Da Redação com Lusa
Portugal vai integrar a operação da União Europeia e da NATO para proteger cidadãos no Afeganistão e está disponível para receber afegãos, segundo o ministro da Defesa, sublinhando que o Governo acompanha a situação “com grande preocupação” .
“Acompanhamos com grande preocupação” a situação no Afeganistão, onde os talibãs estão prestes a retomar o poder, disse João Gomes Cravinho à RTP.
“O nosso objetivo imediato é apoiar, criar condições para que possam sair do país em segurança os funcionários que trabalharam com a NATO, com a UE, com as Nações Unidas e, nessa matéria, Portugal participará evidentemente num esforço coletivo que se está agora a desenhar”, disse o ministro.
João Gomes Cravinho disse também que, “neste primeiro momento”, o Governo português está “a dar conta às autoridades da UE, da NATO e das Nações Unidas” da sua “disponibilidade para apoiar, para receber afegãos em território português”.
O número de refugiados a receber em Portugal ainda está a ser avaliado mas, segundo disse, “em relação aos funcionários do aeroporto” em Cabul da força portuguesa destacada no país nos últimos anos, “há 243 funcionários afegãos, mais as suas famílias, o que dá cerca de mil pessoas que precisarão de sair do país”.
Sobre os refugiados, Portugal receberá cidadãos afegãos “a partir de um país europeu, possivelmente a Turquia”, uma vez que não tem meios para ir buscá-los a Cabul, explicou Gomes Cravinho.
O ministro da Defesa disse não ter conhecimento de cidadãos portugueses no Afeganistão neste momento. João Gomes Cravinho salientou que a situação no Afeganistão é uma matéria em que Portugal “estará muito ativamente empenhado, com os estados membros da União Europeia, na procura de uma posição comum europeia e com os países da NATO” e que “não terá uma iniciativa própria, nem isolada”.
Sobre o regresso dos talibãs ao poder e o futuro regime no Afeganistão, o ministro defendeu que é preciso “ver até que ponto é possível dialogar com as novas autoridades”.
“Mais do que as suas palavras e mais do que a sua reputação, que é muito preocupante, importa saber como se vão comportar e a nossa expectativa é que o futuro regime no Afeganistão se comporte de acordo com todas as normas internacionais, seja no seu diálogo externo, seja na forma como trata a sua população”, realçou.
Segundo defendeu, “o fundamental é o respeito pelos direitos humanos, muito em particular os direitos das mulheres e das raparigas que sofreram abusos terríveis entre 1996 e 2001 quando os talibãs estiveram no poder”.
“A expectativa é de que agora o comportamento seja diferente. Isso naturalmente será uma ponte para um diálogo com a comunidade internacional. Não havendo essa ponte, será extremamente difícil haver um dialogo produtivo com o regime talibã”, afirmou Gomes Cravinho.
Segundo o ministro, neste momento ainda há um controlo por parte de forças internacionais no aeroporto de Cabul que pode ser utilizada para apoiar a saída dos afegãos.
João Gomes Cravinho fez duras críticas ao acordo assinado entre os Estados Unidos e os talibãs em fevereiro de 2020 sobre a retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão.
“Depois desse acordo, aquilo que se está hoje a passar iria acontecer em algum momento e, infelizmente, esse acordo entre os Estados Unidos e os talibãs foi feito de uma forma extremamente imperfeita, foi feito com um calendário de retirada das tropas estrangeiras negociado unilateralmente pelos Estados Unidos e não pela NATO”, disse o ministro.
O governante reforçou que “este desfecho tornou-se inevitável” e que “era uma questão de mais uns meses ou menos uns meses” para que acontecesse.
“Há muitas lições a retirar deste processo, que é um processo profundamente infeliz, do qual os países ocidentais não se podem orgulhar”, frisou o ministro da Defesa.
O Presidente afegão, Ashraf Ghani, que nesse domingo abandonou o Afeganistão quando os talibãs estavam às portas da capital, reconheceu esta noite que “os talibãs ganharam” e declarou ter fugido do país para “evitar um banho de sangue”.
“Os talibãs ganharam […] e são agora responsáveis pela honra, a posse e a autopreservação do seu país”, referiu, numa mensagem publicada na rede social Facebook.
Nesta seunda, o mullah Baradar Akhund, chefe do gabinete político dos rebeldes no Qatar, anunciou o fim da guerra no Afeganistão, com a vitória dos insurgentes, após a fuga do Presidente Ashraf Ghani e a captura de Cabul.
“Conseguimos uma vitória que não era esperada (…), devemos mostrar humildade perante Alá”, disse o antigo número dois do movimento rebelde, numa mensagem de vídeo, citado pela agência Efe, na que é a primeira declaração pública de um líder talibã após a conquista do país.
“Trata-se agora de como servimos e protegemos o nosso povo, e como asseguramos o seu futuro, para lhe proporcionarmos uma boa vida da melhor forma possível”, acrescentou.
Na Europa
O Alto Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa convocou uma reunião extraordinária de ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 para terça-feira para discutir a situação no Afeganistão, onde as forças talibãs recuperaram o poder.
“Na sequência dos últimos desenvolvimentos, e após intensos contatos com parceiros nos últimos dias e horas, decidi convocar para amanhã [terça-feira] à tarde uma videoconferência extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, para uma primeira avaliação”, anunciou Josep Borrell, numa publicação na sua conta oficial na rede social Twitter.
O chefe da diplomacia da UE acrescenta, numa segunda publicação, que “o Afeganistão se encontra numa encruzilhada”, observando que “a segurança e o bem-estar dos seus cidadãos, bem como a segurança internacional, estão em jogo”.
A convocatória da reunião extraordinária de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE ocorre numa altura em que muitos Estados-membros procedem a operações de evacuação para repatriar rapidamente os seus diplomatas e cidadãos da capital afegã, tomada no domingo pelas forças talibãs.