Da Redação com Lusa
O embaixador de Portugal em Brasília destacou o “esforço notável” do Brasil para acolher e interiorizar migrantes venezuelanos, destacando que o número de lusodescendentes a atravessar a fronteira é “residual”, segundo dados das organizações no terreno.
Em declarações à agência Lusa, o embaixador Luís Faro Ramos fez um balanço da visita de três dias que fez a Boa Vista, capital de Roraima, estado que faz fronteira com a Venezuela e que é porta de entrada de milhares de migrantes e refugiados venezuelanos que fogem da crise política e econômica no país vizinho.
Para ajudar esses cidadãos em situação de vulnerabilidade, foi lançada a Operação Acolhida, um programa de assistência aos venezuelanos e que conta com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e de outras agências da Organização das Nações Unidas.
Na sua deslocação a Boa Vista, Luís Faro Ramos teve a oportunidade de se encontrar com o português Joaquim Torrinha, funcionário da Organização Internacional para as Migrações (OIM) em Boa Vista, e com o comandante da Operação Acolhida, general Sérgio Schwingel, que lhe transmitiram o ponto da atual situação.
“Há um esforço notável da parte brasileira, com organizações internacionais e com organizações não-governamentais (ONG), para receber venezuelanos deste lado da fronteira e para os interiorizar, isto é, querendo eles e tendo condições para isso, colocá-los em pontos do Brasil mais a sul, para não causar uma pressão desproporcional sobre Roraima, porque é uma pressão social enorme”, explicou o diplomata.
“Há milhares de venezuelanos por ali e, portanto, estão a fazer uma operação que me parece muto meritória de interiorizar essas pessoas. O general Schwingel disse-me que já conseguiram interiorizar cerca de 60 mil venezuelanos para outros pontos do Brasil, designadamente do sul, como Santa Catarina e Rio de Grande do Sul, mas haverá certamente outros pontos do país para onde esses venezuelanos são interiorizados”, acrescentou.
O embaixador aproveitou para questionar sobre a situação dos cidadãos lusodescendentes que tentam atravessar a fronteira da Venezuela para o Brasil, mas recebeu a informação de que esse número é “residual”, provavelmente por possuírem “um perfil socioeconômico mais elevado do que aqueles mais carenciados que estão a atravessar a fronteira por terra”.
“Estamos a falar mesmo de muito poucas pessoas. Eu perguntei o motivo de serem tão poucos e o que me disseram foi que, provavelmente, é porque os lusodescendentes têm outros meios de se deslocar e de entrar e sair da Venezuela”, disse à Lusa Faro Ramos, frisando que se trata de “uma estimativa”, não tendo acesso a “números concretos”.
Naquele que foi o nono Estado brasileiro que visitou como embaixador de Portugal em Brasília, numa visita entre sexta-feira e domingo, Faro Ramos revelou que a viagem se deu após um convite da comunidade portuguesa do Forte de São Joaquim para participar no 4.º encontro das comunidades portuguesas dos Estados do norte do Brasil: Roraima, Amapá, Maranhão, Amazonas, Pará e Acre.
Tendo em conta as dificuldades que têm enfrentado a vários níveis, cidadãos nacionais naquela região aproveitaram a presença do diplomata para lhe entregarem uma carta com uma série de pedidos ao Governo português, como a abertura de mais duas vagas de conselheiros mundiais titulares e duas de suplente com assento junto ao Conselho das Comunidades Portuguesas, assim como um reforço dos serviços consulares nos Estados do norte do Brasil.
Já o próprio Forte de São Joaquim, um marco da ocupação portuguesa na área mais ao norte do Brasil, mas que está hoje em ruínas, foi sede de um evento cívico-militar que reuniu as famílias pioneiras da emigração portuguesa para Roraima, num “momento muito emotivo, que juntou várias gerações”.
Foi ainda apresentado a Luís Faro Ramos um projeto de recuperação do Forte, que, por sua vez, considerou “uma pena estar um pouco abandonado”, destacando que a estrutura “merece ser olhada” de outra forma e que há “muita disponibilidade por parte dos vários atores o reabilitarem”.
Na vertente econômica, o embaixador reuniu-se com o Fórum das Federações Representativas de Classes Empresariais de Roraima, Estado que tem trocas comerciais com Portugal “muito diminutas”
Nesse sentido, foi discutida a possibilidade de se criar uma Câmara de Comércio portuguesa em Roraima.
Ao longo da visita, em que foi acompanhado pela vice-cônsul Fernanda Pinheiro, Luís Faro Ramos esteve em contato com Universidades do norte do Brasil, que manifestaram interesse em cooperar com instituições de ensino superior em Portugal, assim como com o Governador de Roraima, Antonio Denarium, e com o prefeito de Boa vista, Arthur Henrique Machado.
Na sua visita de trabalho ao estado de Roraima, o Embaixador de Portugal e a Vice-Cônsul em Roraima encontraram-se, nos dias 1 e 2 de outubro, com um funcionário português em serviço na OIM e o comandante da operação acolhida. pic.twitter.com/H0I9aOjI1w
— Embaixada de Portugal em Brasília (@EmbaixadaEm) October 5, 2021