para a correção daquilo que possa estar mal, como as afrontas à dignidade humana (ex.: fome, pobreza, miséria, guerra, discriminação), entre outras. Simultaneamente, um olhar contemplativo sobre a vivência sentida de cada momento do meu percurso de vida, espelhada nos poemas. O objetivo final é o de criar massa crítica através da leitura dos meus livros:
– Ensinamentos de uma vida (1996 – Edição de Autor, com o Pseudónimo de “André Portugal, ISBN: 972-97277-0-8”;
– Poesia no quotidiano (1997 – Edição de Autor, com o Pseudónimo de “André Portugal, ISBN: 972-97277-1-6”;
– Novas Causas. Sempre a Poesia (2022 – 1ª Ed. Prime Books, ISBN: 978-989-655-504-7);
– Cidadania. Poesia, Pensamento e Literacia (2023 – 1ª Ed. Prime Books, ISBN: 978-989-655-516-0);
– A Língua Portuguesa que nos Une (2024 – 1ª Ed. In-Finita, ISBN: 978-989-9143-70-8);
Esta minha última publicação, ao revelar a poesia de um “Viajante Lusófono”, no caso o próprio autor, aumentou o desejo de dar a conhecer a minha poesia aos falantes da Língua Portuguesa em todo o mundo e em particular dos Países de Língua Oficial Portuguesa. Brevemente será editado pela In-Finita o meu próximo livro temático de poesia, subordinado ao tema “Poesia e Educação” sob o título “A Semente Verde da Esperança”, a que outros se seguirão. Esta edição programada de livros tem sido acompanhada de participação em múltiplas Antologias de Poesia, elaboração de prefácios, introduções de livros e apresentações literárias a convite e bem assim, entrevistas, de que esta é um exemplo.
O que exatamente influencia o seu trabalho?
A vontade de continuar a edição de Poesia em Língua Portuguesa, deixando a poesia fluir de acordo com o porvir, sem preocupações de o fazer, mas com o compromisso de realizar, conforme haja a necessidade imperiosa de acontecer. Simultaneamente, pretendo desfrutar a vida familiar e cumprir o meu mandato enquanto presidente da Associação Portuguesa de Poetas. Inspiram-me as pessoas simples e os bons exemplos de vida. Inspiram-me os Poetas que Amam Portugal, a Língua Portuguesa e Lisboa. O meu poeta predileto é Fernando Pessoa, especialmente pelo seu amor à Língua Portuguesa e pela visão que tinha acerca da sua capacidade de união em torno de si, de todos os falantes desta Língua; pelos seus heterónimos, de que tenho predileção por Álvaro de Campos, pela sua poesia livre, com a qual me identifico, e também pela sua vivência em Lisboa que tanto amo. O livro subordinado ao título “A Língua Portuguesa que nos Une”, foi pelas razões apontadas, o que de entre as minhas publicações mais sinto ter-me permitido aproximar mais deste insigne poeta, que humildemente tenho como referência e procuro seguir.
Quem é Ivo Álvares Furtado?
Ivo Furtado é natural de Margão (Goa- Índia), de nacionalidade Portuguesa, 72 anos, médico (formação: licenciado e doutor pela Universidade de Lisboa; agregado pela Faculdade de Medicina de Lisboa; professor catedrático de medicina, na especialidade de anatomia, pela Universidade da Madeira, jubilado em Julho de 2022); escritor, membro nº 1556 da Associação Portuguesa de Escritores e sócio nº 416 da Associação Portuguesa de Poetas. Atualmente, partilho o meu tempo entre o desempenho das funções de presidente da Associação Portuguesa de Poetas, cargo para o qual fui eleito no triénio de 2023-2026, a escrita e a família.