Da Redação
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 13 pessoas no mundo vive com ansiedade, sendo este o distúrbio de saúde mental mais comum que existe. Trata-se de uma situação tão pandêmica quanto o coronavírus devido a quantidade de pacientes com esta enfermidade.
Para piorar, a pandemia de Covid-19 contribuiu para que esse distúrbio aumentasse na população. É o que revela estudo sobre comportamentos realizado no Brasil, em 2020, pelo Instituto de Comunicação e Informação Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas.
O levantamento chegou à conclusão de que, durante o primeiro ano da pandemia da Covid-19 no Brasil, o sentimento frequente de tristeza e depressão atingiu 40% dos adultos, e a sensação de ansiedade e nervosismo foi reportada por mais de 50% deles. Adolescentes não passaram incólumes. Cinquenta por cento relataram problemas no estado de ânimo. A pesquisa coletou informações de 44.062 adultos e 9.470 adolescentes de 12 a 17 anos.
Outra pesquisa realizada pelo MindMiners, sob coordenação do professor da ESPM e especialista em sustentabilidade, Marcus Nakagawa, aponta que 29% brasileiros sofrem de ecoansiedade, 17% consideram-se estressados, 15%, tranquilos, e apenas 10% estão felizes. A pesquisa entrevistou cerca de mil pessoas, acima dos 18 anos, das classes A, B e C, de todas as regiões do Brasil, entre 23 e 28 de junho de 2021.
Segundo Nakagawa, a pandemia da covid 19 fragilizou ainda mais os brasileiros, abrindo espaço para repensar o antigo modo como a sociedade de consumo tem vivido até agora e refletir sobre si, o seu entorno, a natureza, e a relação que vem mantendo com o meio ambiente.
Brasileiros
O Brasil carrega título de “campeão” em maior número de pessoas ansiosas no planeta. Os números foram alcançados em estudo realizado em 2019, quando a Organização Mundial da Saúde revelou que 18,6 milhões de brasileiros estão sofrendo com problemas neste sentido.
E o índice pode ser ainda maior, pois os dados foram levantados antes da pandemia do coronavírus. Além disso, os pesquisadores avaliaram que 3,6% dos homens brasileiros apresentam o problema, enquanto no caso das mulheres o número alcança 7,7%.
Autor de artigo científico sobre o assunto, o PhD, neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu acredita que “estarmos vivendo um coletivo de transtornos de personalidades dramáticas é devido a sintomas de perturbações que tem como precursor a ansiedade. O conceito foi aprovado pelo comitê científico e publicado; o estudo visa chamar a atenção do que venho tentando alertar desde antes da pandemia, sobre os riscos da ansiedade fora da homeostase e a necessidade de nos mobilizarmos para cuidar da saúde mental de todos”.
O problema, lembra Fabiano, é que na maioria das vezes, quem sofre desses transtornos não reconhece isso e não gosta nem de ouvir falar em saúde mental. Isso acontece porque há um mix de sintomas como: negacionismo, inveja, negação, pensar ter razão mesmo sem base de conhecimento, raiva, ignorância, falta de empatia, falsa sensação de poder, entre outros que resultam em um ciclo que prejudicam na inteligência, memória, atenção, fadiga, oscilações emocionais, entre outros sintomas”.
Segundo o neurocientista, “o córtex pré-frontal, região da inteligência lógica e tomada de decisões se conecta ao sistema límbico, região das emoções e quando essa última região encontra-se em disfunção devido às perturbações derivadas da ansiedade, esta conexão entre as regiões encontra-se prejudicada, prejudicando também na inteligência e no comportamento”.
Além disso, Fabiano lembra que a palavra ansiedade assume dois significados, o que pode ajudar a compreender melhor a dimensão deste problema. “Um sentido é o de pendência; existe para que possamos buscar uma solução como mecanismo de defesa derivado do instinto de sobrevivência. O outro diz respeito aos pensamentos negativos; isso ocorre pois ela busca na amígdala cerebral as soluções, o que faz total sentido, já que precisamos lembrar de situações negativas para não passarmos por aquilo novamente, ou uma nova vez e para que nos dê opções de melhores saídas. Por isso memorizamos melhor na emoção, o impacto reforça engramas de memória para que possamos logo encontrar a solução para melhor sobrevivermos”.
