Da Redação com Lusa
Seis dos principais bancos que operam em Portugal tiveram 1.043 milhões de euros de lucros entre janeiro e setembro, o que contrasta com prejuízos de 178 milhões de euros do mesmo período de 2020.
A contribuir para a inversão de resultados esteve, sobretudo, o Novo Banco, que passou de prejuízos de 853,1 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2020 para lucros de 154,1 milhões de euros no mesmo período deste ano.
O ano de 2021 é o primeiro em que o banco nascido em 2014 na resolução do BES apresenta resultados positivos.
Já os maiores lucros foram conseguidos pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), que reforçou os resultados positivos em 9,4% para 429 milhões de euros até setembro.
O BPI quase triplicou os resultados positivos para 242 milhões de euros.
Por seu lado, BCP e Santander reduziram os lucros. Os resultados do BCP caíram 59,3% para 59,5 milhões de euros e os do Santander 32% para 172,2 milhões de euros.
O Banco Montepio reduziu os prejuízos de 57 milhões de euros até setembro de 2020 para 14 milhões de euros negativos nos primeiros nove meses deste ano.
Apesar dos lucros, os banqueiros têm dito que a rentabilidade da banca ainda é muito baixa face ao dinheiro investido pelos acionistas.
Esta quinta-feira, na apresentação de resultados, o presidente executivo da CGD, Paulo Macedo, disse que nos últimos anos a rentabilidade agregada dos bancos é negativa e que quando apenas se fala dos lucros não se refere que o dinheiro dos acionistas tem de ser remunerado.
“Há aqueles títulos de que a a banca ganha não sei quanto por dia, quando a Caixa tem 9,4 mil milhões de euros de capitais que tem de remunerar, tem de devolver dinheiro aos contribuintes”, afirmou.
Macedo anunciou que, ainda este mês, a CGD vai pagar um dividendo extraordinário de 300 milhões de euros ao acionista único (o Estado), valor que se junta aos 83,6 milhões que já tinham sido pagos.
O gestor afirmou ainda que, apesar de serem muito positivos os lucros CGD, as condições de negócio futuras do banco público estão “muito difíceis”.
A Consolidação bancária, um assunto recorrente nos últimos anos, foi um dos temas destas apresentações de resultados.
O BCP disse que não está a analisar nenhuma aquisição de bancos. “Isso que fique claro”, reforçou o presidente executivo, Miguel Maya.
Pelo BPI, o presidente executivo, João Pedro Oliveira e Costa, também afirmou que esse não é o foco do banco que dirige: “Não estamos aí focados e não é só conversa, não é o nosso ponto”.
Já o presidente executivo do Novo Banco admitiu que avaliará a compra de bancos mais pequenos, terminada a reestruturação.
“Olharemos para todas as hipóteses de crescimento, sobretudo na segunda linha de bancos”, afirmou António Ramalho, dizendo que eventuais aquisições podem ser feitas a partir do momento em que o banco conclua o processo de reestruturação.
Quanto a créditos com moratórias, depois de no final de setembro ter terminado a moratória da maioria dos empréstimos, os presidentes dos bancos disseram não estar muito preocupados com o incumprimento, referindo que – apesar de haver problemas – a grande maioria dos clientes está a pagar regularmente as dívidas. Mas também referiram que a situação vai evoluir consoante a evolução econômica e o emprego.
O presidente do BCP disse que, em termos gerais, “não há motivo de preocupação especial” sobre o malparado dos créditos cujas moratórias terminaram.
“Desde o primeiro momento dissemos que o que estava em questão não era uma bomba-relógio, era um escudo protetor e os números demonstram-no bem. […] Há problemas com algumas árvores, mas a floresta não tem problema”, afirmou Maya.
Pelo BPI, João Pedro Oliveira e Costa considerou que há “excesso de negativismo” sobre a situação dos créditos no pós-moratórias. Contudo, admitiu algum impacto nas empresas devido a problemas nas matérias-primas, aumento de custos de transportes, entre outros, mas, para já, o banco ainda não sentiu empresas em dificuldades por essas situações.
Disse ainda que as empresas precisam de tempo para normalizar a atividade, após o período mais agudo da crise.
Também o Montepio estimou que “não será expectável um aumento significativo do risco de incumprimento” com o término das moratórias.
O presidente da CGD, Paulo Macedo, disse não prever para já “um problema macro, um problema na banca”.
Em agosto, o Governo aprovou legislação para forçar que os bancos reestruturem créditos de clientes que, após as moratórias tenham problemas em pagar as dívidas. A CGD já reestruturou créditos de 3.000 famílias (no valor total de 330 milhões de euros) e de 600 empresas (com um total de créditos de 150 milhões de euros). Outros bancos não divulgam estes dados.