Covid-19: Casos na região de Lisboa ligados à construção civil e trabalho temporário

Uma vendedora desinfeta as mãos de uma cliente durante a reabertura da Feira de Carcavelos, Cascais, 21 de maio de 2020. MÁRIO CRUZ/LUSA

Da Redação
Com Lusa

Nesta segunda-feira, o Presidente da República afirmou que o aumento da covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo teve “incidência particularmente forte” na construção civil e trabalho temporário e que essa ligação está em investigação.

Marcelo Rebelo de Sousa, que falava no final de mais uma reunião técnica sobre a evolução da covid-19 em Portugal, no Infarmed, em Lisboa, argumentou que estes dois setores “nunca pararam, mesmo em período de confinamento, portanto, não se pode dizer que haja aqui inevitavelmente o efeito do desconfinamento”.

Em declarações aos jornalistas, o chefe de Estado referiu que “o peso” destas duas áreas de atividade nos novos casos de covid-19 surgidos na região de Lisboa e Vale do Tejo é “um ponto que está a ser explorado, no sentido de investigado” pelos especialistas.

“Se for isso, e se houver a preocupação das empresas de testarem o maior número de trabalhadores nessas duas áreas, então isso talvez explique – vale a pena investigar – o que aconteceu nas últimas duas semanas em Lisboa e Vale do Tejo, porque aconteceu com uma incidência particularmente forte no trabalho temporário e na construção civil”, acrescentou.

Segundo o Presidente da República, estas e outras “pistas de reflexão” irão “ser aprofundadas” e novamente abordadas na próxima reunião no Infarmed, marcada para 24 de junho, na qual se analisará “a evolução global nacional” dos casos covid-19 e “a evolução na região de Lisboa e Vale do Tejo” em particular.

De qualquer modo, Marcelo Rebelo de Sousa desdramatizou a situação nesta parte do país, referindo que “há uma percepção, quer dizer, uma compreensão pela opinião pública, de um agravamento na região de Lisboa e Vale do Tejo que é superior ao agravamento efetivo”.

“Há aqui uma percepção que até é injusta para outras regiões, porque, quando temos a lista dos municípios com maior incidência de surto, nos primeiros dez não está nenhum município da região de Lisboa e Vale do Tejo”, assinalou, observando: “Já esquecemos o que houve no Norte e no Centro de forma muito, muito acentuada, em fases anteriores”.

A pandemia de covid-19, doença provocada por um novo coronavírus detetado em dezembro do ano passado no centro da China, atingiu 196 países e territórios.

Em Portugal, os primeiros casos foram confirmados no dia 02 de março e já morreram 1.485 pessoas num total de 34.885 contabilizadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS).

Imagem positiva

Para Marcelo Rebelo de Sousa, a “verdade e transparência” dos números sobre a covid-19 em Portugal, concretamente na região de Lisboa, não prejudica a imagem externa do país, que continua “muito positiva”.

De acordo com o Presidente da República, a opinião de outros chefes de estado, chefes do Governo, ou o “que se lê na imprensa estrangeira” são exemplo disso mesmo, apesar daquela que foi a “percepção interna” que “dominou as últimas semanas quanto à região de Lisboa e Vale do Tejo”.

“A percepção genérica é de tal maneira que eu ainda ontem estive nos Açores e em vários jornais internacionais se falava do paraíso que é os Açores”, referiu, destacando “a importância para o turismo” e a chegada ao Algarve dos primeiros grupos turísticos organizados.

Na perspetiva de Marcelo Rebelo de Sousa “a verdade e a transparência que tem havido, e deve continuar a haver, quanto aos números na evolução do surto” não prejudicou “a imagem externa do país”.

“Não estou mais preocupado. Até direi que, eu não quero dizer que estou menos preocupado, que aí os portugueses interpretam-me mal, mas olhando para os números, inclusive da região de Lisboa e Vale do Tejo, eu diria que com aquelas pistas explicativas que dei, eu sinto que a descida do número de mortes, a situação de controlo no SNS – atual e a previsão potencialmente futura – tudo isso me leva a entender que se os portugueses continuarem num nível de responsabilidade que genericamente têm mostrado, que a evolução vai ser positiva e isso é bom para todos”, respondeu.

Para o Presidente da República, “os portugueses têm que perceber que Portugal não é uma realidade abstrata” e, por isso mesmo, “tudo o que correr bem, na compatibilização entre vida, saúde, economia e sociedade, emprego, situação salarial, arranque das empresas, é bom para cada um dos portugueses”.

“Se me pergunta estou mais preocupado, não estou. Não estou mais preocupado. Sinto que se está a acompanhar atentamente o que se passa e espero que os números confirmem nas próximas semanas uma evolução positiva por todo o país”, assegurou.

Lisboa e Vale do Tejo (LVT) continua a ser a região do país com mais casos diários de infeção por covid-19, com 78% dos 192 casos reportados hoje em três regiões e nos Açores, segundo a Direção-Geral da Saúde.

No relatório da situação epidemiológica em Portugal, LVT tem hoje 78% dos novos casos, depois de ter registado 75% das infeções no domingo, 90% no sábado, 89% na sexta-feira, 93,3% na quinta-feira e 91,5% na quarta-feira.

A região de LVT é onde se tem concentrado a realização de testes nos últimos dias.

Em relação aos 192 novos casos reportados desde domingo, a região de LVT regista 149, a região Norte 39, o Centro três e a Região Autônoma dos Açores um novo caso.

Não foram reportados novos casos no Algarve (continua com 389), no Alentejo (268) e na Região Autônoma da Madeira (90).

Quanto aos óbitos, o boletim hoje divulgado indica que foram registradas mais seis mortes, para um total de 1.485 desde o início da contagem em Portugal, cinco na região de LVT e um na região Norte.

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