Da Redação
Uma obra que pretende destacar as vivências, os momentos de superação e a coragem de todos aqueles que conheceram o desafio da migração, em particular, nos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Este é o livro ‘Carreiras Lusófonas – Experiências e Desafios da Migração’, da autoria da luso-timorense Berta Montalvão, membro da Comissão Executiva da Confederação Empresarial da CPLP.
A obra foi apresentada na tarde de 16 de maio, na sede da CPLP, em Lisboa. ‘Carreiras Lusófonas – Experiências e Desafios da Migração’ retrata as histórias de vida de 16 cidadãos lusófonos com experiência de trabalho em pelo menos um país da CPLP. Além dos desafios da mobilidade, abordam-se as questões relacionadas com os vínculos familiares, a gestão das emoções, o crescimento pessoal, a integração numa nova cultura e a trajetória profissional, promovendo-se reflexões sobre a busca de melhores condições de vida, as oportunidades de trabalho e o desenvolvimento de competências.
Em algumas histórias são focados os motivos para a partida e as ambições e projetos de vida que pretenderam alcançar com as decisões que tomaram. Noutras é abordada a partida inesperada de um país, fruto do período da independência das colônias portuguesas.
Através de um storytelling, o livro revela os testemunhos de quem já viveu e trabalhou em diferentes países da lusofonia, além de Portugal: Edson Athayde (Brasil), Cláudio Bento França (Angola), Pedro Lagrifa (Angola), Helena Viegas Lopes (Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Angola), Matilde Freitas Fortes (Cabo-Verde, Angola), Silvânia Santos (Brasil), Isabel Nolasco (Timor-Leste), Nelson Costa (Moçambique, Angola), Roselyn Silva (São Tomé e Príncipe), Izabel de Paula (Brasil), Soraia Sulemane (Moçambique, Angola), Nádia Neves (Cabo Verde, Angola), Abdel Camará (Guiné-Bissau), Sidney Cerqueira (Guiné-Bissau), Rui Dinis (Brasil) e Berta Montalvão (Timor-Leste, Angola).
“São 16 histórias reais, de pessoas comuns, que vivem ou viveram na primeira pessoa a experiência da migração. Esta pluralidade de perspetivas torna o livro relevante e enriquecedor para quem pretende compreender as experiências e os obstáculos dos profissionais migrantes. Para quem pretende sair do seu país, pode contribuir para um melhor planeamento do movimento migratório, evidenciar novas realidades sociais e diferentes formas de trabalhar, promover uma atitude positiva perante a mudança e maior resiliência face a situações nunca antes experienciadas”, afirma Berta Montalvão.
A origem da obra prende-se com o percurso de vida e trabalho de Berta Montalvão, na área de Gestão de Recursos Humanos, em mercados emergentes como Angola e Timor-Leste, desde 2005, que lhe deu a oportunidade de se cruzar com pessoas com histórias de vida impactantes.
A ideia de escrever o livro começou a desenhar-se após 2020, quando regressou a Portugal para estar junto da família, depois de perder o pai, e ter recebido o desafio para uma posição de liderança numa empresa de reconhecimento mundial. O feedback da entrevista, conduzida por um conceituado headhunter, acabou por dar o mote para a obra.
“Na altura, disponibilizei-me a ouvir o que tinham para me oferecer, já que o meu perfil tinha despertado o interesse para me contactar. Aconteceu tudo muito rápido e, ao fim de algumas semanas, a mesma fonte que inicialmente referiu que o meu currículo tinha sido considerado para a posição em causa, dizia-me que, afinal, não correspondia ao que pretendiam, por falta de network e experiência de trabalho em Portugal. Não fazia sentido, sobretudo, porque não tinha sido eu a candidatar-me”, começa por explicar a autora, adiantando que aquelas palavras “entoaram na cabeça durante semanas”.
