Por Eduardo Neves Moreira
Quando se pretende abordar as relações luso-brasileiras, é obrigatório, que não se prescinda da responsabilidade de examinar a importância das relações históricas, culturais, linguísticas e sociais que unem portugueses e brasileiros.
Não se pode esquecer todo o empenho, o sangue derramado e a perda de milhares de vidas, para que o território brasileiro pudesse ser ocupado, definido, mantido e integrado, permitindo que o Brasil, este exemplo de grandiosidade, de solidariedade e de expressão mundial, se afirmasse no contexto internacional. A garantia do território, sua expansão e as diversas iniciativas que permitiram a manutenção da uniformidade linguística em todo o território nacional, são fatos que têm que ser creditados, em quase sua totalidade, aos portugueses, que com imenso sacrifício conseguiram construir este gigante que é o Brasil.
As comemorações do centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, unindo Portugal e Brasil, feito obtido por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, bem como o Segundo Centenário da Independência do Brasil, são efemérides que devem servir para fortificar, ainda mais, as privilegiadas relações entre as duas nações lusófonas, num momento da história em que a emigração brasileira para Portugal atinge números nunca antes detectados, fator que só tende a aumentar a integração entre os dois povos, isto depois de muitas décadas em que a emigração portuguesa para o Brasil foi preponderante.
Dentro dos diversos eventos programados para as citadas comemorações, estão previstas para este final de semana a visita do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ao Brasil, onde ele visita as comunidades portuguesas do Rio de Janeiro e de São Paulo, inaugurando uma placa comemorativa do centenário da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, na zona portuária do Rio de Janeiro. Viaja em seguida para São Paulo, onde participa da instalação da Bienal do Livro, que homenageia Portugal, na presente edição. Por fim, desloca-se a Brasília, onde está previsto um encontro e recepção por parte do presidente Jair Bolsonaro.
Para surpresa geral, a imprensa está anunciando que o presidente Jair Bolsonaro, diante da notícia de que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, irá receber, no Consulado Geral de Portugal em São Paulo, o ex-presidente Lula da Silva, para um encontro que deverá abordar temas políticos e educacionais, teria resolvido cancelar o encontro e a recepção, já programadas. Tal fato, se ocorrer, será inédito e sem qualquer sombra de dúvida, abalará as relações luso-brasileiras, pois será um ato deselegante e constrangedor.
É de se compreender que o presidente Jair Bolsonaro, fique contrariado com a notícia do encontro preliminar do presidente Marcelo com Lula da Silva, pois acaba por demonstrar uma simpatia por uma pessoa que, na sua linha de ação política, tem declarado sua preferência pela ideologia comunista, participando como figura de proa no Fórum de São Paulo, cujo objetivo é criar uma União das Repúblicas Socialistas da América do Sul, isto com perda de identidade nacional das nações participantes. O professor Marcelo, com toda a inteligência que possui e sua diplomacia preponderante, aliada à sua simpatia que há muito tempo cativa o povo português, deveria ter refletido ao fazer o convite para o ex-presidente e candidato à Presidência da República, Lula da Silva, deixando para outra oportunidade o encontro e nunca previamente ao encontro com o presidente Jair Bolsonaro. Foi uma atitude impensada, principalmente, pelo fato de, por ocasião de sua última visita ao Brasil, quando teve outro encontro com Lula da Silva, ter causado perplexidade e desconforto. No entanto, de parte do presidente Jair Bolsonaro, está havendo uma decisão, imprópria e desnecessária, que, certamente, causará constrangimentos e prejuízo nas relações bilaterais. Sabemos do temperamento do presidente Bolsonaro, que lhe é peculiar, mas, como se trata das relações especiais entre os dois países, o fato do encontro do presidente Marcelo com Lula deveria ser ignorado e ultrapassado. Façamos votos de que o presidente Jair Bolsonaro reflita quanto à sua destemperada atitude e resolva manter o encontro, pois será de grande importância para as relações luso-brasileiras e para as comunidades emigrantes de portugueses no Brasil e de brasileiros em Portugal. Deus o ilumine!
Por Eduardo Neves Moreira
Ex-Deputado da Assembleia da República Portuguesa
Ex-Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Brasil
Ex-Presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas
Vice-Presidente da Academia Luso-Brasileira de Letras