Mundo Lusíada com Lusa
O antigo primeiro-ministro cabo-verdiano José Maria Neves foi eleito no domingo, no primeiro turno, o quinto Presidente de Cabo Verde, com 51,7% dos votos, de acordo com os dados do apuramento provisório atualizado nesta manhã.
José Maria Neves assumiu hoje que vai “dialogar com todos”, apelando à união de esforços entre os órgãos de soberania e sociedade civil na recuperação econômica do país.
“Trata-se de uma grande vitória do povo de Cabo Verde. Quem ganha numa jornada cívica desta envergadura são as cabo-verdianas e os cabo-verdianos, nas ilhas e na diáspora, que deram um grande exemplo de civismo”, afirmou José Maria Neves, no discurso de vitória, na sua sede de campanha, na cidade da Praia.
Na mesma intervenção, já ao som da forte festa pelas ruas da capital, prometeu ser um “Presidente que une, que cuida e que protege” e “um Presidente de todas as cabo-verdianas e de todos os cabo-verdianos”.
Segundo dados atualizados às 21:00 (mais duas horas em Lisboa) pela Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE) e pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), José Maria Neves contabilizava 93.149 votos (97% das mesas apuradas), enquanto o principal opositor, Carlos Veiga, também antigo primeiro-ministro (1991 a 2000), voltou a falhar a eleição, pela terceira vez (2001 e 2006), garantindo 77.018 votos, equivalente a 42,6%.
No discurso de vitória, José Maria Neves afirmou que é necessário que todos os órgãos de soberania, cidadãos e sociedade civil “deem as mãos”, face aos desafios que Cabo Verde tem pela frente, nomeadamente a forte crise econômica decorrente da pandemia de covid-19.
“Trata-se de uma enorme responsabilidade presidir à nação cabo-verdiana nestes tempos e recebo essa vitória com a grande humildade que sempre me caracterizou”, disse.
“As cabo-verdianas e os cabo-verdianos podem contar comigo. Com toda a humildade, serenidade e enorme responsabilidade trabalharei para unir os cabo-verdianos, serei o Presidente de todos os cabo-verdianos, serei um árbitro imparcial, um fiscalizador da ação governamental, um apaziguador de conflitos, um Presidente que irá colaborar com o Governo, com as autoridades locais e a sociedade civil”, afirmou José Maria Neves.
No mesmo discurso, o novo Presidente insistiu que pretende “dialogar com todos”, agradeceu o apoio à sua candidatura do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), que liderou e pelo qual foi primeiro-ministro de 2001 a 2016, e revelou que já falou telefonicamente com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que é também líder do Movimento para a Democracia (MpD).
“Conto poder trabalhar com o Governo, com a lealdade necessária, para juntos enfrentarmos os desafios que se colocam a Cabo Verde”, disse ainda José Maria Neves.
Acrescentou igualmente que já recebeu um telefonema de felicitações do Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa: “Convidei-o para estar presente na tomada de posse”.
Atualmente professor universitário, José Maria Neves, 61 anos, já foi dirigente partidário – presidente do PAICV e militante há cerca de 40 anos -, deputado nacional, presidente de câmara (Santa Catarina) e ministro.
Nestas sétimas eleições presidenciais o candidato Casimiro de Pina arrecadou até ao momento (97% das mesas apuradas) 3.254 votos (1,8%), Fernando Rocha Delgado 2.509 votos (1,4%), Hélio Sanches 2.102 votos (1,2%), Gilson Alves 1.546 votos (0,9%) e Joaquim Monteiro 1.365 votos (0,8%).
Votaram (com 97% das mesas apuradas) 186.991 eleitores, que por sua vez corresponde a uma taxa de abstenção de 51,7%.
Esta foi a primeira vez que Cabo Verde registou sete candidatos a Presidente da República em eleições diretas, depois de até agora o máximo ter sido quatro, em 2001 e 2011.
Estas eleições encerram o ciclo eleitoral iniciado em 25 de outubro de 2020, com as autárquicas, que prosseguiu em 18 abril passado, com as legislativas, sempre com a aplicação de medidas de proteção sanitária, como a utilização de máscara e desinfeção obrigatória à entrada das assembleias de voto, devido à pandemia de covid-19.
Estavam inscritos para votar nos 22 círculos eleitorais do país 342.777 eleitores, enquanto os 16 círculos/países no estrangeiro contavam 56.087 eleitores recenseados, totalizando assim 398.864 cabo-verdianos em condição de votar.
A estas eleições já não concorreu Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República.
As eleições presidenciais de Cabo Verde foram acompanhadas em todo o país por 104 observadores internacionais, sendo 30 da União Africana, numa missão liderada pelo diplomata e antigo ministro angolano Ismael Gaspar Martins, 71 da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e três da embaixada dos Estados Unidos da América na Praia.
Cabo Verde já teve quatro Presidentes da República desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já falecido Aristides Pereira (1975 – 1991) por eleição indireta, seguido do também já defunto António Mascarenhas Monteiro (1991 – 2001), o primeiro por eleição direta, em 2001 foi eleito Pedro Pires e 10 anos depois Jorge Carlos Fonseca.
As anteriores presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).
Mais de 2% dos eleitores cabo-verdianos votaram em branco nas eleições presidenciais, equivalente a 4.265 votos e a mais do que a votação obtida por cinco dos sete candidatos. A votação registrou ainda uma taxa de abstenção de 52%, com 190.325 eleitores a votarem no arquipélago e na diáspora.
União
O candidato a Presidente Carlos Veiga apelou à união das gerações que garantiram a independência e a democracia num pacto nacional para garantir o futuro do país.
“É um imperativo de todos, quer das gerações que fizeram a independência [1975], quer das gerações que fizeram a democracia e instituíram as liberdades constitucionais [1991], que se unam num pacto nacional em nome de Cabo Verde”, afirmou Carlos Veiga, antigo primeiro-ministro (1991 a 2000), no discurso num hotel da Praia em que assumiu a derrota eleitoral.
Carlos Veiga apelou a um “pacto nacional” em que todos possam “contribuir para erradicar a pobreza extrema” existente no país: “Vivemos em pleno século XXI, pleno de novas oportunidades e desafios que nos podem catapultar para um futuro mais próspero, mas não podemos deixar ninguém para trás”.
“Faço por isso votos para que a ideia de união que advoguei nesta campanha se torne uma realidade entre os nossos órgãos de soberania”, enfatizou o candidato, de 71 anos, que nesta candidatura contou com o apoio do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) e da União Caboverdiana Independente e Democrática (UCID).