Ministra diz que Portugal vai precisar de imigrantes – Censo 2021

[Atualizado 29/07/2021]

Da Redação com Lusa

A ministra da Coesão Territorial disse nesta quarta-feira que a perda de população é preocupante e que Portugal vai ter de trabalhar numa política de imigração muito ativa e acolhedora para fazer face aos investimentos previstos.

“Estando nós num período especial de investimento, vamos precisar de muita mão de obra, de muitos trabalhadores, e acredito que isso só se consegue com uma política muito ativa de atração de imigrantes e tratando-os bem”, disse Ana Abrunhosa, no distrito de Coimbra.

Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que na última década, entre 2011 e 2021, Portugal registou um decréscimo populacional de 2% e acentuou o padrão de litoralização e concentração da população junto da capital.

Para a ministra da Coesão Territorial, os resultados preliminares dos Censos 2021 não são “uma surpresa” e refletem um problema que “não é de hoje, mas de décadas, e não é exclusivo de Portugal”.

“Perdemos população, o que é preocupante, não só no interior mas em todo o país, e só ganhamos população em duas zonas. Para recuperarmos a economia do país, e com o investimento que planeamos fazer, grande parte desse investimento tem de ser feito por pessoas que não temos”, salientou.

Segundo Ana Abrunhosa, “esta perda de população não pode nem deve significar que os territórios do interior fiquem desertos”.

“A perda de população não pode significar desertificação e o facto de hoje termos ciência e tecnologia também significa que podemos, com menos pessoas, continuar a ocupar estes territórios”, sublinhou.

No entanto, a governante salientou que o país tem de ser realista e que “mesmo com políticas ativas para a natalidade e de atração de imigrantes, muito dificilmente nos territórios do interior se voltará a recuperar população de há 100 anos”.

“A perda de população no interior não é de hoje, não é de ontem nem de antes de ontem é de há várias décadas. Mas uma coisa é certa, nos territórios do interior vamos conseguir estancar a perda de população e não permitir que estes territórios fiquem desertificados”, frisou.

O problema da desertificação “é da Europa” e, em Portugal, “exige soluções coletivas, não só do Governo, das autarquias, mas também da sociedade civil”, acrescentou Ana Abrunhosa.

Portugal tem hoje 10.347.892 residentes, menos 214.286 do que em 2011, segundos os resultados preliminares dos Censos 2021.

Em termos censitários, a única década em que se verificou um decréscimo populacional tinha sido entre 1960 e 1970, indicou o INE.

Interior no Litoral

Já a especialista em geografia humana Fernanda Cravidão disse que os dados preliminares mostram que “o interior vem cada vez mais até ao litoral” e considerou que só a imigração não resolverá o problema do despovoamento.

Os dados não surpreendem quem “lida com alguma frequência com a demografia”, disse à Lusa Fernanda Cravidão, geógrafa e professora catedrática jubilada da Universidade de Coimbra, que destacou que nos últimos dez anos também as duas regiões autônomas perderam população e que, no caso da Madeira, a diminuição foi em todos os concelhos, sem qualquer exceção.

Por outro lado, afirmou, o mapa da população residente em Portugal hoje divulgado pelo INE com base nos Censos 2021 “mostra que o interior vem cada vez mais até ao litoral”.

Apesar de haver “um predomínio” de saldos demográficos positivos nos concelhos do litoral, “essa variação”, em grande parte, é hoje “mais ténue” do que nos censos anteriores, de 2011, explicou.

As exceções, como Odemira, o concelho do país que mais aumentou a população nestes dez anos (+13,3%), não resultaram de crescimentos homogêneos no município, mas de fenômenos localizados que são perceptíveis na análise dos dados por freguesias, afirmou a especialista.

No caso de Odemira, o crescimento do concelho parece resultar do aumento de residentes nas freguesias de Longueira/Almograve (+72,4%) e de São Teotónio (+35%), onde se localizam explorações agrícolas que empregam imigrantes.

A “questão estrutural” da “pobreza numa parte significativa do território” é a primeira razão que Fernanda Cravidão apontou para a diminuição da população e a sua distribuição pelo país.

“É uma questão estrutural há muitos anos, se não, não se emigrava desde sempre”, afirmou a especialista, para quem esta pobreza do país também limita a capacidade de atrair imigrantes que compensem o saldo demográfico, o que foi, por outro lado, agravado pela pandemia da covid-19 no último ano e meio, período em que “ninguém emigrou para lado algum”.

A geógrafa acrescentou razões mais conjunturais “e próximas”, como a “forte emigração de gente nova” aquando da crise de 2013 e 2014, coincidindo com o resgate financeiro, um conjunto de pessoas que em “grande parte não regressou”, o que tem também consequências na taxa de fecundidade.

Além de haver poucos nascimentos, não há renovação de gerações, numa “geografia dos ausentes” somada a uma “geografia do envelhecimento” que os dados definitivos dos Censos 2021 irão, muito provavelmente, confirmar, disse Fernanda Cravidão.

A especialista sublinhou que este processo de “despovoamento” e “envelhecimento”, de “desaparecimento de pequenos lugares”, não é exclusivo de Portugal e está a acontecer também em países como Espanha.

“Agora, é evidente que nos países e nas regiões onde as economias são mais frágeis” esta “é uma situação que teoricamente se torna mais difícil de resolver”, considerou.

Para Fernanda Cravidão, “a ausência de um modelo de desenvolvimento concorreu muito” para este resultado e “a agenda política tem de olhar para isto de outro modo”.

“Não bastam as políticas de natalidade” e “mesmo depois de ultrapassada a questão sanitária” da covid-19, “só a imigração não irá resolver esta questão”, disse.

Fernanda Cravidão deu como exemplo “a progressiva desmontagem do caminho de ferro”, que antes atravessava o país, considerando que foi um dos motivos para a evolução demográfica, e disse esperar que esteja efetivamente em curso um processo de revitalização e modernização da ferrovia.

Por outro lado, referiu que há freguesias de cidades do interior, como Bragança, em que a população aumentou nos últimos dez anos, como também aconteceu no município de Braga, crescimentos que parecem estar associados a locais onde existem polos de ensino superior, tanto politécnico como universitário.

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