Da Redação com Lusa
A greve da Groundforce provocou o cancelamento de 274 voos nos aeroportos portugueses, até ao momento, dos quais 242 em Lisboa, segundo a ANA -Aeroportos de Portugal.
“Devido à greve nos serviços de ‘handling’ da Groundforce, foram cancelados, até ao momento, no aeroporto de Lisboa, 107 chegadas e 135 partidas”, adiantou fonte oficial da gestora das infraestruturas, acrescentando que as companhias que operam com outras empresas de assistência em terra, assim como as que operam no Terminal 2 do aeroporto de Lisboa, “mantêm a sua operação”.
Segundo a última atualização da gestora de aeroportos, foram também canceladas nove chegadas e nove partidas no Aeroporto do Porto, três chegadas e três partidas no Aeroporto de Faro, duas chegadas e duas partidas no Aeroporto da Madeira e também duas chegadas e duas partidas no Aeroporto do Porto Santo.
A ANA solicita aos passageiros com voos marcados, para hoje e para domingo, que se informem sobre o estado dos mesmos, antes de se deslocarem para o aeroporto.
Este sábado é o primeiro dia da greve convocada pelo Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA), como protesto pela “situação de instabilidade insustentável, no que concerne ao pagamento pontual dos salários e outras componentes pecuniárias” que os trabalhadores da Groundforce enfrentam desde fevereiro de 2021.
A paralisação vai prolongar-se pelos dias 18 e 31 de julho, 01 e 02 de agosto, o que levou a ANA a alertar para constrangimentos nos aeroportos nacionais, cancelamentos e atrasos nos voos assistidos pela Groundforce, nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo.
Além desta greve, desde o dia 15 de julho que os trabalhadores da Groundforce estão também a cumprir uma greve às horas extraordinárias, que se prolonga até às 24:00 do dia 31 de outubro de 2021.
A Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal e em 49,9% pelo grupo TAP, que, em 2020, passou a ser detido em 72,5% pelo Estado português.
A presidente executiva da TAP apelou hoje à Groundforce que reveja a sua posição, aceitando a proposta para pagamento do subsídio de férias, e lamentou que a empresa tenha posto os seus interesses à frente de clientes e trabalhadores.
“Gostávamos de apelar à Groundforce que reveja a sua posição a sua posição porque está a colocar toda a gente numa posição difícil, não apenas os passageiros, mas também os trabalhadores e, de forma indireta, a economia do país”, referiu a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, numa declaração feita hoje no aeroporto de Lisboa, o mais afetado pela greve.
A TAP disponibilizou-se para adiantar a verba necessária para que os trabalhadores da empresa de ‘handling’ pudessem receber o subsídio de férias, mas a proposta foi recusada pela Groundforce
Lamentando o impacto que a greve está a ter nos passageiros – na sequência das quase duas centenas de voos que já hoje tiveram de ser cancelados – a CEO da TAP afirmou que a transportadora “não pode aceitar a falta de respeito” demonstrada pelos passageiros e trabalhadores da Groundforce.
“Os trabalhadores [da Groundforce] fizeram tudo ao seu alcance para evitar esta situação”, referiu, acentuando que ainda ontem [sexta-feira] durante a tarde e noite foram realizadas reuniões e contactos com o objetivo de que a solução proposta fosse aceite e se conseguisse evitar a greve.
No entanto, referiu, “a decisão da Groundforce foi de não aceitar a oferta da TAP, parecendo por os seus interesses acima dos trabalhadores e dos clientes”, precisou a presidente executiva da TAP.
Confusão
A confusão é percetível assim que se chega às imediações do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, com várias pessoas em fila nas diversas entradas do edifício, muitas delas com voos cancelados, mas que decidiram, ainda assim, deslocar-se à Portela, apesar dos apelos da ANA – Aeroportos para que não o façam.
Já lá dentro, o cenário agrava-se, com centenas de pessoas em fila, na expectativa de chegar aos balcões das companhias aéreas, e outras que decidiram sentar-se ou deitar-se no chão do aeroporto, onde vão esperar até segunda-feira por outro voo.
Devido à elevada afluência de passageiros, a ANA, gestora do aeroporto de Lisboa, decidiu proibir a entrada de pessoas que já tenham voos cancelados, fazendo a triagem nas entradas do edifício.
“Isto aqui vai demorar muito, muito tempo sem nenhuma perspetiva de resolução. […] Até agora ninguém falou nada, como é que vai ser. [Está] todo o mundo junto, não estão nem um pouco preocupados. Estão preocupados de a gente não entrar em Portugal, mas não estão preocupados de todo o mundo ficar amontoado aqui, isto é um absurdo”, lamentou Cátia, que viajou do Brasil para Lisboa, porque tinha um voo de ligação para Estocolmo, na Suécia, onde é exigido um teste negativo à covid-19 realizado no máximo 24 horas antes da entrada no país.
Uma das questões mais levantadas pelos passageiros que se encontram no aeroporto prende-se com os testes à covid-19 exigidos aos viajantes.
Carlos, no aeroporto desde as 05:00 para apanhar um voo da Lufthansa com destino a Oslo, na Noruega, que só vai acontecer na segunda-feira, disse à Lusa que a validade do seu teste estava quase a acabar.
“O teste vai acabar o prazo daqui a bocado, agora tenho de informar-me quando é que vou fazer o outro teste. Tenho de pagar 100 euros, já tinha pago 100 euros e agora vou ter de pagar outros 100. Quem é que se responsabiliza? Ninguém. Tenho de trabalhar segunda-feira e não vou chegar a tempo”, lamentou.