Da Redação
Em sua tradicional Mensagem de Natal, o Primeiro-Ministro defendeu que Portugal está melhor, “mas ainda temos muito para continuar a melhorar”.
O Natal “é também um período de balanço e reflexão sobre o nosso futuro”, afirmou António Costa na sua mensagem deste 25 de dezembro.
Presentemente, “Portugal vive um momento particularmente importante, que é essencial poder ser vivido e partilhado com justiça por todos os portugueses”, disse o Primeiro-Ministro.
António Costa assinalou que “virada a página dos anos mais difíceis, há agora duas questões essenciais que se colocam”, e pontuou: “por um lado, como conseguimos dar continuidade a este percurso, sem riscos de retrocesso”; “por outro lado, como garantimos que cada vez mais pessoas beneficiam na sua vida desta melhoria”.
“A primeira condição é dar continuidade às boas políticas que nos têm permitido alcançar bons resultados” disse, citando dois grandes desafios a “vencer”.
O primeiro desafio “é o pleno aproveitamento do nosso território, valorizando os recursos desaproveitados, no imenso mar que os Açores e a Madeira prolongam até meio do Atlântico ou no interior do Continente, onde temos de aproveitar o seu potencial e a proximidade a um grande mercado ibérico de 60 milhões de consumidores, para repovoar este território e ganharmos coesão territorial”.
O segundo grande desafio “é o demográfico, que não podemos resolver só com a imigração”, defendendo ser essencial que os jovens “sintam que têm em Portugal a oportunidade de se realizarem plenamente do ponto de vista pessoal e profissional, e assegurar uma nova dinâmica à natalidade”.
O Primeiro-Ministro referiu ainda as políticas adotadas pelo Governo para facilitar a autonomização dos jovens: habitação, abonos de famílias, creches, preço dos transportes, e a importância das perspetivas de realização profissional, através da redução da precariedade, da melhoria dos salários, e da conciliação das vidas pessoal, familiar e profissional.
António Costa concluiu afirmando que não desvaloriza “o muito que em conjunto já conseguimos, nem ignoro o que temos e podemos continuar a fazer para termos um País mais justo com mais crescimento, melhor emprego e maior igualdade”.
Críticas
Para o PCP, há uma “contradição inequívoca” entre o que António Costa diz ser o caminho e a intervenção do Governo, “que vai em sentido oposto”.
Num comentário à Lusa o dirigente comunista Jorge Pires disse que o PCP registrou no discurso a questão do respeito pelos direitos, a melhoria das condições de vida e dos rendimentos, um caminho “associado ao papel e influência do PCP” e que desmente os que defendiam que poria em causa o crescimento econômico e aumentaria o desemprego.
No entanto, nas palavras de Jorge Pires, há uma contradição entre o que o primeiro-ministro diz e pensa ser o caminho a continuar no próximo ano, e o que o Governo faz, “que vai no sentido oposto do que ele acha que deve ser o caminho para melhorar as condições de vida, aumentar o crescimento econômico” ou repor direitos e rendimentos.
Tal é visível, disse Jorge Pires, em relação aos direitos dos trabalhadores, com o Governo a associar-se “ao grande patronato e fazer aprovar legislação laboral que vai exatamente ao contrário daquilo que é a defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores”.
Também na melhoria das condições de vida dos portugueses se verifica, nas palavras do dirigente do PCP, há uma intervenção do Estado no sentido de reduzir responsabilidades nos serviços públicos, em áreas como os transportes, saúde ou a cultura.
As paralisações nos últimos dias no setor dos transportes têm a ver com essa falta de investimentos, exemplificou.
Pela sua parte, o PCP, garantiu Jorge Pires, vai continuar a intervir para responder aos problemas do país e vai “aproveitar todas as oportunidades para continuar a recuperar rendimentos e direitos”.
Para a oposição, segundo André Coelho Lima, vogal da Comissão Política Nacional do PSD, as palavras dirigidas aos portugueses pelo primeiro-ministro não passam de um “conjunto de fantasias” e de “frases que se gosta de ouvir”.
Lima acusou o primeiro-ministro de ter dito que “Portugal cresceu mais do que a média da União Europeia” quando, na verdade, “sabemos que Portugal tem o quarto menor PIB da zona euro”.
Do Bloco de Esquerda, Marisa Matias destacou que o primeiro-ministro “falou de risco de retrocesso” e deixou um aviso: “não é bom repetir em 2018 uma frase da direita de 2014”.
“O risco de retrocesso que nós enfrentamos é o não crescimento e descorar as políticas públicas. Isso é o verdadeiro risco de retrocesso e por isso, nesse sentido, creio que não podemos, de maneira nenhuma, voltar a soluções que se provaram erradas e que justificaram na altura os cortes permanentes”, alertou.
Sobre os “enormes problemas” que Portugal ainda tem pela frente, apontados pelo primeiro-ministro, a eurodeputada do BE lembrou que o partido tem “falado várias vezes em relação” aos mesmos, lamentando que António Costa não retire consequências “na sua totalidade”.
“Desde logo não tivemos ainda uma rutura com as políticas de favorecimento do sistema financeiro e basta pensarmos no que tivemos nos últimos anos em relação ao Banif, ao Novo Banco, ao peso dos juros da dívida na nossa economia”, criticou.
Por outro lado, segundo Marisa Matias, há “também a questão da obsessão com as metas do défice de Bruxelas”.
“Eu creio que é positivo ter o défice baixo, toda a gente se preocupa com a consolidação das contas públicas, mas a verdade é que esta obsessão para ir para além das metas que são estabelecidas é aquela que nos deixa com um défice muito mais preocupante e que nos retira muito mais ao desenvolvimento da nossa sociedade que é o défice social”, observou. O déficit social é a “verdadeira preocupação” do BE.