Por Daniel Bastos
Na sua recente passagem por Lisboa, para participar no Diálogo de Legisladores Luso-Americanos da FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento), o presidente do CPAC – Califórnia Portuguese American Coalition, um grupo de lóbi pró português criado em 2016, concedeu ao Diário de Notícias uma entrevista elucidativa sobre a realidade sociopolítica dos jovens lusodescendentes nos Estados Unidos.
Ao longo da entrevista num dos títulos incontornáveis no panorama da imprensa nacional, Diniz Borges, que é também professor e cônsul honorário de Portugal em Tulare, na Califórnia, manifesta a sua inquietude perante a forma como os jovens lusodescendentes nos Estados Unidos “entram num trumpismo que vai contra os princípios” portugueses.
Não se coibindo de criticar o discurso anti-imigração do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, responsável por “uma clivagem entre os imigrantes”, Diniz Borges, revela que ao mesmo tempo que se orgulham das suas raízes portugueses, muitos jovens lusodescendentes procuram passar uma mensagem que as histórias das suas famílias são diferentes das dos outros imigrantes, mormente dos hispânicos. Nas palavras do presidente do grupo de lóbi pró português na Califórnia “Tentam dizer que os pais ou os avós foram imigrantes mas não assim. Vieram legais”.
A retórica e encantamento de jovens lusodescendentes pelo discurso anti-imigração está longe de ser um exclusivo da atual realidade norte-americana. A mesma encontra-se muito presente, por exemplo, em França, onde foi notória nas últimas eleições presidenciais a disposição de muitos jovens lusodescendentes para votarem na extrema-direita liderada por Marine Le Pen, que teve claramente em Donald Trump um aliado e uma motivação supletiva durante o ato eleitoral de abril de 2017.
Nesse sentido, a chamada de atenção de Diniz Borges, ele próprio filho de emigrantes açorianos, sobre a sedução do discurso populista de Donald Trump nos jovens lusodescendentes nos Estados Unidos, ou o feitiço de Marine Le Pen entre os jovens com raízes na comunidade portuguesa em França, tem que ser devidamente tido em conta e dissipado. As jovens gerações de lusodescendentes espalhadas pelos quatro cantos do mundo não podem olvidar que a história coletiva das suas raízes familiares entronca na clandestinidade, em vários casos, e na busca comum de uma vida melhor.
Por Daniel Bastos
Historiador português, autor de “Gérald Bloncourt – O olhar de compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores”