Em SP, presidente francês critica acordo entre Mercosul e União Europeia

Da Redação com agencias

 

Após se reunir com empresários e ministros brasileiros, dia 27 em São Paulo, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que não defende o acordo que está sendo costurado entre os países do Mercosul e a União Europeia.

Segundo ele, o atual acordo está sendo negociado há mais de 20 anos e não foi atualizado, prevendo, por exemplo, temas como o clima. Para ele, o acordo “precisa ser renegociado do zero”.

“O Mercosul é um péssimo acordo como ele está sendo negociado agora. Esse acordo foi negociado há 20 anos. Eu não defendo esse acordo. Não é o que queremos”, disse. “Deixemos de lado um acordo de 20 anos atrás e construamos um novo acordo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade”, destacou, a agencia Brasil.

Macron participou do Fórum Econômico Brasil-França, realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista. Antes do compromisso de Macron em São Paulo, Macron esteve em evento na cidade de Itaguaí, no Rio de Janeiro.

Depois seguiu para em Brasília, onde se encontra novamente com o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

O posicionamento de Macron contraria o governo brasileiro. Antes da fala do presidente francês, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, havia defendido o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. “O Mercosul ampliou mais um país este ano, que é a Bolívia. Fizemos um acordo com Cingapura e houve conversas com a União Europeia. O presidente Lula sempre fala que tem que haver reciprocidade. É o ganha-ganha. Nós conquistamos mercado, nós abrimos o mercado”, disse Alckmin.

Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também havia defendido o acordo, dizendo que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva “vai continuar insistindo nele”. Haddac chegou a comparar um possível acordo entre o Mercosul e a União Europeia com a aprovação da reforma tributária no Brasil. Segundo ele, o Brasil demorou 40 anos para aprovar a reforma tributária que “colocou um ponto final no caos tributário”.

“Não devemos desistir desse acordo. Se foi possível aprovar a reforma tributária depois de 40 anos, por que não, depois de 20 (anos) aprovar um bom acordo União Europeia e o Mercosul”, disse Haddad ao discursar durante o evento.

Em São Paulo, Macron disse “estar muito feliz em estar” na cidade. Ele transmitiu aos empresários brasileiros três importantes mensagens: “as empresas francesas acreditam no Brasil, as empresas brasileiras devem acreditar mais na França e temos uma agenda comum para conseguirmos superar os grandes problemas e que nos levem para uma transição energética”.

Em seu discurso, Macron destacou principalmente o segundo ponto, afirmando que as empresas brasileiras podem acreditar na França porque medidas econômicas foram tomadas pelo governo francês, como a criação de empregos e investimentos maciços, para tornar o seu país atraente aos negócios. “É preciso acelerar, ir mais longe. A França será a porta de entrada ao mercado europeu”, disse ele.

Ele também destacou o papel do Brasil e da França no enfrentamento das emissões de carbono. Para ele, os dois países juntos podem superar esse problema, criando regras mais claras, redobrando esforços e aperfeiçoando os acordos bilaterais.

Macron também participou da inauguração do Instituto Pasteur, na Universidade de São Paulo (USP); de encontro com jovens da Fundação Gol de Letra junto ao ex-jogador Raí e um jantar com personalidades brasileiras da cultura e do esporte.

Submarino

Já está flutuando e, em breve, submergindo nas águas brasileiras o submarino Tonelero, o terceiro fruto de uma parceria entre Brasil e França, no âmbito do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub). A cerimônia de batismo e lançamento da embarcação contou com a participação dos presidentes dos dois países, Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron, no Complexo Naval de Itaguaí, localizado no sul do Rio de Janeiro.

“Hoje, o Brasil se posiciona dentro de um pequeno grupo de países que dominam a construção de submarinos. O ProSub é o maior e mais importante projeto de cooperação internacional em assunto de Defesa do Brasil. Ele garante a soberania brasileira no nosso litoral; fortalece a indústria naval, com geração de emprego e renda; e promove o desenvolvimento do setor com muita inovação”, discursou o presidente Lula durante o evento.

Em discurso, Macron disse que o estaleiro construído para a fabricação do submarino é um dos mais modernos do mundo e o único instalado na América do Sul. “Jamais compartilhamos tanto o nosso know how como estamos fazendo agora com o Brasil. Temos muito orgulho de ter feito isso”, disse o presidente francês.

Em 2025, ano em que se comemorará o bicentenário de relações entre os dois países, será lançado o Angostura, o quarto submarino do programa.

De acordo com o Planalto, a expectativa é de que o ProSub resulte em um “impacto significativo” na economia do país, gerando mais de 60 mil empregos diretos e indiretos. Cerca de 700 empresas estão envolvidas no projeto.

Amazônia

No início da visita em Belém do pará, Macron concedeu a Ordem Nacional da Legião de Honra ao líder indígena da etnia kayapó, cacique Raoni Metuktire. É a maior honraria concedida pela França a seus cidadãos e a estrangeiros que se destacam por suas atividades no cenário global.

