Da Redação
Uma pesquisa realizada pela Edelman mostra que 61% dos brasileiros assumem descartar alimentos em perfeito estado para serem consumidos – 49% fazem isso diariamente.
O fenômeno chamado de “cegueira da geladeira” atinge cerca de 75% dos brasileiros. O grande problema está na falta de inspiração (81%). Muitos olham para a geladeira, mas não sabem o que cozinhar ou comer (78%).
Dentre os alimentos mais desperdiçados estão os perecíveis: saladas (74%), vegetais (73%) e frutas (73%).
Somente no Brasil são descartadas cerca de 41 mil toneladas diariamente, o que daria para alimentar 25 milhões de pessoas por dia, ou seja, 13% da população do País.
A conclusão da pesquisa mostra que o tempo é curto, a criatividade é pouca e a tentação de usar o serviço de delivery ou ir a um restaurante é grande, mas há várias opções de ingredientes em perfeitas condições para serem consumidos.
“Temos percebido que a vida atribulada e o tempo reduzido dentro de casa têm feito com que os brasileiros tenham cada vez menos intimidade com a cozinha. Nesse contexto, ter ideias de como combinar ingredientes pode ser um desafio e tanto”, afirma Marina Fernie, vice-presidente da área de alimentos da Unilever no Brasil.
De acordo com o diretor do Centro de Excelência contra a Fome e representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas no Brasil, Daniel Balaban, 750 bilhões de dólares é o custo anual do desperdício de alimentos.
São 1,3 bilhão de toneladas de alimentos desperdiçados ou perdidos ao longo das cadeias produtivas. Este volume representa 33% de toda a comida produzida por ano ao redor do planeta. Segundo a ONU, o desperdício corresponde a 46% da quantidade de comida que vai parar no lixo, enquanto as perdas – que acontecem principalmente nas fases de produção, armazenamento e transporte – representam 54% do total.
Atualmente, o Brasil destaca-se de maneira negativa nesse cenário. A Organização das Nações Unidas para Alimentação (FAO) coloca o Brasil na lista dos dez países que mais desperdiçam comida no mundo. Para tentar reverter esse quadro, empresas têm desenvolvido ações para minimizar ao máximo o desperdício e criar soluções para que as sobras cheguem a quem precisa – segundo a FAO, atualmente 14 milhões de pessoas passam fome no Brasil.
Contra o desperdício
Considerando o ciclo do alimento desde que se pensa em levá-lo para casa até o momento do consumo ou descarte, o primeiro passo é o planejamento sobre o que e quanto comprar. Grande parte dos entrevistados diz passar por esta etapa importante (79%), o que não impede que mesmo assim jogue fora de um a dois itens da geladeira por dia (47% dos que planejam o que comprar).
Esse resultado provavelmente também se explica por conta de outros passos mal dados. O momento da escolha e a compra dos produtos são alguns deles: 54% assumem comprar comida demais. Dentre as razões, estão pais que adquirem opções extras para tentar satisfazer o gosto de diferentes membros da família (37%) ou pessoas que compram alimentos diferentes dos habituais para testar, mas acabam não gostando e jogando fora (31%).
Uma vez dentro de casa, outro ponto importante é o armazenamento dessa comida. 91% dizem armazenar os alimentos de forma correta, mas ainda assim têm dúvidas importantes e que podem impactar no resultado final. 23%, por exemplo, ao comprarem a comida nova não querem que ela fique no mesmo ambiente que a antiga e, por isso, descartam a segunda.
Outros 31% dizem não saber como manter a comida fresca por um longo período e 25% não sabem como manter a comida fresca depois de comprá-la.
No momento de preparo, há mais uma vez o difícil desafio de calcular a quantidade correta para o número de pessoas que irá se alimentar. Quase metade tem falhado nesse quesito: 46% assumem cozinhar comida demais e acabam tendo que jogar parte fora.
Além do exagero na quantidade, o fato de a comida preparada não ter ficado com um gosto bom (53%) ou a pessoa esquecer de levar a sobra para almoçar no trabalho no dia seguinte (29%) são outras razões apontadas para o desperdício.
Na hora de decidir o que fica na geladeira e o que vai para a lixeira, o que mais impacta o brasileiro é a questão sensorial (cheiro e aparência, por exemplo). 85% jogam a comida fora porque “não parece estar boa”. Outra razão importante é o prazo de validade expirado (83%).
Jogar comida fora quase que diariamente não significa que os brasileiros não se sintam mal sobre isso. 80% assumem sentir culpa e, ao entenderem como lidam com a cegueira da geladeira, 98% afirmam que pretendem se esforçar para combater o hábito. “Hoje, o consumidor é mais consciente sobre sua responsabilidade na cadeia de desperdício e está disposto a mudar, mas precisa de estímulos e ferramentas para isso”, complementa Marina Fernie.
Dentre as principais iniciativas para mudar esse cenário, olhar na geladeira e saber exatamente o que tem e o que precisa ser adquirido antes de ir às compras foi a mais indicada pelos entrevistados – 64% deles. Ainda aparecem com destaque o planejamento da comida que deve ser comprada para que não haja excessos (61%) e o acompanhamento mensal/semanal do uso da comida e do que sobra na geladeira (55%).
A pesquisa, encomendada pela Unilever e conduzida pela Edelman, entrevistou 4.000 pessoas, sendo 2.000 americanos, 1.000 brasileiros e 1.000 argentinos, entre 18 e 64 anos, no período de agosto a setembro de 2017.