Comunidade portuguesa é homenageada em evento na Biblioteca Mário de Andrade

O ciclo de atividades dedicada a imigração em sua diversidade cultural, que teve início em 29 de janeiro, sinalizou a reabertura da Biblioteca Mário de Andrade, em reforma durante 3 anos.

Por Lucélia Fernandes

Foto: GLAUBER ALVES

A Biblioteca Mário de Andrade, localizada na região central e um dos símbolos culturais da capital paulista, em mais um ciclo do projeto ‘São Paulo: Seus Povos e Suas Músicas’, apresentou em cantigas, danças e guitarradas – além de palestras – as influências, histórias e tradições da imigração portuguesa nesta cidade.

O ciclo de atividades dedicada a imigração em sua diversidade cultural, que teve início em 29 de janeiro, sinalizou a reabertura da Biblioteca Mário de Andrade, em reforma durante 3 anos. O evento dedicado a comunidade portuguesa aconteceu no passado 16 de abril, e foi precedido, sempre aos sábados à tarde, por árabes, italianos, russos, japoneses, germânicos, húngaros, andinos, judeus, espanhóis e poloneses.

Para antecipar o clima luso na Biblioteca, já em sua entrada principal a Exposição ‘Construtores do Brasil’, sob a curadoria de Sônia Maria de Freitas, saudava quem por ali chegava desde o dia 11 de abril e, segundo a funcionária Tatiana  Alves, “os freqüentadores habituais da Biblioteca estão sempre atentos ao que acontece por aqui e se interessaram muito pelos painéis, a freqüência de visita tem sido muito boa”, afirma.

Com o Auditório repleto, o público presente foi saudado pela diretora da Biblioteca, Maria Christina Barbosa de Almeida, que  referiu a bibliografia disponível no acervo relacionada ao tema da imigração portuguesa em São Paulo, frisando que, desde o início do ciclo ‘São Paulo: Seus Povos e Suas Músicas”, novos livros a respeito do tema já foram incorporados ao acervo, cedidos pela comunidade portuguesa.

Além de responsável pela Exposição ‘Construtores do Brasil’, a historiadora Sônia Maria de Freitas foi também palestrante, e destacou aspectos importantes a serem desconstruídos em relação à imigração portuguesa para o Brasil, principalmente em São Paulo, que ela ressaltou como “o maior centro cultural do país e maior cidade portuguesa do mundo” e homenageou as mulheres portuguesas ao citar personalidades relevantes da nossa cultura como Constança Lucas, Maria Adelaide Amaral, Albertina Duarte Takiuti, Maria da Conceição Tavares e Ruth Escobar.

O engenheiro civil Sylvio Band foi o segundo palestrante. Afetivamente ligado à comunidade portuguesa no Brasil por intermédio do histórico jornal Portugal Democrático, do qual foi diretor por 14 anos, e foi com imensa paixão que a ele se referiu: “Nós éramos pequenos mas não havia um líder na África, Ásia, América até na ONU que não recebesse o nosso jornal, porque nós mandávamos, éramos pequenos mas bastante agitadores, fazíamos diferença”, afirmou. Sua relação com Portugal não se limitou ao histórico Jornal, Band foi também responsável pela UEE – União Estadual dos Estudantes nos anos 1961 e 1962, cujas atribuições eram os assuntos ligados ao movimento anti-fascistas de Portugal no Brasil e em outros países, além de ter fundado o Centro Cultural 25 de abril em São Paulo, atualmente dirigido por Ildefonso Garcia.

Sob a curadoria musical de Anna Maria Kieffer, que busca a cada ciclo apresentar aspectos pouco conhecidos das culturas ali representadas, a tarde dedicada aos portugueses levou ao palco do Auditório, com capacidade para 180 pessoas, o canto lírico na voz da soprano Luíza Sawaya, acompanhada ao piano por Achille Pichi. “Longe de mim banir o fado desta apresentação, ele estará presente de uma outra forma, em um outro recorte”, explicou Kieffer.

E foi através do ‘Cancioneiro de Músicas Populares’, com cantigas de rua, salão e teatro, recolhidas por César das Neves que a cantora lírica trouxe majoritariamente o clima dos salões e da corte lusitana, em peças como a tocante ‘Don Solidon’ (Dança de roda, Lisboa, 1981), conhecida na voz de Amália Rodrigues, ‘Chiquita’ (Cantiga das ruas, tango da América Espanhola, 1846), ‘Queres a flor?’ (Canção do Porto, poesia de Camilo Castelo Branco), dentre outras, e encerrou com ‘Fado’ (Ruy Coelho/Martins Fontes, Portugal e Brasil).

Depois da corte, os sons das vielas e dos becos “mal afamados”, onde teria nascido o fado, tomou conta do ambiente com a guitarra portuguesa magistralmente interpretada por Ricardo Araújo, acompanhado por Renato Araújo, ao violão e Saulo Rodrigues, no baixo. Entre uma e outra interpretação, o solista Ricardo Araújo explicou e exemplificou as diferenças entre a guitarra de Lisboa e a de Coimbra em composições de Artur Paredes, ‘Variações em lá menor’ e ‘Balada de Coimbra’; Fontes Rocha, ‘Evocação a Armandinho’ e Manuel Marques, ‘Corridinho do Nelito’.

Já noite, a Tocata e o Grupo Folclórico da Casa de Portugal de São Paulo, sob a direção de Ernesto Lemos, finalizaram a parte musical do evento com fandangos de Santarém e peças populares das regiões do Minho, Trás-os-Montes, Beira-Alta e Beira-Baixa e, tal como as diferentes guitarras portuguesas, Lemos também explicou as diferenças entre os instrumentos tradicionais responsáveis por uma festa portuguesa, como aquela. Ao final, mesmo com o adiantado das horas, a platéia pediu bis e o Rancho atendeu.

O tradicional bem servir português terminou no andar térreo da Biblioteca, com um Porto de Honra e o comentário descontraído de Anna Maria Kieffer: “foi bonita a festa pá”.

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