Ministro brasileiro confirma que assessor vai à Ucrânia e ucranianos suspendem protesto em Lisboa

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, reuniu-se nesta sexta-feira, na Embaixada do Brasil em Lisboa, com representantes da comunidade de ucranianos em Portugal. Foto: Cláudio Kbene/ Reprodução GOV
[Atualizado 22/04/2023]

Da Redação com Lusa

O ministro de Estado brasileiro, Márcio Macedo, confirmou, após um encontro com a Associação de Ucranianos em Portugal, que o Presidente Lula da Silva determinou que o seu assessor para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, visite a Ucrânia.

“O Presidente Lula determinou e me orientou que dissesse [à Associação de Ucranianos em Portugal] que o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, que esteve na Rússia, vai visitar a Ucrânia”, afirmou Macedo, em Lisboa, acrescentando que a visita não tem ainda data, até por questões de segurança.

Segundo o responsável, no encontro os ucranianos disseram que já não participarão dos protestos no dia 25 de abril, previstos em frente à Assembleia da República, contra o Presidente brasileiro, que chegou a Lisboa para uma visita oficial de cinco dias.

O ministro de Estado recebeu hoje, por determinação do Presidente brasileiro, a Associação de Ucranianos em Portugal na embaixada brasileira em Lisboa, de quem recebeu uma carta. A missiva solicitava “a intervenção de Lula da Silva nesse conflito da Rússia contra a Ucrânia e convidava o Presidente Lula para ir à Ucrânia”, explicou.

Da parte do ministro de Estado foi explicada a posição do Governo brasileiro e do Presidente face ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

“A vocação do Presidente Lula é pela paz. Então eu disse que recebi eles com muita honra”, afirmou Márcio Macedo, adiantando que “o Presidente vai trabalhar para unir outros países para se buscar uma alternativa para acabar com esse conflito, que não faz bem à humanidade e que já durou tempo demais”.

A posição do Presidente brasileiro, frisou “é de juntar países que possam ajudar a encerrar o conflito”.

Quanto a toda a polêmica e críticas de que o Presidente brasileiro foi alvo após declarações feitas sobre o conflito, o ministro de Estado acha que houve “uma interpretação que não condiz com a posição do Presidente Lula”. E realçou: “Lá no diálogo não tinha nenhuma animosidade [com os ucranianos], pelo contrário, foi uma reunião muito boa”.

“O Presidente me solicitou que eu em nome dele me solidarizasse com todas as famílias vitimadas por essa guerra”, continuou, e que dissesse que Lula da Silva, “tal como teve a obsessão de, no Brasil, acabar com a fome, também tem a determinação de ajudar a que esse conflito acabe”.

Quanto à posição da União Europeia e de Portugal, o ministro no Governo de Lula afirmou: “Nós respeitamos a posição do continente europeu e dos países que estão de alguma forma envolvidos no conflito, mas a posição do Brasil é de neutralidade. Por uma razão muito simples, é que se o Brasil tomar partido por um lado ou por o outro perde a autoridade política de juntar pares e países para encontrar um caminho para a paz”.

“Esse é o sentimento do Presidente Lula e essa é a tradição do Brasil”, assegurou.

O governante lembrou que o Brasil “tem a resolução da ONU que condena a invasão de um país ao outro” e defende “a soberania dos países e a autodeterminação dos povos”.

“O Presidente Lula quer com a liderança que tem hoje no mundo encontrar países que tenham a determinação de não se envolver no conflito, de não tomar posição nem para um lado, nem para o outro, para ter condições políticas de encontrar um caminho para a paz e para acabar com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia”, concluiu.

O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou hoje a Lisboa para uma visita oficial a Portugal, com uma agenda intensa, que inclui uma cimeira luso-brasileira.

Lula estará em Portugal até 25 de abril, dia em que se desloca para Madrid, com vários ministros, entre os quais da Cultura, Transportes, Saúde, Defesa, Ciência e Tecnologia, Igualdade Racial e Direitos Humanos e da Cidadania.

“Acreditamos que esta vinda à Ucrânia pode ajudar a perceber o que os russos estão a fazer na Ucrânia (..) e explicar ao presidente do Brasil que a paz só se consegue quando as tropas russas saírem da Ucrânia”, adiantou o presidente da comunidade, Pavlo Sadoka, após ter sido recebido na embaixada.

O encontro em frente à embaixada reuniu cerca de meia centena de ucranianos que vivem em Portugal, que erguiam bandeiras nacionais e cartazes com fotografias de mortos da guerra no país, com dizeres como “obrigado Portugal” ou “a Rússia é um país terrorista”, acompanhados de músicas ucranianas.

A comitiva recebida na embaixada esteve quase uma hora em reunião e, segundo o presidente da comunidade, conseguiu cumprir o objetivo de “mostrar a posição” dos ucranianos, em relação às declarações de Lula, e reforçar que a guerra só pode terminar depois de as tropas russas saírem do território ucraniano.

Tanto o embaixador como o ministro explicaram que o presidente brasileiro “está a procurar uma formula de paz, para acabar esta guerra”, e a comunidade ucraniana diz disse que agradece. “O povo ucraniano escolheu o seu destino democrático e vamos continuar a lutar por isso”, concluiu.

Sem protestos

Já neste dia 22, o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal afirmou que nunca esteve prevista qualquer manifestação de protesto contra o Presidente do Brasil, mostrando-se surpreendido pelas palavras em sentido contrário avançadas pelo membro do Governo brasileiro.

“Não falamos sobre as manifestações até porque nunca estiveram previstas manifestações, nem para hoje, nem para terça-feira [25 de abril]. O único ato que tínhamos previsto era a entrega de uma carta aberta na embaixada”, explicou hoje à Lusa o presidente da associação.

Para Sadokha, a delegação ucraniana que entrou e conversou com Macedo saiu da embaixada com a mesma ideia que tinha sobre as palavras de Lula da Silva, destacando que o único ponto positivo foi a decisão tomada pelo Presidente brasileiro de enviar o antigo chefe da diplomacia à Ucrânia para avaliar a situação.

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