Greve deixa estações vazias, comboios parados e passageiros descontentes

Mundo Lusíada
Com Lusa

Estações quase vazias, comboios suprimidos e passageiros descontentes era o cenário da manha desta segunda-feira nas estações de Sete Rios e Santa Apolónia, em Lisboa, devido à greve dos trabalhadores do setor ferroviário. Nas duas estações, o cenário era idêntico: placards com informação sobre comboios suprimidos e alteração de horários, mensagens sonoras de pedidos de desculpa e informações.

Alguns passageiros desconheciam a existência da greve e foram apanhados desprevenidos, outros, apesar de saberem, arriscaram na esperança de “conseguirem um comboio”.

Também em Santa Apolónia, Luís Bravo, do Sindicato Ferroviário da Revisão e Comercial itinerante (SFRCI), dizia à Lusa que a adesão à greve estava a ser, cerca das 10h30, elevada. De acordo com Luís Bravo, a taxa é enorme em todo o país, havendo 85% de comboios parados.

“Há uma adesão massiva à greve. Os trabalhadores da aérea comercial estavam [a aderir] a 100% quer na bilheteira, quer da revisão e chefias diretas. Teremos alguns comboios a circular com dois maquinistas que estão a sofrer grandes pressões para violar a lei da greve. Por isso, quero fazer um agradecimento público aos maquinistas que não cederam às pressões”, disse.

“Na Linha de Cascais temos 100%, Sintra 98% e no resto do país da ordem dos 90/95%”, disse.

Os trabalhadores ferroviários da CP, Medway e Takargo estão esta segunda-feira em greve contra a possibilidade de circulação de comboios com um único agente. Os sindicatos consideram que “a circulação de comboios só com um agente põe em causa a segurança ferroviária — trabalhadores, utentes e mercadorias”, e defendem, por isso, que “é preciso que não subsistam dúvidas no Regulamento Geral de Segurança (RGS)”.

No domingo, o Governo disse que a greve na CP “não tem justificação material” e explica que os sindicatos marcaram a paralisação contra um regulamento que existe desde 1999, que nunca foi alterado e nem vai ser. Em declarações à Lusa, Luís Bravo disse não entender as declarações do secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme d´Oliveira Martins.

“Não entendemos as declarações do secretário de Estado ao dizer que o regulamento é de 1999 quando não quis [colocar] no papel preto no branco no regulamento que fez publicar a 30 de abril que irá definir as regras segurança ferroviárias (…)”, disse.

Luís Bravo salientou que os trabalhadores continuam dispostos a dialogar e pediu desculpa aos utentes que esta segunda-feira foram afetados pela paralisação. Uma fonte da CP adiantou de manhã à Lusa que a greve dos trabalhadores ferroviários parou quase 100% dos comboios urbanos de Lisboa, 72% dos do Porto e regionais e 66% das ligações internacionais.

Os dados recolhidos pela CP indicavam que entre as 00:00 e as 8:00 a greve suprimiu 10 ligações internacionais (66%), 60 comboios regionais (72%), 114 comboios urbanos de Lisboa (98%) e 36 urbanos do Porto (72%).

Fazendo um balanço à agência Lusa perto das 12:30, o presidente do SFRCI disse que “a adesão é total, havendo apenas pressão sobre alguns maquinistas para vir substituir os revisores em greve”, mas como “a maior parte deles, felizmente, não aceitou” a taxa de adesão ronda os 85% em todo o país.

Luís Bravo denunciou também ilegalidades: “O comboio alfa [pendular] das 12:00 saiu com um maquinista como agente de acompanhamento e informado de que havia três clientes em cadeira de rodas na gare para embarcar, [os funcionários] saíram com o comboio e deixaram esses clientes em terra”.

“Era o maquinista titular do comboio e um a substituir o revisor em greve e estava a fazê-lo de forma ilegal, [além de que] não cumpriu com as funções do revisor”, reforçou o sindicalista, vincando que “isto é lastimável”. “Se houvesse um revisor, estas pessoas não tinham ficado em terra, e é esse o nosso trabalho do dia a dia, é facilitar a mobilidade destes senhores”, notou, lamentando que “o Governo quer abandonar” estas pessoas com mobilidade condicionada.

A agência Lusa tentou contactar a CP sobre esta situação, mas até ao momento não recebeu qualquer esclarecimento.

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