Da Redação
Com agencias
Pela primeira vez o Brasil sedia o 8° Fórum Mundial da Água, e nesta tarde de 19 de março, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, foi lançado durante o evento o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018.
O documento destaca soluções baseadas na natureza como forma de melhorar a gestão hídrica. A chamada infraestrutura verde resume-se em preservar as funções dos ecossistemas, tanto natural como artificialmente, apostando em engenharia ambiental em vez de engenharia civil para melhorar a gestão dos recursos hídricos. As ações devem ser adotadas tanto no campo quanto na cidade.
Na prática, ampliar a cobertura vegetal, a recomposição de solos e a proteção das bacias hidrográficas garante o aumento da quantidade e da qualidade da água e do acesso a todos esses recursos. Além disso, diminui os desastres naturais.
De acordo com o governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg, que participou do lançamento, essa é a primeira vez que se divulga o documento no Brasil. “Precisamos de informações científicas para, cada vez mais, utilizando essa troca de experiências entre comunidades do mundo todo, podermos formular políticas públicas duradouras, democráticas e que possam servir às populações de todos os países.”
Segundo a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Audrey Azoulay, nos próximos dias o relatório será divulgado em outros 30 países. “Esse documento tem o objetivo de auxiliar nos caminhos em que queremos andar e em investir nas estruturas corretas”, disse. “Todos nós sabemos dos benefícios das soluções baseadas na natureza, mas não investimos nelas.”
Audrey ressaltou que, se nada for feito, em 2050, cerca de 5 bilhões de pessoas viverão em áreas com baixo acesso à água.
O relatório reconhece a água como parte integrante de um processo natural, que envolve evaporação, precipitação e absorção pelo solo.
Publicado anualmente, ele tem o objetivo de abranger o estado dos recursos de água potável no mundo e propor ações sustentáveis para garantir a boa gestão.
No setor agrícola, estima-se que a produção possa aumentar em cerca de 20% em todo o mundo se forem utilizadas práticas mais verdes de gestão da água.
Estudo citado pelo relatório avaliou projetos de desenvolvimento agrícola em 57 países de baixa renda e descobriu que o uso mais eficiente da água, combinado com a redução do uso de pesticidas e com melhorias na cobertura do solo, aumentou o rendimento das colheitas em 79%.
Apesar de o setor da agricultura ser o maior consumidor de água, práticas verdes na cidade também são reconhecidas e variam desde paredes verdes e jardins suspensos a medidas para coletar e reciclar água. Na China, por exemplo, o projeto Cidade Esponja melhora a disponibilidade do recurso em aglomerados urbanos.
Serão 16 regiões-pilotos no país asiático com o objetivo de reciclar 70% da água da chuva por meio de uma maior permeação do solo por retenção e armazenamento e pela purificação da água e restauração de zonas úmidas adjacentes.
Crescimento sustentável depende do acesso à água
Na abertura do evento, o presidente Michel Temer disse que o crescimento sustentável está “intimamente ligado” ao acesso à água. Ele reafirmou o compromisso do Brasil com essa questão e disse que os trabalhos visando à sustentabilidade hídrica requerem “ações permanentemente integradas em nossos países e entre nossos países”.
“O acesso à água está intimamente ligado à capacidade de crescer de forma sustentável. Em nome do futuro da humanidade, é nossa obrigação compartilhada buscar o desenvolvimento sustentável em todas suas vertentes. O consenso é de que a vida na Terra estará ameaçada se não respeitarmos os limites da natureza”, disse o presidente em seu discurso de abertura, no Itamaraty, ao lado de chefes de Estado que participaram do fórum.
Temer afirmou que o compromisso brasileiro com a questão ambiental foi reforçado a partir da conferência Rio 92, quando conceitos foram definidos, e depois na Rio+20. “Estamos firmemente empenhados em implementar essa agenda, e reafirmamos isso no 8º Fórum Mundial da Água”, disse o presidente, ao destacar a necessidade de diagnósticos precisos e ações coordenadas para melhor desenvolver essas políticas.
“A sustentabilidade hídrica requer ações permanentemente integradas em nossos países e entre nossos países. Se nos fecharmos em nós mesmos e se atuarmos de forma desarticulada, todos pagaremos o preço”, acrescentou.
Temer lembrou que há no mundo cerca de 2 bilhões de pessoas sem uma fonte segura de água em suas casas e sofrendo com a falta de saneamento. Além disso, acrescentou o presidente, há 260 milhões de pessoas que precisam andar mais de meia hora para ter acesso à água.
Em relação ao saneamento básico, o presidente indicou que o governo prepara um marco regulatório para buscar novos investimentos. “Nossa atenção volta-se, com muita naturalidade, para o saneamento, em que tanto há ainda por fazer. Nós estamos ultimando projeto de lei com vistas a modernizar nosso marco regulatório do saneamento e incentivar novos investimentos. O que nos move, naturalmente é a busca da universalização desse serviço básico”, disse.
Segundo Temer, embora o governo tenha se empenhado para enfrentar, nos últimos anos, uma das maiores recessões de sua história, esse trabalho ocorreu “sempre com olhos postos na sustentabilidade”. O presidente citou o programa Plantadores de Rios, a proteção das florestas e a reversão da curva do desmatamento na Amazônia como fatores que colocam “a segurança hídrica no centro de nossas políticas”.
Vila Cidadã tem atrações gratuitas
Está aberta em Brasília desde sábado a Vila Cidadã, espaço do Fórum Mundial da Água aberto ao público com atrações das 9 às 21 horas. A área tem mais de 10 mil metros quadrados e fica no estacionamento do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha.
Para ter acesso à Vila, basta se credenciar no site oficial. O registro pode ser feito no local, mas, de acordo com a organização, o envio antecipado dos dados ajuda a evitar filas.
Criado em 1996 pelo Conselho Mundial da Água, o fórum foi idealizado para estabelecer compromissos políticos acerca dos recursos hídricos.
O evento é organizado no Brasil pelo Conselho Mundial da Água; pelo Ministério do Meio Ambiente, representado pela Agência Nacional de Águas (ANA); e pelo governo do Distrito Federal, representado pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa).