Da Redação
Com Lusa
A agência de notação financeira Moody’s prevê que a dívida pública de Angola suba para mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano, crescendo 10 pontos percentuais só desde outubro.
“A dívida global de Angola face ao PIB já subiu 10 pontos percentuais para além do nível que a Moody’s antecipava em outubro de 2017”, quando a agência de notação financeira desceu o ‘rating’ do país para B2, ainda mais abaixo na recomendação de não investimento, escrevem os analistas na nota que acompanha a decisão de colocar a avaliação da qualidade do crédito em revisão negativa.
O aumento da dívida pública angolana deveu-se essencialmente “à depreciação do kwanza face ao dólar e ao apoio financeiro dado às empresas públicas no ano passado”, o que faz com que a Moody’s estime que a dívida pública tenha chegado aos 74 mil milhões de dólares, cerca de 66% do PIB, no final do ano passado”.
Isto, “juntamente com o ajustamento cambial em curso e com a eliminação de 5 mil milhões de dólares em atrasos a fornecedores, [faz com que] o rácio da dívida deva ultrapassar os 70% no final deste trimestre”.
A agência de notação financeira Moody’s colocou o ‘rating’ de Angola sob revisão para descida devido à degradação da balança de pagamentos e ao aumento das necessidades de financiamento devido à assunção da dívida da Sonangol.
“A decisão de colocar o ‘rating’ em revisão para a descida foi desencadeada pela deterioração da balança de pagamentos do Governo e o aumento das necessidades de financiamento”, lê-se na nota que acompanha o anúncio.
Na base da decisão está a “erosão das principais métricas de crédito, que passaram a ser consistentes com um ‘rating’ mais baixo”, dizem os analistas, vincando que uma das preocupações principais no período de análise da possível descida “será a avaliação da capacidade e da vontade do Governo em lidar com a sustentabilidade da trajetória da dívida”.
Além da erosão dos principais indicadores, a Moody’s salienta que “a pressão mais imediata sobre o perfil de crédito de Angola reflete as crescentes pressões de liquidez e o cada vez mais difícil desafio de obter o financiamento necessário para garantir as elevadas necessidades de financiamento do Governo a preços geríveis”.
O custo dos juros da dívida, ou seja, o valor que Angola paga só em juros sobre o dinheiro que pediu emprestado ou sobre as emissões que fez “chegaram quase a 21% em 2017, subindo face aos 16% de 2016, e a Moody’s estima que vão aumentar ainda mais em 2018”.
Durante o período de avaliação, esta agência de notação financeira diz que vai “avaliar a estratégia do Governo para, primeiro, financiar, e depois reduzir estas necessidades de financiamento muito elevadas”.
Para manter a avaliação da qualidade do crédito soberano de Angola, a Moody’s diz que teria de “concluir que a resposta política do Governo iria gerir eficientemente os riscos que surgem da tendência de subida da dívida do Governo e dos riscos de liquidez, deixando Angola com um perfil de crédito consistente com os outros países com classificação de B2”.