Portugal está redescobrindo o Brasil, diz ministro da Cultura

Em entrevista exclusiva ao Mundo Lusíada, o ministro brasileiro da Cultura, Juca Ferreira falou sobre o ano do Brasil-Portugal, que acontece simultaneamente em ambos países em 2012 e as cooperações entre os países de língua portuguesa.

 

Por Vanessa SeneMundo Lusíada

 

Divulgação/MinC

>> O ministro brasileiro da Cultura, Juca Ferreira.

 

O 2012 será o ano de Brasil em Portugal e de Portugal no Brasil. Os Ministérios da Cultura de ambos países já estão em contato para elaborar a programação desta iniciativa, que ainda está sendo iniciada. A ação consiste em um ano de promoção da cultura, literatura, música, cinema, gastronomia de um país no outro, através de iniciativas que visam dar a conhecer ao público local um pouco mais de Portugal no Brasil, e do Brasil em Portugal.Em entrevista ao Mundo Lusíada, o ministro brasileiro da Cultura, Juca Ferreira, falou sobre esta iniciativa e sobre a cooperação bilateral com o país europeu, que segundo ele, está no “DNA do Brasil”.

Em maio de 2010, o ministro Juca Ferreira esteve em Portugal, em encontros com a ministra lusa da Cultura, Gabriela Canavilhas, para tratar da promoção da Língua Portuguesa. Além da realização dos eventos Ano do Brasil em Portugal e Ano de Portugal no Brasil, ficou decidido o 1º Congresso de Cultura dos Países de Língua Portuguesa.

Ainda na sua viagem à Portugal, foram firmadas, entre Juca Ferreira e a presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, propostas voltadas para a promoção do intercâmbio cultural entre Brasil e Portugal, em iniciativas como o 3º Festival de Teatro de Língua Portuguesa, ocorrido em julho no Rio de Janeiro, que reuniu companhias da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Brasil.

O plano de intenções do Ministério da Cultura para as reuniões no país luso, assim como a política de trabalho do Instituto, prioriza a divulgação da língua e cultura portuguesas no estrangeiro e a promoção do português como língua de comunicação internacional.

A programação dos anos de Brasil e Portugal acontece simultaneamente nos dois países em 2012, com uma agenda cultural repleta. Confira a entrevista com o ministro da Cultura, Juca Ferreira.ML – O que o Brasil já concretizou para o ano do Brasil em Portugal e de Portugal no Brasil?No Brasil estamos vivendo uma transição do governo Lula para o governo Dilma, que apesar de ser uma continuidade no seu ponto de vista político, não deixa de ser uma transição. Evidentemente devemos estar abertos para permitir que o novo governo que se forme defina o que vai ser feito em 2012.ML – Os eventos também contarão com outros países de língua portuguesa?Com certeza. Acho que este tipo de ação pode se tornar uma grande articulação entre os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em várias áreas, principalmente na cultural, é claro. É importante dar vida a essas relações, fazer com que essa articulação seja um fator de desenvolvimento para todos Os países e que possibilite que a gente viva o mundo da língua portuguesa de maneira mais intensa.ML – Quais iniciativas em pauta na agenda luso-brasileira para uma maior interação da cultura portuguesa no Brasil?Eu vejo, por exemplo, a possibilidade de ampliarmos e dinamizarmos a promoção da língua portuguesa. Também vislumbro a possibilidade de cooperação técnica nas áreas de patrimônio, memória, museu, desenvolvimento das artes, regulação de direito autoral e também em uma infinidade de outras áreas. Até mesmo o intercâmbio pode ser uma possibilidade de o Brasil ter uma convivência mais próxima com os intelectuais e artistas portugueses. O mercado faz um pouco, mas é muito aquém do que o Portugal representa para o Brasil e o Brasil representa para Portugal.ML – Atualmente a difusão da cultura brasileira em Portugal é maior do que a cultura portuguesa no Brasil. O ministro vê essa questão como um resultado de trabalho do próprio Ministério?Não é. Na realidade isso é o que chega espontaneamente no país. É preciso constituir políticas. Porque, mesmo considerando de que possa ser maior, é pouco em relação às possibilidades. Durante o período de formação da União Européia, Portugal se voltou mais para sua integração, o que é natural. Agora que Portugal está redescobrindo o Brasil e o Brasil tem uma compreensão da importância cultural de Portugal para o Brasil. Acho que a gente tem possibilidades imensas que devem ser pensadas a médio e longo prazo. Ou seja, que ultrapasse o ano do Brasil em Portugal ou o ano de Portugal no Brasil.ML – Como o ministro vê a importância de um projeto como estes, sendo simultâneo nos dois países ?A importância se deve, principalmente, por causa dos vínculos profundos que temos com Portugal. Portugal está no DNA do Brasil. Nosso país é hoje um grande parceiro de Portugal, em todos os aspectos. Mas precisamos estreitar mais os vínculos culturais, há pouco fluxo cultural. O mercado não é capaz de satisfazer essa necessidade e é preciso que as políticas culturais do Brasil e de Portugal tenham a capacidade de gerar esse intercâmbio, cooperação técnica e ações conjuntas. ML – Portugal tem o Brasil como a sua maior aposta na Cultura, entre os países de língua portuguesa. Qual a maior aposta do Brasil?A maior aposta do Brasil nessa área é o fortalecimento de toda a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Os países africanos foram importantíssimos para nós e também estão no DNA do Brasil, apesar de sermos fruto da colonização portuguesa. A vinda dos africanos como escravos trouxe na formação do Brasil o componente africano, assim como dos povos originários. Acredito que o nosso país não pode ser compreendido sem essas matrizes. Ainda vou mais longe: hoje o Brasil tem imigrantes de todas as partes do mundo e eles fazem parte da nossa formação. Os vínculos do Brasil com Portugal são tão intensos quanto os vínculos com países africanos e, portanto, é importante que a gente pense na CPLP como uma construção bastante harmoniosa em todos esses países.

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