Mundo Lusíada com Lusa
A Comissão Europeia diz estar “consciente” do aumento dos casos de covid-19 em Portugal perto da época turística, mas rejeita “dramatizar” e prevê mesmo um “verão forte” para o turismo nacional, ainda assim aquém dos níveis pré-pandemia.
“Eu visitei Portugal algumas vezes nos últimos 30 dias e estamos conscientes do aumento de infecções que ocorreram nas últimas semanas, mas também estamos conscientes de que isto não está, até agora, a criar consequências graves do ponto de vista do número de mortes, que é muito baixo e não muito diferente de outros países europeus”, afirmou em entrevista à agência Lusa e outros meios europeus em Bruxelas, o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni.
No dia em que a Comissão Europeia divulgou previsões econômicas intercalares de verão – que, no caso de Portugal, mantêm as projeções da primavera, de um crescimento de 3,9% este ano e de 5,1% em 2022 -, o responsável italiano rejeitou que este seja um verão perdido no país devido à atual situação epidemiológica, nomeadamente por causa da propagação da variante Delta, mas pediu cautela.
“Penso que todos devemos estar conscientes da seriedade desta variante Delta, mas ao mesmo tempo evitando tomar medidas restritivas que não são coordenadas e que não se justificam”, referiu.
E, na opinião de Paolo Gentiloni, devem também ser evitadas “reações exageradas” sobre o número de infeções em Portugal, com o comissário europeu a pedir que “não se exagere ou se dramatize” tais valores.
Falando então sobre este verão em Portugal, Paolo Gentiloni disse esperar que esta seja “uma forte época turística”, mas sem antever uma “temporada de pleno sucesso”.
“Não será totalmente a temporada que tínhamos antes da pandemia, porque precisamos de tempo também para que as pessoas tenham a certeza de que podem viajar sem dificuldades e precisamos que este certificado verde esteja em vigor de uma forma estável”, indicou, numa alusão ao comprovativo de recuperação, testagem ou vacinação que entrou em vigor na passada quinta-feira para facilitar viagens no espaço comunitário.
O comissário europeu apontou também que “a retoma completa ainda não chegou” ao setor das viagens, nomeadamente no tráfego aéreo, pelo que destacou que “as viagens de fora da UE levarão ainda mais tempo a recuperar”.
“É claro que sabemos que temos alguns países onde o turismo externo e também o turismo extra-UE é muito importante”, como Portugal, assinalou.
Já depois de passado a medida Alemanha ter proibido viagens a Portugal, Paolo Gentiloni adiantou à Lusa e outros meios ter “a esperança que todos os países europeus sejam, na medida do possível, coordenados na tomada de medidas” restritivas face à pandemia.
De acordo com o comissário, os desenvolvimentos recentes levam a Comissão a ter “uma previsão mais realista, diferente da do Banco de Portugal, que é mais otimista”, já que esta instituição em 16 de junho reviu em alta as suas projeções, antecipando uma subida do PIB português de 4,8% em 2021 e de 5,6% em 2022.
“A nossa previsão tem já em conta a evolução da situação que ocorreu depois e nas recentes semanas, mas estou certo de que a entrada em vigor do certificado digital covid-19 da UE contribuirá para uma melhor evolução, sobretudo em países que, como Portugal, estão fortemente ligados ao turismo internacional, e não apenas doméstico”, disse o comissário italiano
Gentiloni diz estar “absolutamente convencido” de que a Europa terá “uma época turística forte” este verão, mas admitiu que “será diferenciado entre os diferentes sistemas de turismo, e o que terá mais dificuldades em recuperar é claramente aquele ligado ao turismo internacional”, o que acontece em “certas regiões de Itália, mas especialmente em países como Grécia e Portugal”.
A Comissão Europeia manteve hoje as projeções para o ritmo de recuperação da economia portuguesa, estimando, tal como na primavera, um crescimento de 3,9% este ano e de 5,1% no próximo, apesar do agravamento da situação epidemiológica no país.
Também nas previsões econômicas de verão, a Comissão Europeia afirma ter “otimismo cauteloso” sobre a retoma do setor do turismo este ano na União Europeia, pois, apesar de admitir ligeira melhoria, os níveis da atividade deverão ser semelhantes aos de 2020.
Num relatório divulgado na terça-feira, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge indicou que a variante Delta do vírus SARS-CoV-2, associada à Índia e considerada mais transmissível, é responsável por perto de 90% dos casos de infecção em Portugal, com um forte incremento no Norte, na Madeira e nos Açores.