Da Redação
Com Lusa
A candidatura do culto de Nossa Senhora da Nazaré a Patrimônio da Humanidade deverá ser entregue em março de 2020, juntando Portugal e Brasil num processo de classificação que no futuro poderá ser alargado a vários países.
“Pensamos que há condições para que o dossiê de candidatura seja entregue à UNESCO em março do próximo ano”, disse Walter Chicharro, presidente da Câmara da Nazaré, autarquia que desde 2018 defende a classificação do Culto de Nossa Senhora da Nazaré como Patrimônio Cultural da Humanidade.
A candidatura denominada “Culto de Nossa Senhora de Nazaré – Práticas e Manifestações a Patrimônio Cultural da Humanidade” vai ser apresentada em conjunto pela autarquia da Nazaré e pelo Estado do Pará, no Brasil, onde as celebrações em torno da virgem movimentam anualmente milhões de fiéis.
As duas entidades assinaram um protocolo para a promoção conjunta do pedido de classificação daquele que é considerado “o culto mariano mais antigo do Mundo”, disse à Lusa Carlos Medeiros, coordenador da candidatura.
No epicentro do culto está uma imagem da virgem que se julga ter sido “esculpida por São José, ainda em vida de Jesus”, em Nazaré da Galileia, passando depois pela atual cidade de Annaba, na Argélia, e mais tarde pelo Mosteiro de Cauliniana, na região de Mérida, até chegar a Portugal, ao local hoje conhecido por Sítio da Nazaré.
A imagem, esteve, segundo Carlos Medeiros, “400 anos guardada numa gruta, onde depois foi construída a capela da Memória”, na Nazaré, próximo do local associado à lenda do milagre de D. Fuas Roupinho, cuja salvação é atribuída a Nossa Senhora da Nazaré.
A Nazaré é um dos locais onde a devoção à virgem mais se manifesta, havendo em Portugal outras celebrações como o Círio da Prata Grande: No Brasil, destaca-se o Círio de Nazaré, na cidade de Belém do Pará, “que congrega anualmente mais de dois milhões de fiéis”, pode ler-se no preâmbulo da candidatura.
Depois de este Círio ter sido inscrito na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2013, o objetivo dos dois países é agora obter a classificação do culto que “é muito mais amplo e praticado em países de todos os continentes”, explicou Carlos Medeiros.
Nesse sentido, a candidatura que será entregue à UNESCO pelas comissões dos dois países “será depois alargada a todos os países do mundo onde o culto é praticado”.
No âmbito da candidatura está a ser feito um levantamento de práticas e manifestações deste culto “nas mais diversas geografias” que, segundo o documento a que a Lusa teve acesso, já possibilitou a “identificação e inventariação de comunidades, sítios ou monumentos associados a esta tradição mariana, em Portugal, assim como em África ou na Índia, mas sobretudo no Brasil”.
Entre igrejas, capelas, círios, festividades, santuários, escolas e obras sociais dedicadas a Nossa Senhora da Nazaré, foram já “identificadas e mapeadas mais de 270 referências”, pode ler-se na proposta de classificação.
A candidatura pretende, além da preservação do culto, aproximar “as populações unidas pela mesma tradição” e vai promover em janeiro do próximo ano o Encontro de Comunidades Devotas de Nossa Senhora da Nazaré, que juntará na vila representantes de vários países e que poderá culminar na criação de uma associação.
A pretensão de classificação do culto e devoção ao Milagre da Nossa Senhora da Nazaré a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, da UNESCO, foi expressa num dossiê entregue ao Papa Francisco em novembro de 2018.
O levantamento e junção de elementos culturais ao processo conta com a participação da Câmara e da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, da Secretaria da Cultura do Estado do Pará (Brasil), assim como cidadãos das comunidades onde existe o culto e a devoção a Nossa Senhora da Nazaré, em particular dos locais onde se realizam alguns dos Círios mais importantes, como o Círio da Prata Grande e o Círio de Olhalvo (em Portugal) e o Círio de Belém do Pará (no Brasil).