Da Redação com Lusa
Nesta quarta-feira, o preço do gás natural subiu para novos máximos nos mercados europeus devido à forte procura à medida que o inverno se aproxima, especialmente na Ásia, mas também devido a uma oferta limitada e aos baixos ‘stocks’ existentes.
O preço de referência europeu, o TTF (Title Transfer Facility) holandês, aumentou por volta das 10:10 TMG (11:50 em Lisboa) para 135,00 euros por megawatt hora (MWh), mais 16,36% que no fecho de terça-feira, enquanto o preço do gás para entrega em novembro no Reino Unido subiu para 347,27 ‘pence pence per therm’ (uma unidade de quantidade de calor), mais 18,15%.
Temporariamente, os preços europeu e britânico dispararam mais de 25% e atingiram 162,12 euros e 407,82 ‘pence per therm’, respectivamente, pouco antes das 08:30 TMG, tendo registrado um aumento recorde.
“O atual aumento dos preços da energia na Europa é verdadeiramente único”, reagiram os analistas da Societe Generale, citados pela AFP, acrescentando que “nunca antes os preços da energia subiram tão alto e tão rápido”.
Numa entrevista com a AFP, o analista do Commerzbank Carsten Fritsch viu esta aceleração acentuada dos preços como um “movimento de pânico e medo” face aos baixos ‘stocks’ à medida que o inverno se aproxima no hemisfério norte.
A maioria dos observadores do mercado também apontam para a procura asiática, particularmente da China.
Os constrangimentos ambientais na extração de carvão levaram a graves carências energéticas, retardando algumas fábricas, e a uma súbita mudança na procura de gás na pior altura possível para a Europa, à medida que esta caminha para o inverno.
Os analistas do ING acrescentam a isto uma combinação de “preços elevados da eletricidade, fornecimento limitado da Rússia e a possibilidade de um inverno mais frio”.
De acordo com os peritos da Capital economics, citados pela AFP, os preços “são suscetíveis de se manterem elevados face aos registrados no passado” a médio prazo.
Em Bruxelas
A Comissão Europeia defendeu, como resposta à “crise inesperada” do setor energético, que os Estados-membros da União Europeia (UE) devem aliviar temporariamente impostos às famílias e financiar pequenas empresas, anunciando ainda uma reforma do mercado do gás.
“Este choque de preços é uma crise inesperada num momento crítico e temos de responder em conjunto e manter o rumo a um futuro energético mais limpo, mais seguro e mais acessível”, defendeu hoje a comissária europeia da Energia, Kadri Simson, falando na sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo.
Intervindo num debate sobre a escalada dos preços da eletricidade, a responsável europeia pela tutela alertou que, “se isto não for controlado, corre o risco de comprometer a recuperação” pós-crise da covid-19, pelo que “a Europa tem de responder através de uma rápida ação e coordenada ao nível dos Estados-membros, alavancando a força do seu mercado único e aumentando a sua preparação para crises futuras”.
Em concreto, Kadri Simson sugeriu medidas “que os Estados-membros podem adotar de acordo com a legislação da UE, tanto a curto como a médio prazo”, tais como “apoio direcionado aos consumidores, pagamentos diretos aos mais expostos à pobreza energética, a redução dos impostos sobre a energia e a transferência de encargos e da tributação geral”.
“Estas são medidas que podem ser tomadas muito rapidamente ao abrigo das regras da UE” e que estarão na comunicação que a instituição vai apresentar na próxima semana, acrescentou a comissária europeia.
Vincando que “a prioridade imediata deve ser a de mitigar os impactos sociais e proteger as famílias vulneráveis”, Kadri Simson propôs também que “às empresas e, em particular, às de pequena e média dimensão, possam ser concedidos alívios através de ajuda estatal ou facilitando acordos de compra de energia a longo prazo”.
“Além disso, há que assegurar que os mercados funcionam de uma forma justa e transparente e, por isso, as autoridades de concorrência e os reguladores nacionais têm um papel a desempenhar na vigilância e na prevenção de práticas não competitivas e na proteção dos consumidores”, defendeu.
Mas além destas medidas que podem ser adotadas ao nível nacional, a UE deve “reforçar a sua preparação e a resistência à subida dos preços”, pelo que é necessário “investir em flexibilidade e armazenamento”, área em que Bruxelas planeia intervir com um pacote de iniciativas que apresentará em dezembro.
“Até ao final do ano, irei propor uma reforma do mercado do gás e iremos rever, nesse contexto, questões em torno do armazenamento e da segurança do aprovisionamento”, adiantou Kadri Simson.
Além destas, “mais ideias foram apresentadas pelos Estados-membros e eleitos do Parlamento, tais como formas de aquisição conjunta de reservas de gás de emergência, e estamos a analisar todas elas”, concluiu a comissária europeia, salientando ainda que a UE deve “permanecer atenta à importância da geopolítica da energia e desenvolver uma abordagem mais estratégica da política energética externa”, numa alusão à pressão da Rússia.
O assunto está hoje em debate na sessão plenária da assembleia europeia, dois dias depois de os ministros das Finanças da zona euro terem discutido possíveis soluções para a atual crise energética e de países como França e Espanha terem defendido medidas como reforço e centralização das reservas de gás na UE e o recurso a tarifas reguladas, com dissociação entre o preço da eletricidade e o do gás (este último aumentou 170% até agora este ano na UE).