Os dois presidentes lançaram um plano de alavancar investimentos públicos e privados de 1 bilhão de euros, o equivalente a R$5,39 bilhões em projetos de economia sustentável na Amazônia Legal e na Guiana Francesa para os próximos quatro anos. Os chefes de Estado foram recebidos pelo governador do Estado, Helder Barbalho.

O plano deverá permitir investimentos na conservação e no manejo sustentável das florestas e o planejamento e valorização econômica dos ecossistemas e áreas florestais; nas tecnologias baseadas em recursos biológicos, práticas agroecológicas e conhecimentos tradicionais; em cursos de capacitação, na criação de empregos e na pesquisa necessária para desenvolver indústrias sustentáveis, com alto potencial nos mercados interno e externo, em todos os setores da economia florestal, incluindo o setor da agricultura, que contribuam para a conservação, o manejo sustentável e/ou a restauração das florestas e da biodiversidade e que coloquem os povos indígenas e as comunidades locais no centro da tomada de decisões.

Os dois presidentes e o governador do Estado estiveram na Ilha do Combu, na margem sul do Rio Guamá, e acompanharam a produção artesanal e sustentável do cacau na localidade, fizeram também uma visita à fábrica de chocolates “Filha do Combu”, gerenciada pela empreendedora Dona Nena, exemplo de bionegócio, segundo Agencia Pará.

Foto Ricardo Stuckert

 

Oposição critica visita de Macron ao Brasil:
“Soberania nacional corre o risco de ser trocada por um passeio de mãos dadas pela floresta”, diz deputado

Mundo Lusíada – A oposição da ala mais conservadora brasileira se manifestou com críticas e questionamentos sobre os reais motivos do francês se deslocar por três dias ao Brasil, com especial enfoque na floresta da Amazônia.
A Senadora Tereza Cristina (pelo Mato Grosso do Sul), Deputada Federal por 2 mandatos e Ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi uma que criticou numa postagem a visita do presidente francês, falando sobre o encontro em São Paulo que, “O que se viu ontem à noite na Fiesp foi a empáfia do eurocentrismo! Macron se recusou a discutir o Acordo Mercosul-UE com o governo brasileiro, mas jogou na cara do PIB nacional, do ministro da Fazenda e do vice-presidente, que o tão esperado Acordo é ‘péssimo, antiquado e deve recomeçar do zero!’. Sua diplomacia é que merece nota zero!”
Segundo a Senadora, Macron usou a afronta ao Brasil “para ganhar pontos com seu público interno”. Tereza defendeu que o Acordo Mercosul-UE foi periodicamente revisado e atualizado em 2019, quando foi finalmente assinado em Bruxelas.
“Por fim, por que a França pensa que o Brasil e o Mercosul vão querer passar mais dez anos rediscutindo tudo? O mundo é vasto, os portos são muitos e outros acordos bilaterais ou multilaterais estão abertos para nós, inclusive na Europa”, completou.
O senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão chamou Lula de “irresponsável” numa postagem feita no “X” dizendo que a declaração do brasileiro foi “criminosa” por sugerir um compartilhamento das riquezas e da biodiversidade:
“Na Amazônia, a declaração irresponsável de Lula, ao lado de Macron, dizendo ‘queremos compartilhar com o mundo a exploração da pesquisa das nossas riquezas e biodiversidade’ é notadamente criminosa, uma vez que impacta diretamente na nossa soberania. Qual o país que divide o conhecimento de suas riquezas com outros? Onde ficam seus cidadãos?”
Também o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro comentou se referindo ao encontro entre chefes de estado dizendo que “geralmente termina em assinatura de acordos. Contudo, de acordo com o caráter do chefe de estado, alguns, desses compromissos (inenarráveis), são apenas verbais”. E também parabenizou o deputado Filipe Barros, do Paraná, por questionar, via requerimento de informação, “a verdadeira causa da visita de Macron ao Brasil, com passagem estratégica pela cobiçada região Amazônica”.
Por sua vez o Deputado Federal pelo Paraná, Filipe Barros, (citado por Bolsonaro), explicou que protocolou um requerimento de informação, que é prerrogativa de qualquer parlamentar. O documento vai direto pra Mesa Diretora da Câmara que, encaminha o requerimento ao governo que tem 30 dias para responder.
“Graças ao nanismo diplomático de Lula, a soberania nacional corre o risco de ser trocada por um passeio de mãos dadas pela floresta. Macron não ficaria três dias no Brasil em troca de um book fotográfico na selva. Precisamos entender os interesses envoltos na visita. Entrei com requerimento para o (des)governo explicar essa ‘agenda verde’ enquanto as contas públicas estão no vermelho e a dengue já matou quase mil pessoas em 3 meses”, disse o deputado.

 

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