“Quis ir ao cerne da questão e perceber qual o ‘mal’ do meu percurso profissional em Angola e em Timor-Leste. Demorei algum tempo a aceitar os parcos argumentos, e isso motivou-me a começar a responder a anúncios de emprego para perceber a reação do mercado de trabalho. As respostas não tardaram a surgir: quase todas, com palavras de encorajamento, davam conta que não tinha sido selecionada e que tinham optado por outros candidatos mais qualificados. Quando comecei a falar com alguns amigos que tinham regressado a Portugal há mais tempo, percebi que não estava sozinha”, conta Berta Montalvão, revelando ter sido esse o incentivo final para redigir o livro.
O prefácio da obra foi redigido por Zacarias da Costa, Secretário Executivo da CPLP, que na apresentação da obra destacou a pertinência da temática da migração: “Num momento em que este tema volta a estar no centro dos debates, é oportuna esta ocasião. É um livro que proporciona uma visão perspicaz e envolvente sobre a vida dos nossos cidadãos no espaço da CPLP. A temática da migração, tão intrínseca à experiência humana, desempenha um papel crucial na essência política, económica e social da CPLP. Como uma comunidade unida na sua diversidade, a CPLP representa a ideia de mudança e deslocação de pessoas através das fronteiras internacionais, quer por opção, quer por circunstâncias inesperadas”.
Zacarias da Costa salientou que a obra “oferece um olhar único e perspicaz sobre os desafios sociais e os impactos da migração dentro da CPLP” e “reforça a necessidade de uma agenda de mobilidade atenta às necessidades e aspirações de todos”.
‘Carreiras Lusófonas – Experiências e Desafios da Migração’ está disponível para venda em https://tinyurl.com/ysapc6ch.
Biografia | Berta Montalvão
Licenciada em Gestão de Recursos Humanos pelo ISCTE, e com um Programa de Executivos em Gestão pelo INDEG e de Corporate Governance pela Nova SBE, Berta Montalvão conta com cerca de 20 anos de experiência, tendo vindo a desenvolver a sua carreira em vários países lusófonos, nas áreas de Consultoria e Direção de Recursos Humanos. Do seu percurso profissional fazem parte inúmeros projetos desenvolvidos nos setores público e privado e, mais recentemente, no terceiro setor.
Iniciou a sua carreira em 2003 como Técnica de Formação em Portugal, tendo mudado para Angola, em 2005, para abraçar desafios como Consultora de Recursos Humanos, função que exerceu durante 10 anos em várias empresas nacionais e multinacionais, entre as quais se destaca a PwC.
Em 2015 decidiu ingressar num projeto inovador na área do retalho alimentar e não alimentar, como Diretora de Recursos Humanos, em Luanda, acumulando com a função de Membro da Comissão Executiva. Com a empresa estabilizada, em maio de 2018, decidiu que era tempo de deixar Angola e descobrir novos horizontes. Cinco meses depois, aterrava em Timor-Leste para fundar o seu próprio negócio, uma pequena consultora especializada na área da Gestão de Recursos Humanos, a FORSAE – Growing Value.
Com a pandemia, começou a sentir que era tempo de voltar a casa. Perdeu o pai e fez mais sentido estar próximo da família. 2023 foi o ano do regresso. Iniciou o seu Doutoramento em Sociologia Económica e das Organizações, no ISEG, para estudar a fundo o tema da migração de retorno. Recentemente, criou a beGLOCAL, em Portugal, para colocar em prática as suas vivências e experiências internacionais, na perspetiva da diversidade cognitiva e inclusão.
Atualmente, é ainda membro da Comissão Executiva Confederação Empresarial da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e membro da Comissão Executiva e representante de Timor-Leste na Lusofonia Digital, um movimento global sem fins lucrativos, que se propõe a democratizar o acesso ao conhecimento científico nos países lusófonos, bem como a promover a transformação digital na sociedade e nas organizações.
É luso-timorense e desde cedo habituou-se a lidar com os temas da migração, a ver os irmãos partir para novas geografias e a ter amigos de diferentes nacionalidades. Considera ser uma pessoa analítica, observadora e está sempre disponível para ajudar no que for preciso. Adora viajar, conhecer novas culturas e viver experiências.