Mundo Lusíada com Lusa
Várias dezenas de portugueses participam em Cracóvia, na Polônia, no esforço de ajuda aos refugiados da Ucrânia, e pelo menos um deles alojou uma família ucraniana, revelou à Lusa Nuno Gonçalves, emigrado há oito anos no país.
Engenheiro informático natural de Grândola, Nuno Gonçalves faz parte de “um grande grupo de portugueses” que alertados por grupos no Facebook a pedir ajuda para os refugiados decidiu ajudar “com roupas e artigos para bebê”.
“Temos estado envolvidos na ajuda, no meu caso e da minha esposa com roupas e artigos para bebé – pois temos uma filha de um ano -, que fomos levar a um local onde estão muitas mulheres com filhos pequenos que acabaram de chegar”, explicou o também moderador da Comunidade Portuguesa na Polónia no Facebook e residente naquela cidade no sul da Polônia.
Os refugiados em causa, explicou, atravessaram a fronteira leste com a Ucrânia, perto da cidade de Przemyśl, a cerca de 250 quilómetros, depois de terem fugido, uma grande parte, atravessando a cidade ucraniana de Lviv, explicou à Lusa.
Nos diversos locais de apoio criados em Cracóvia, acrescentou, as pessoas “têm ido levar comida, enlatados e não perecíveis”, descrevendo estar a “haver uma grande mobilização, entre eles muitos portugueses”.
“Há pelo menos um português que está a alojar uma família ucraniana”, revelou.
Por estes dias, Przemyśl, Medyka e Korczowa fazem parte do roteiro de transporte e apoio aos milhares de refugiados da guerra que procuram a segurança na vizinha Polónia, onde mais uma vez graças aos grupos nas redes sociais “aparecem pessoas para fazer o transporte dos refugiados ou há autocarros do Estado para os levar”, contou Nuno Gonçalves.
“Há bases de dados onde as pessoas se podem inscrever para obter alojamento, a comunicação está muito organizada a partir do Facebook e que leva a que cada um se ofereça para o que puder ajudar”, descreveu o português que estimou em “várias dezenas” os emigrantes portugueses envolvidos na ajuda aos refugiados.
Famílias acolhem
Duas famílias refugiadas da Ucrânia vão ser acolhidas em dois apartamentos em Jaworzno, na Polônia, disponibilizados por uma família luso-polaca que admite estender esse apoio a cerca de 20 fugitivos.
Ana Luísa Francisco é empresária, vive há 10 anos na pequena cidade situada entre Cracóvia e Katowice e é lá que, juntamente com o marido, quer fazer a sua parte no esforço para ajudar os milhares de refugiados que diariamente atravessam a fronteira com a Ucrânia para fugir da guerra desencadeada pela invasão da Rússia.
“[A primeira família de refugiados] têm amigos na cidade onde vivemos e, neste momento, estão em casa desses amigos, que não têm condições para ficar com eles, e eu estou a preparar um apartamento que tenho e que estava vazio, reunindo equipamento para o mobilar e, na terça-feira, já poderão ir para lá. Entretanto, estamos a preparar um segundo, em que a situação é igual, para quando a outra família chegar”, relatou a empresária, que admite nos dois casos poderem vir a ser “mulheres com filhos” os agregados que vai acolher.
Entretanto, à segunda família, caso chegue antes de terça-feira, vão pagar “um quarto de hotel” até estes poderem transitar para o apartamento em preparação.
Os refugiados, disse, vêm de locais “perto de Lviv”.
Ana Luísa Francisco disse ser a “única portuguesa a viver em Jaworzno” e que o gesto da sua família pode ainda estender-se a mais refugiados, pois dispõe de “uma terceira propriedade” onde poderão receber “mais cerca de 10 pessoas”, mas para onde terá também de arranjar mobiliário.
“Ao todo poderemos vir a recolher cerca de 20 refugiados”, confirmou.
Natural de Leiria e com família na Figueira da Foz, uma parte do apoio para as famílias ucranianas pode chegar da zona centro do país, assinalou a empresária.
“Devido ao fato de haver várias pessoas em Portugal que querem ajudar estamos a organizar um ponto de recolha em Marinha das Ondas, [na Figueira da Foz] onde os meus pais têm uma empresa, e de onde todas as sextas-feiras saem camiões para Jaworzno, com bens para distribuir por instituições daqui”, disse.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram cerca de 200 mortos, incluindo civis, e mais de 1.100 feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de perto de 370 mil deslocados para a Polónia, Hungria, Moldávia e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), UE e Conselho de Segurança da ONU, tendo sido aprovadas sanções em massa contra a Rússia.
Em Portugal
A Amnistia Internacional – Portugal marcou para este dia 28, às 19:00, vigílias em oito cidades portuguesas para defender os direitos humanos na Ucrânia e exigir o cumprimento do direito internacional humanitário, anunciou a organização.
As cidades onde as manifestações irão acontecer são Chaves, Viana do Castelo, Paços de Ferreira, Viseu, Coimbra, Lisboa, Estremoz e Ponta Delgada.
“A organização pretende relembrar a necessidade de garantir que todos os direitos humanos são salvaguardados e assegurar o cumprimento do direito internacional humanitário, priorizando a segurança e vidas civis”, explica a AI-Portugal em comunicado.
“A invasão da Rússia à Ucrânia tem sido pautada por ataques indiscriminados a áreas civis e ataques a infraestruturas protegidas, como hospitais, o que pode constituir-se como um crime de guerra, colocando a vida de milhares de civis em risco”, alerta a organização, sublinhando que “é urgente o respeito pelas vidas e direitos humanos”.
Por isso, a AI-Portugal resolveu mostrar “por todo o país”, que está atenta e comprometida com “a paz e a proteção dos direitos humanos”, explicou o diretor executivo da organização, Pedro Neto.