Da Redação
Um menino belga vítima de afogamento numa piscina, numa casa de férias na última terça-feira, na aldeia da Portela, concelho de Setúbal, morreu no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.
O menino, de 7 anos, ficou preso por um braço num ralo de aspiração da piscina, ficou submerso por pelo menos 15 minutos, enquanto familiares tentavam o socorrer, até ser retirado do local pelos bombeiros e reanimado por uma equipe de emergência médica.
Transportado em estado considerado muito grave para o Hospital Dona Estefânia, o menino belga acabou falecendo na unidade hospitalar.
O jornal Expresso divulgou a íntegra de uma carta assinada pelos pais do menino, em que pedem investigação do caso, apontando que apenas uma tampa de ralo teria evitado a morte do filho, e acusando os responsáveis da unidade de turismo rural de não cumprir requisitos básicos de segurança.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) também já confirmou que instaurou um inquérito sobre a morte da criança e está a correr nos termos no Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa (DIAP).
Confira o comunicado na íntegra:
“Dos acontecimentos da passada terça-feira, dia 17 de julho, no Arrábida Country Retreat
Terminaríamos as nossas férias em Portugal na terça-feira, dia 17 de julho. Passeámos pelo país durante quinze dias com uns amigos nossos e com os seus filhos. Deixaríamos a villa depois de almoço para irmos para o aeroporto e regressarmos à Bélgica.
O meu marido saiu de manhã cedo, de carro, para levar as nossas malas para casa. Vic e as outras crianças brincavam juntos na piscina. A nossa amiga estava sentada junto à piscina e eu estava a preparar a mesa, perto da piscina, com o marido dela.
Enquanto o Joris e o Vic davam uns mergulhos, Joris reparou logo que o Vic tinha ficado preso num buraco no fundo da piscina, na parte mais funda da mesma, com pelo menos 1,90 metros de profundidade. Saltámos todos imediatamente para a piscina para o ajudar, mas era impossível soltá-lo.
Tentámos repetidas vezes (nas primeiras tentativas, o Vic ainda estava vivo e a mexer-se, a tentar soltar-se)… Eu entrei em pânico porque era evidente que não o conseguíamos tirar, mas continuámos a tentar.
Ligámos para o 112, a nossa chamada foi transferida 5 vezes até conseguirmos falar com alguém que falasse inglês. Fomos à procura do quadro de eletricidade para desligarmos o filtro, mas não conseguimos encontrar nada de útil no quadro. Ninguém sabia onde se encontrava a instalação da piscina.
Eu liguei para a BE@home – empresa responsável pela propriedade Arrábida Country Retreat (Alojamento Local), selecionada pela nossa agência de viagens – e, ao telefone, gritei que o meu filho tinha ficado preso no filtro e estava a morrer na piscina. Eles disseram-me para permanecer calma e que alguém iria imediatamente (chegaram ao mesmo tempo que os bombeiros). Nada disseram relativamente à instalação que poderíamos desligar…
Nesse momento percebi que não conseguiríamos tirar o Vic sozinhos, enquanto ele continuava no fundo da piscina, já sem se mexer… Eu queria que os serviços de emergência chegassem o mais rápido possível, por isso comecei a correr descalça para a estrada para lhes indicar o caminho. Gritei o mais alto que consegui para que eles me ouvissem e encontrassem o caminho mais facilmente.
Os bombeiros chegaram primeiro e dois deles tentaram soltar o Vic, sem sucesso. Começaram à procura da instalação, que parecia estar numa pequena casa na estrada de acesso que se encontrava trancada. Os bombeiros arrobaram a porta, desligaram o sistema do filtro e finalmente conseguiram soltar o Vic. Penso que terá ficado debaixo de água durante 15-20 minutos.
Começaram as técnicas de reanimação e trouxeram-no de volta após 40-45 minutos. Depois dos bombeiros, chegou a polícia e depois disso a ambulância e um carro com o médico de emergência. O Vic foi levado para o Hospital Dona Estefânia onde foi imediatamente recebido pela equipa da unidade de cuidados intensivos pediátricos com carinho e com o melhor tratamento possível.
Deixaram claro que o Vic estava gravemente ferido. Prometeram tentar tudo para o trazerem de volta, mas não tinham a certeza se conseguiriam e, caso conseguissem, em que estado se encontraria…mas ele não sobreviveu. No sábado, dia 21 de julho, a ressonância magnética demonstrava que o cérebro do Vic estava gravemente afetado, incluindo o tronco cerebral, e tudo apontava para que estivesse em morte cerebral. Segunda-feira, dia 23, morreu nos nossos braços pela segunda vez.
O filtro devia estar tapado! A aspiração era tão forte que ele nunca teve qualquer hipótese…é inacreditável que isto pudesse acontecer quando uma simples tampa o podia ter evitado… Emitimos este comunicado para garantir que será levada a cabo uma investigação rigorosa deste caso e que serão tomadas medidas para impedir que esta tragédia aconteça com outra família.
Os Pais do Vic,
Ansie van Aerschot
Michael Wanzeele”