Da Redação
Com Lusa
Portugal deve aproveitar a tutela da presidência do Conselho da União Europeia para colocar o continente africano no centro das atenções do bloco comunitário, defendeu o embaixador Francisco Seixas da Costa, numa conferência digital.
Seixas da Costa falava numa videoconferência sobre as prioridades da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), no início do mês, na qual criticou o “apagamento” do bloco comunitário em relação à “solidariedade externa”.
“A União Europeia tem estado muito voltada para si própria, talvez pelas suas próprias crises, e tem olhado para a sua tradicional ação de solidariedade externa de uma forma que não está ao nível que uma entidade moral como a União Europeia deve ter”, apontou.
Neste sentido, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus no XIII Governo constitucional (o primeiro liderado por António Guterres), alertou para a “situação dificílima” que se vive em África em relação à pandemia de covid-19, pedindo uma posição clara da presidência portuguesa nesta matéria.
“Um país como Portugal, que tem uma atenção sistemática relativamente a África e que fez as duas cimeiras euro-africanas [nas presidências anteriores], muito provavelmente terá alguma autoridade para poder suscitar a nível do próprio Conselho Europeu a necessidade de a UE não fechar os olhos relativamente à dificílima situação que atravessam os países africanos face à pandemia e aos seus efeitos”, defendeu.
Para o embaixador, é certo que “há um vice-presidente executivo da Comissão Europeia que chefia o Serviço Europeu de Ação Externa”, referindo-se ao Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, cargo que surgiu com o Tratado de Lisboa, em vigor desde 2009.
Contudo, esse cargo não impede que os países que têm a presidência sejam “indiferentes” em matéria da ajuda externa, defendeu Seixas da Costa.
“Não é por acaso que nós conseguimos colocar a questão da Índia [na agenda europeia], que para nós até é bilateralmente importante, mas também é muito importante para a Europa e para o equilíbrio das relações internacionais, nomeadamente com a China”, acrescentou.
Tiago Moreira de Sá, secretário para as Relações Internacionais do Partido Social Democrata (PSD), também marcou presença nesta videoconferência e sublinhou igualmente a importância do estreitamento da relação da União Europeia com África, apelando, por isso, à realização da cimeira entre os dois continentes ainda durante a presidência portuguesa do Conselho da UE.
“É importante que a cimeira UE-África se realize durante a presidência portuguesa, seja de que forma for, seja aqui [Portugal] ou em Bruxelas. Compreendo que essa questão tem várias coisas associadas, mas queria que pudesse decorrer durante a presidência portuguesa”, vincou, apontando que as cimeiras euro-africanas são uma “marca distintiva” de Portugal.
Durante a conferência digital, organizada pela Universidade Europeia, no âmbito do ‘Privacy and Data Protection Centre’, em colaboração com o Movimento Europeu, esteve ainda em cima da mesa de debate o estreitamento das relações da União Europeia com os Estados Unidos e com o Reino Unido.
Além de Francisco Seixas da Costa e de Tiago Moreira de Sá, o webinar “Desafios da União Europeia e da Presidência Portuguesa”, organizado pela Universidade Europeia, no âmbito do Privacy and Data Protection Centre, em colaboração com o Movimento Europeu, contou com a presença de José Conde Rodrigues, presidente do Movimento Europeu em Portugal, José Luís Carneiro, secretário geral adjunto do PS, Cristina Caldeira, coordenadora do Privacy and Data Protection Centre da Universidade Europeia e vice-presidente do Movimento Europeu em Portugal, e Alexandre Sousa Rodrigues, coordenador do mesmo centro, que assumiu o papel de moderador do debate.