Da Redação
Há 450 anos, o português Luís Vaz de Camões escreveu “Os Lusíadas”, poema épico inserido no hall das obras mais importantes da literatura de língua portuguesa. E há 150 anos, o intelectual e abolicionista Joaquim Nabuco escreveu “Camões e os Lusíadas”, publicação que traça a biografia do poeta português até a concepção da sua renomada epopeia que, no ano em que o ensaio foi lançado (1872), completava três séculos.
Na quarta-feira, dia 30, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), casa da qual Nabuco é patrono, reviveu sua memória, lançando uma edição revisitada da publicação. O presidente da Fundaj, Antônio Campos, e José Thomaz Nabuco de Araújo, representando a Família Nabuco, conduziram a solenidade.
Com selo da Editora Massangana, da Fundaj, a obra de Joaquim Nabuco foi lançada nesta tarde em solenidade realizada na Sala José de Alencar, na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro.
Na presença dos familiares do abolicionista, representados à mesa pelo neto, o presidente da Fundaj, Antônio Campos, o acadêmico da ABL, Joaquim Falcão, e o diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundaj, Mario Helio, a publicação, que havia sido lançada internacionalmente na Universidade de Coimbra, em 7 de setembro passado, chega, agora ao público brasileiro.
“A edição dessa obra de Nabuco, escrita em seus 23 anos, não deixa de ser um paradoxo neste ano, do tal falado bicentenário. No momento em que um homem que combateu a escravidão, principal ganho do império português durante 350 anos de escravidão, seu pensamento é extremamente atual. A grande marca desse país, a marca dura e cruel, é a escravidão. Sabemos que Nabuco morreu inquieto com a forma como se deu o fim da escravidão no Brasil. E seu pensamento social está na pauta do dia”, destacou Antônio Campos, que esteve acompanhado de sua mulher, Rita Lira.
O presidente da Fundaj acrescentou que o lançamento da publicação resgata o amálgama que une Brasil a Portugal. “E Nabuco, nessa obra ensaísta, mostra o tamanho de sua escrita e talento”, afirmou.
Agradecimento
Neto de Joaquim Nabuco celebrou a reedição da obra do avô e agradeceu a Fundação pela iniciativa. “Uma alegria essa reedição. Digo isto em nome da família Nabuco. Só conhecia um único exemplar deste livro, o primeiro. Que vi lá em casa, na biblioteca. Ressalto que o prefácio, que já li, está fantástico”, disse José Tomás Nabuco de Araújo .
O pernambucano e acadêmico da ABL, Joaquim Falcão, fez as honras da Casa, saudando a Fundação e a família Nabuco. “Esta Casa é de Nabuco. Ele está presente nesta Academia desde sua criação, há 125 anos”, destacou.
Joaquim Falcão lembrou, ainda, que quando a ABL foi criada havia duas vertentes: a de Joaquim Nabuco e a de Machado de Assis. Nabuco achava que a Academia era para intelectuais de diversas áreas da cultura. Machado, que ficasse restrita a escritores.
“Após 125 anos, essas duas vertentes se mantêm. Às vezes ganha a de Machado, às vezes a de Nabuco. Atualmente, é a de Nabuco que está ganhando. Trouxemos para cá Fernanda Montenegro e Gil (Gilberto), por exemplo. Estamos ampliando para que abranja uma gama maior de expressões da nossa cultura. Tenho defendido um indígena na Academia”, atesta.
Em relação à publicação lançada nesta tarde, Joaquim Falcão ressaltou uma passagem do livro “Minha Formação”, de Nabuco, na qual ele conta sua impressão sobre a primeira vez que viu o mar. “Nabuco disse que de repente a terra se tornou líquida e movente. Como descreveríamos a sociedade hoje? Líquida e movente! Joaquim Nabuco foi Bauman, sem saber, e bem antes”, afirma. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman define assim o tempo presente, como líquido, volátil e fluído.
Família Nabuco
Pai de cinco filhos (Maurício, Joaquim, Carolina, Mariana e José Tomás), Joaquim Nabuco deixou um legado como intelectual, diplomata e abolicionista. Na cerimônia, neto, bisnetos e trinetos celebraram a reedição de “Camões e os Lusíadas”. Nomes como o de José Tomás, filho de José Tomás Araújo, único da família a casar e ter filhos, se uniram aos mais jovens da família, como os trinetos Pedro, Bernardo e Caio.
“Esse livro é de um jovem de 23 anos, claramente escrito com a paixão de um escritor. Essa reedição é fiel a Nabuco, mas o traz para o tempo de hoje, na ortografia e na tradução do latim. O deixamos legível para futuras gerações. Para os futuros Nabuco”, observa Mario Helio, destacando que o mérito dessa reedição é do presidente da Fundaj, Antônio Campos, que lembrou da publicação e teve a iniciativa de solicitar a publicação.
Além da família Nabuco, estiveram presentes o presidente do Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Victorino Coutinho, e o filho mais velho do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, José Almino.
Publicação
A versão digital de “Camões e os Lusíadas” foi apresentada ao público em 19 de agosto passado, mesmo dia em que se completaram 173 anos do nascimento de Joaquim Nabuco. A apresentação foi realizada durante a reabertura das atividades do Engenho Massangana, equipamento cultural vinculado ao Museu do Homem do Nordeste (Muhne), localizado no Cabo de Santo Agostinho, onde o patrono da Fundaj passou parte de sua infância.
Já em 7 de setembro passado, foi lançada, internacionalmente, a versão imprensa, na Universidade de Coimbra, em Portugal, com sucesso de público.
Para a ABL, o lançamento celebrou a “riqueza da herança luso-brasileira”.