Da Redação
Dom João VI (1767-1826) foi aclamado, no Rio Janeiro, rei de Portugal, Brasil e Algarves há 200 anos. Por ocasião do bicentenário, o Museu Histórico Nacional – MHN, no Rio de Janeiro, inaugurou nesta quinta-feira a exposição “O retrato do rei dom João VI”. A curadoria é de Paulo Knauss, diretor do MHN e professor de História da Universidade Federal Fluminense – UFF.
A mostra é centrada na construção da imagem de D. João a partir de 24 pinturas, oriundas de instituições brasileiras e portuguesas, coleções particulares e do próprio acervo do MHN. Além dos retratos, completam a exposição condecorações, medalhas, moedas, leques, gravuras e uma réplica da coroa de 1818 – somando cerca de 60 peças.
O curador propõe um percurso pelo retrato biográfico, de João menino ao rei D. João VI, a leitura política da retratística do rei e o resgate de uma pintura de 1814, desconhecida do público.
“O conjunto evidencia como a diversidade da imagem de D. João acompanha as muitas mudanças políticas e de gosto da época, o que permite também reconhecer o diálogo dos artistas de Portugal com os do Brasil, considerando que, a partir de sua estada na cidade do Rio de Janeiro, o rei passou a ser representado por pintores nascidos no país e formados longe das academias europeias”, avalia Knauss.
Restauração ao vivo
A curadoria quer jogar luz sobre o pintor brasileiro Antônio Alves, quase anônimo – não se sabe sua data de nascimento e morte, por exemplo – conhecido por seus desenhos naturalistas e por ter concebido a bandeira republicana da revolução de 1817 em Pernambuco.
O Conde da Barca, diplomata, cientista e político, que veio de Portugal com dom João, encomendou a Alves uma cópia do retrato do rei feita pelo pintor italiano Domenico Pellegrini (1759-1840).
O quadro de Antônio Alves, que pertence ao acervo do Museu Dom João VI, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – EBA/UFRJ, será restaurado em ateliê aberto pelo técnico do Laboratório de Restauração em pintura do MHN, Luiz Fernando Abreu, com apoio de estudantes da EBA, durante o período da exposição – que segue até 17 fevereiro de 2019.
Paulo Knauss espera que, após a exposição, a pintura possa ser apresentada como exemplo de preservação do patrimônio cultural e principal legado da mostra.
Em “O retrato do rei dom João VI” acontece o primeiro encontro da tela original de Pellegrini, do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa, Portugal), com a cópia de Antônio Alves. A curiosidade é que na pintura do italiano vê-se, pela janela, o Terreiro do Paço em Lisboa. Na versão de Alves, a paisagem vista é a da baía da Guanabara, com destaque para o Pão de Açúcar ao fundo.
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O retrato presente
Dom João VI foi, possivelmente, o rei português mais retratado na história da pintura e da gravura, pois precisava promover a sua imagem para se fazer presente em Portugal enquanto viveu no Brasil – entre 1808 e 1821.
A curadoria propõe-se revelar uma história da pintura no Brasil da época, em diálogo com a produção da Missão Artística Francesa, com destaque para os trabalhos de José Leandro de Carvalho e Simplício Rodrigues de Sá.
Entre os retratos, destaca-se a pintura mais conhecida de Jean-Baptiste Debret, realizada em 1817, que mostra o rei em traje majestático, enquanto os demais apresentam D. João em retratos de três quartos ou a cavalo.
“A iconografia dos retratos permite acompanhar a história política pela substituição, por exemplo, do chapéu bifronte de regente pela coroa de rei, assim como pelas insígnias que trazia ao peito e que traduziam o jogo das relações internacionais à época de seu governo”, analisa Paulo Knauss.
Uma curiosidade é que na juventude de D. João, era habitual empoar o cabelo, dando-lhe um aspecto grisalho. As pinturas dessa fase retratam o então príncipe regente com cabelos brancos, enquanto em obras posteriores, em que aparece mais velho, o cabelo é escuro.
Outra curiosidade é que, diferentemente de outras monarquias europeias, os reis portugueses não usavam coroa. É possível observar, em todos os retratos, a coroa sobre uma almofada ao lado de dom João VI – como no ato de sua aclamação em 1818. Esta tradição tem origem em 1640, quando o rei João IV de Portugal ofereceu a sua coroa a Nossa Senhora da Conceição, elegendo-a “a verdadeira rainha de Portugal”.
Um reinado inesperado
D. João era o filho mais novo da rainha dona Maria I. Tornou-se herdeiro do trono diante da morte de seu irmão mais velho, José, aos 27 anos. Quando dona Maria foi declarada mentalmente incapaz, em 1792, dom João assumiu o título de príncipe regente e com a morte dela, foi aclamado rei. A ameaça do imperador francês Napoleão Bonaparte em invadir Portugal fez o então príncipe regente transferir a corte para o Brasil, até 1821. Casado com dona Carlota Joaquina, filha do rei Carlos IV da Espanha, teve nove filhos, entre eles dom Pedro I – eternizado na história como o primeiro imperador do Brasil.
Embora pouco valorizado pela história, dom João VI deixou no Brasil um legado memorável: abriu os portos às nações amigas, fundou o Jardim Botânico e a Biblioteca Nacional no Rio, além do primeiro banco do país, entre outros feitos. Outra importante contribuição do monarca foi a renovação do ensino de artes no Brasil com a chegada da Missão Artística Francesa, em 1817, que deu origem à Academia Imperial de Belas Artes – futura Escola Nacional de Belas Artes.
A exposição “O retrato do rei dom João VI” dá início a uma série de eventos comemorativos do bicentenário da independência do Brasil e do centenário do MHN em 2022.
Acompanha a mostra um catálogo de 160 páginas, com texto do curador e imagens de todas as peças da exposição. O lançamento da publicação acontece na semana anterior ao encerramento do evento.
Emprestaram obras para a mostra: Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty, Pinacoteca de São Paulo, Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, Museu Paranaense, Museu Banco do Brasil, Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Museu da Medicina da Faculdade de Medicina da UFRJ, Museu da Inconfidência, Museu Nacional de Belas Artes, Museu Imperial, Museu Paulista, Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo (Évora, Portugal), Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa, Portugal), Museu Dom João VI e colecionadores particulares.
A realização é do Museu Histórico Nacional e Instituto Brasileiro de Museus, com o patrocínio da EDP – por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura/Ministério da Cultura.
Co-patrocinam a exposição o Instituto São Fernando, com a colaboração do Ministério da Cultura de Portugal e apoio da Embaixada de Portugal no Brasil, Instituto Camões em Brasília e Associação de Amigos do MHN. A produção é da Artepadilla.
Serviço
Exposição “O retrato do rei dom João VI”
Período 30 de novembro de 2018 a 17 de fevereiro de 2019
Abertura 29 de novembro, às 11h30
Museu Histórico Nacional – Praça Marechal Âncora S/N
Centro Rio de Janeiro, RJ
Visitação terça a sexta, 10h às 17h30; sábado, domingo e feriado, 13h às 17h
Ingressos R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Entrada gratuita aos domingos
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Informações 21 3299 0324 (recepção)