Quando se fala neste transtorno mental, uma das palavras mais mencionadas é a dopamina. Segundo o neurocientista, ela significa recompensa: “Neurotransmissores como dopamina, serotonina, melatonina, adrenalina, entre outros, funcionam como mediadores de humor, trazendo sentimentos de recompensa, felicidade, euforia, satisfação e o organismo busca através da ansiedade um meio de liberá-los em maior quantidade para que possamos seguir adiante e resolver os pensamentos negativos e também novas conquistas para evoluirmos como meio de sobrevivência”.
Na pandemia, saber que o vírus existe e o risco de contrair aciona a ansiedade, assim como confinamento. “Mudar a rotina gera pendência, que por sua vez é a ansiedade. Sentimos falta, mesmo que inconsciente, daqueles hábitos cujos neurônios estavam adaptados e já havia criado a plasticidade sobre esses hábitos. Sua mudança eleva bastante a ansiedade” diz Abreu.
“Buscamos nas redes sociais uma maneira de liberar neurotransmissores da felicidade, conquista e recompensa, mas também encontramos uma atmosfera negativa e ambos os fatores elevam a ansiedade. A produção constante de dopamina leva ao vício para mais liberação, aumentando assim a ansiedade para que libere mais deste neurotransmissor”.
Problemáticas na educação, na política, na vida financeira e violência também estão entre as razões para este ranking. “Todos os acontecimentos levam ao receio, que aumenta a ansiedade sob as expectativas. Fora a atmosfera de revolta que eleva o estresse e por sua vez uma disfunção devido a ativação de hormônios que combatem o estresse. A ansiedade constante também leva ao aumento da produção do cortisol que por sua vez afeta o sistema imunológico. O Brasil por ser o povo mais ansioso, logo é o que tem a imunidade mais afetada, uma das razões para o maior número de mortes por Covid-19”.
“Com o nível educacional baixo, não só há problemas de fortalecimento neuronal na região da inteligência mediante a plasticidade cerebral, como também menor uso da inteligência emocional para controlar a emoção. A leitura é crucial para que a neuroplasticidade reforce a região da inteligência lógica que orquestra as demais inteligências” explica.
Canabidiol
O uso de psicofármacos no tratamento de transtornos mentais se popularizou na medicina por volta dos anos 1950. No entanto, os medicamentos existentes nem sempre funcionam como deveriam e ainda trazem efeitos colaterais tão ruins quanto os causados pelo próprio distúrbio.
Os ansiolíticos não atuam na causa e sim nos sintomas da ansiedade. E os efeitos colaterais mais comuns associados a esse tipo de medicamento são perda de memória, fadiga, sedação, sonolência, falta de coordenação motora, diminuição da concentração, da atenção e dos reflexos. Existe também a possibilidade de dependência, crises de abstinência e efeito rebote, que é o retorno dos sintomas mesmo após o tratamento.
Neste cenário, os remédios produzidos à base de cannabis têm se mostrado uma alternativa viável e mais eficiente. Há relatos positivos de pacientes que fazem tratamento com canabidiol, conhecido pela sigla CBD.
O dr. Thiago Braga, clínico geral, que atua pela plataforma Medicina In, clínica virtual que reúne médicos de diversas áreas (neurologia, pediatria, psiquiatria, entre outras) especializados em tratamentos à base de cannabis medicinal. O médico que já receitou o canabidiol explica que é eficiente porque é capaz de se conectar com receptores específicos do cérebro, que atuam diretamente no humor e na disposição das pessoas. “Essa conexão possibilita ao CBD diminuir as reações do sistema nervoso. É uma substância usada terapeuticamente para tratar doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas porque tem ação antipsicótica e neuroprotetora”, afirma Braga.
No entanto, o CBD é um medicamento sem dosagem padrão. E por esta razão precisa de acompanhamento constante para que a dose seja acertada aos poucos. O organismo reage de forma diferente conforme o paciente. Há quem precise de quantidade maior ou menor.