Mundo Lusíada
Com Lusa
O PSD pediu “sentido de urgência” e ações concretas para controlar a epidemia de covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo, como mais controle nos aeroportos portugueses, e maior coerência nas mensagens à população.
“Precisamos de menos conferências de imprensa e mais trabalho de saúde pública de terreno para garantir controle da epidemia”, defendeu o vice-presidente da bancada do PSD Ricardo Baptista Leite, em declarações aos jornalistas no final da sessão sobre a “situação epidemiológica da covid-19 em Portugal”.
Baptista Leite disse ter recebido um relato de um cidadão vindo do Brasil que só passado alguns dias de aterrar em Portugal foi avisado pelo seu país de origem que teria de entrar em contato “com urgência” com o Ministério da Saúde, uma vez que tinham sido detectados casos positivos no avião em que viajou.
“Portugal tem centros comerciais encerrados, tem a economia parada, não pode permitir a entrada de casos positivos sem qualquer controle”, defendeu, pedindo que, pelo menos, sejam recolhidos todos os dados dos passageiros que entram em Portugal.
O deputado e médico alertou que a situação na região de Lisboa e Vale do Tejo é, neste momento, “o foco de todas as preocupações” e está a fazer com que em Portugal esteja a haver “uma inversão da curva” da pandemia, em vez de uma diminuição de casos, como nos restantes países europeus.
Baptista Leite pediu ao Governo “mais ações concretas no terreno” e considerou indispensável que, “no mínimo”, Portugal recolha os dados sobre as pessoas que entram no país pela via do transporte aéreo, apontando casos de outros países que ou impõem uma quarentena ou até proíbem entradas no país, como a Grécia.
“E precisamos de ter regras coerentes, não se compreendem o conjunto de regras para ajuntamentos como se têm visto nas últimas semanas em Lisboa”, afirmou, estranhando que sejam permitidas cerca de 2.000 pessoas num espetáculo cultural num espaço fechado como o Campo Pequeno e não haja público em estádios de futebol.
Salientando que os portugueses deram sempre um bom exemplo de responsabilidade ao longo da pandemia, Baptista Leite deixou um aviso: “Se as mensagens não forem coerentes, não podemos esperar responsabilidade da parte de quem não compreende as mensagens que lhe são dadas”.
O deputado social-democrata alertou que na região de Lisboa não se verifica apenas o aumento do número de casos, mas também do “número de internamentos e do número de óbitos”, apontando que foi revelado que dos 47 surtos identificados no país a grande maioria é nesta área.
“Quando vemos o número de novos casos por milhão de habitantes, quando comparamos com Roma, Lisboa está pior; quando comparamos com Bruxelas, Lisboa está pior; quando comparamos com Amesterdão, Lisboa está pior”, alertou.
Por essa razão, defendeu, Portugal tem de adotar “ações mais dirigidas e mais concretas” para controlar a epidemia nesta região.
“Uma delas é uma intervenção mais célere e coerente nos aeroportos (?) Na realidade hoje não existe qualquer controlo”, apontou.
Baptista Leite pediu ainda uma maior amplitude dos testes, considerando que “não basta testar os casos suspeitos, mas também os casos secundários” que estiveram em contatos com estes.
Mecanismos internacionais
A diretora-geral da Saúde defendeu que Portugal segue “mecanismos internacionais” de reporte ligados a uma “rede mundial” para localizar e contactar passageiros de um voo onde se constate ter estado alguém infectado com covid-19.
“Estão criados mecanismos internacionais de reporte. Integramos uma rede mundial em que estamos obrigados a avisar para onde se dirigiram passageiros que possam ter estado com doentes a bordo de um avião”, descreveu Graça Freitas na conferência de imprensa diária sobre a pandemia de covid-19.
A responsável defendeu “a utilização de um cartão preenchido pelo passageiro, que permite a sua localização posterior” para informar de um potencial contato com o novo coronavírus, no caso de se constatar que, em determinado voo, estava uma ou mais pessoas infectadas.
“Com esse cartão, se formos informados de que alguém doente esteve num voo conseguimos localizar os passageiros, quem estava nas filas da frente, ao lado e informar”, observou Graça Freitas.
Para a diretora-geral, as atuações de “vigilância de pessoas que adoecem em aeronaves estão bem definidas”.
“Temos é de criar mecanismos para identificar passageiros de forma fácil”, defendeu.
Graça Freitas sustentou ainda que os países com maior número de casos deviam “fazer rastreios” à saída.
Por outro lado, deve fornecer-se a “passageiros e tripulantes” que se desloquem a Portugal “o máximo de informação” sobre o que fazer se desenvolverem sintomas.
“Devem contactar a linha SNS 24, relatando os sintomas e de onde vieram”, especificou.
Graça Freitas recusou comentar casos concretos de viagens, mas deu estes esclarecimentos depois de ter sido questionada sobre declarações do vice-presidente da bancada do PSD.
Questionada sobre um estudo que indica ser raro que pessoas assintomáticas transmitam a doença covid-19, Graça Freitas disse ser necessário “olhar com cautela” para a investigação.
“Será uma boa notícia, sobretudo para a próxima onda pandêmica, se vier a confirmar em estudos subsequentes”, referiu.
A situação de calamidade no país devido à pandemia de covid-19 vai continuar até ao final do mês de junho devido aos feriados, festejos dos santos populares e reabertura das fronteiras aéreas, segundo o primeiro-ministro.
António Costa revelou ainda que a Área Metropolitana de Lisboa deixa de ter restrições ao desconfinamento a partir de segunda-feira, podendo abrir os centros comerciais e as Lojas do Cidadão.
Portugal está em situação de calamidade desde 03 de Maio devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência durante 45 dias.
O país regista 1.492 mortes relacionadas com a covid-19, mais sete do que na segunda-feira, e 35.306 infectados, mais 421, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela DGS.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo (13.608), onde se tem registrado maior número de surtos, há mais 386 casos de infecção (+2,9%).